quarta-feira, 5 de junho de 2024

Deus e o próximo são as duas faces do mesmo amor

Deus e o próximo são as duas faces do mesmo amor, duas vias do mesmo caminho | 372 | 06.06.24 | Mc 12,28-34

A cena oferecida à nossa escuta e meditação de hoje, mesmo parecendo mais tranquila que as anteriores, faz parte das armadilhas que os chefes do judaísmo reiteradamente colocam a Jesus com a intenção de acusá-lo. Está também no contexto das tensas disputas teológicas e políticas com eles. Não esqueçamos que estes confrontos ocorrem no ambiente do templo, espaço capturado e controlado pela elite política e religiosa do qual Jesus já havia expulsado os comerciantes. Este é o último confronto de Jesus antes da sua prisão, e representa seu clímax.

No centro da disputa de hoje está a questão do primeiro ou do principal mandamento da religião e da ética judaica. Desta vez, o debatedor é um mestre da lei, que disfarça sua intenção ardilosa falando num tom bastante simpático. Ele pergunta pelo “primeiro de todos os mandamentos”. Jesus responde no horizonte de uma ortodoxia cautelosa, mas se atreve a juntar ao mandamento de amar a Deus (cf. Dt 6,4-13), conhecido e aceito, o mandamento de amar ao próximo (cf. Lv 19,18), menos consensual e motivo de infinitas disputas. “Não existe outro mandamento maior que estes!” Jesus reúne dois elementos separados em um só!

É importante perceber ainda que, no rol das escrituras judaicas, o mandamento “ame ao seu próximo como a si mesmo” não vem isolado. No Antigo testamento, ele está situado no interior de um conjunto mais amplo de normas que se opõem às práticas de opressão, exploração e indiferença em relação ao próximo ou ao estrangeiro (cf. Lv 19,9-18), que segundo Jesus, são violadas abertamente pelos escribas. Para Jesus, o céu precisa vir à terra, e a terra é o único caminho para o céu. Para ele, a vontade de Deus é que os dois mandamentos são um só. Não há lugar para escapismos e espiritualismos de qualquer espécie.

O texto termina dizendo que ninguém mais se atrevia a apresentar armadilhas a Jesus. Ele venceu todos os seus opositores: expulsou os comerciantes do templo, enfrentou as ciladas de fariseus e saduceus sem cair nelas, questionou a legitimidade e os privilégios dos chefes, assumiu seu papel de mestre. Com sua prática e sua pregação, restou o Deus de Israel do sequestro tramado pelos controladores da fé. Em síntese, “amarrou os homens fortes e reconquistou sua casa” (cf. Mc 3,27).

 

Meditação:

·        Situe-se no interior da cena, diante de Jesus e do escriba, especialista nos mandamentos

·        O escriba parece candidato a discípulo, seu tom é simpático, mas é ardiloso e enganador, como os anteriores

·        Estaríamos nós também comprometidos com a manutenção dos sistemas de dominação, buscando na religião legitimação para eles?

·        Perceba a novidade corajosa de Jesus: ele une o amor a Deus e o amor ao próximo, como ninguém havia feito antes, e faz dos dois um só mandamento, uma moeda com dois lados

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