quinta-feira, 6 de junho de 2024

Deus é humano e tem um coração que pulsa ao ritmo da compaixão

Deus é humano e tem um coração que pulsa ao ritmo da compaixão| 373 | 07.06.24 | Jo 19,31-37

Esta cena está localizada no final da narração da paixão e morte de Jesus Cristo, que é o “coração” do Evangelho segundo João, como o é de todos os demais evangelhos. Na espiritualidade litúrgica, é escolhido e proposto para iluminar e orientar a festa do Sagrado Coração de Jesus, que celebramos no dia de hoje. Longe de ser apenas uma devoção piedosa, a festa de hoje nos remete à experiência de um Deus humanizado, que se recusa a ser uma ideia abstrata ou um conceito moral.

A cena está inserida no dia em que os judeus preparavam a páscoa, mas a festa deles foi substituída pela páscoa ou passagem libertadora de Jesus, o novo Cordeiro Pascal. O corpo de Jesus está em meio a outros corpos crucificados, expressando sua solidariedade com todos os homens e mulheres. É como se estivessem todos na mesma cruz, a divindade e a humanidade vitimadas pela mesma violência, excluídas da convivência social com a mesma virulência.

Os dirigentes dos judeus querem apressar a morte dos condenados, para que não estejam vivos na festa. A presença de corpos expostos na cruz parece-lhes incompatível com a festa. Para eles, o que causa impureza é a exposição dos corpos, e não a trama que levou eles à execução. O cordeiro assado para a páscoa deveria estar íntegro, sem nenhuma quebradura, mas não lhes importava que isso fosse feito com Jesus e com qualquer ser humano.

Não foi preciso, ou não possível, apressar ou impor a morte a Jesus, pois ele entregou sua vida por sua própria iniciativa, uma decisão livre e generosa. Mas eles fazem questão de coroar a violência e perpetuar a hostilidade perfurando o coração de Jesus com a lança. Do coração de Jesus jorra sangue e água, e é diante disso que João pronuncia seu solene testemunho. Isso denota a importância e o significado destes elementos na vida cristã, desde os seus primórdios.

O sangue simboliza a doação radical de Jesus, seu amor sem medida e incondicional, como o pastor que dá sua vida pelas ovelhas, como o amigo que dá sua vida por quem ama. A água significa o Espírito que ele doa aos que aderem a ele, para que possam ser como ele. O sangue simboliza o amor demonstrado, e a água é o amor comunicado. E como do lado de Adão foi formada sua companheira Eva, do lado de Jesus, o Homem Pleno, nasce sua noiva, a comunidade dos discípulos e discípulas.

 

Meditação:

·      Leia e contemple atentamente, palavra por palavra esta cena da prova maior do amor de Jesus, do seu imenso e humano coração

·      O coração de Jesus nos remete à sua humanidade, à sua corporeidade, à sua relacionalidade: Deus é Humano, tem Coração

·      O coração de Jesus não nos remete a um sentimento vago e superficial de bem-querer, mas a um dinamismo que o leva a doar-se inteiramente

·      O que significa celebrar a festa do Sagrado Coração de Jesus no contexto de uma economia neoliberal e sem coração, a cultura da intolerância?

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