Deus e o próximo são as duas faces do mesmo amor, duas vias do mesmo
caminho | 372 | 06.06.24 | Mc 12,28-34
A cena oferecida à nossa escuta e meditação de hoje,
mesmo parecendo mais tranquila que as anteriores, faz parte das armadilhas que
os chefes do judaísmo reiteradamente colocam a Jesus com a intenção de
acusá-lo. Está também no contexto das tensas disputas teológicas e políticas
com eles. Não esqueçamos que estes confrontos ocorrem no ambiente do templo, espaço
capturado e controlado pela elite política e religiosa do qual Jesus já havia
expulsado os comerciantes. Este é o último confronto de Jesus antes da sua
prisão, e representa seu clímax.
No centro da disputa de hoje está a questão do
primeiro ou do principal mandamento da religião e da ética judaica. Desta vez,
o debatedor é um mestre da lei, que disfarça sua intenção ardilosa falando num
tom bastante simpático. Ele pergunta pelo “primeiro de todos os mandamentos”.
Jesus responde no horizonte de uma ortodoxia cautelosa, mas se atreve a juntar
ao mandamento de amar a Deus (cf. Dt 6,4-13), conhecido e aceito, o mandamento
de amar ao próximo (cf. Lv 19,18), menos consensual e motivo de infinitas
disputas. “Não existe outro mandamento maior que estes!” Jesus reúne dois
elementos separados em um só!
É importante perceber ainda que, no rol das
escrituras judaicas, o mandamento “ame ao seu próximo como a si mesmo” não vem
isolado. No Antigo testamento, ele está situado no interior de um conjunto mais
amplo de normas que se opõem às práticas de opressão, exploração e indiferença
em relação ao próximo ou ao estrangeiro (cf. Lv 19,9-18), que segundo Jesus,
são violadas abertamente pelos escribas. Para Jesus, o céu precisa vir à terra,
e a terra é o único caminho para o céu. Para ele, a vontade de Deus é que os
dois mandamentos são um só. Não há lugar para escapismos e espiritualismos de
qualquer espécie.
O texto termina dizendo que ninguém mais se atrevia a apresentar
armadilhas a Jesus. Ele venceu todos os seus opositores: expulsou os
comerciantes do templo, enfrentou as ciladas de fariseus e saduceus sem cair
nelas, questionou a legitimidade e os privilégios dos chefes, assumiu seu papel
de mestre. Com sua prática e sua pregação, restou o Deus de Israel do sequestro
tramado pelos controladores da fé. Em síntese, “amarrou os homens fortes e
reconquistou sua casa” (cf. Mc 3,27).
Meditação:
·
Situe-se no
interior da cena, diante de Jesus e do escriba, especialista nos mandamentos
·
O escriba
parece candidato a discípulo, seu tom é simpático, mas é ardiloso e enganador,
como os anteriores
·
Estaríamos
nós também comprometidos com a manutenção dos sistemas de dominação, buscando
na religião legitimação para eles?
·
Perceba a
novidade corajosa de Jesus: ele une o amor a Deus e o amor ao próximo, como
ninguém havia feito antes, e faz dos dois um só mandamento, uma moeda com dois
lados
Nenhum comentário:
Postar um comentário