sábado, 15 de junho de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - 16.06.2024

A VIDA COMO UM PRESENTE

Quase tudo hoje nos convida a viver sob o signo da atividade, da programação e do rendimento. Nisso, há poucas diferenças entre o capitalismo e o socialismo. No momento de avaliar a pessoa, sempre se acaba por medi-la pela sua capacidade de produção.

Pode-se dizer que a sociedade moderna alcançou a convicção prática de que, para dar à vida o seu verdadeiro sentido e o seu conteúdo pleno, a única coisa importante é tirar o máximo rendimento dela por meio do esforço e da atividade.

Por isso é tão estranha e embaraçosa esta pequena parábola, recolhida pelo evangelista Marcos, na qual Jesus compara o «reino de Deus» a uma semente que cresce por si só, sem que o agricultor lhe dê forças para germinar e crescer. Sem dúvida é importante o trabalho de semeadura realizado pelo agricultor, mas na semente há algo que ele não colocou: uma força vital que não se deve ao seu esforço.

Viver a vida como um dom é provavelmente uma das coisas que podem fazer com que nós, homens e mulheres de hoje, vivamos de uma maneira nova, mais atentos não só ao que conseguimos com o nosso trabalho, mas também ao que recebemos de forma gratuita.

Embora talvez não percebamos assim, a nossa maior «infelicidade» é viver apenas do nosso esforço, sem nos deixarmos agraciar e abençoar por Deus, e sem desfrutar daquilo que nos é oferecido constantemente. Passar pela vida sem deixar-nos surpreender pela «novidade» de cada dia.

Todos necessitamos hoje aprender a viver de forma mais aberta e acolhedora, numa atitude mais contemplativa e grata. Alguém disse que há problemas que não se resolvem à base de esforço, mas que se dissolvem quando sabemos acolher em nós a graça de Deus.

Esquecemos que, em última análise, como disse Georges Bernanos, tudo é graça, porque tudo, absolutamente tudo, está sustentado e penetrado pelo mistério desse Deus que é graça, perdão e acolhimento para todas as suas criaturas. Assim nos é revelado por Jesus.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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