domingo, 2 de junho de 2024

Jesus e seus discípulos são pedras incômodas ao mundo e essenciais ao Reino de Deus

Jesus e seus discípulos são pedras incômodas ao mundo e essenciais ao Reino de Deus | 369 | 03.06.24 | Mc 12,1-12

Este texto do evangelho segundo Marcos está situado no contexto da presença e a ação tensa e provocativa de Jesus em Jerusalém, para onde peregrinou lúcida e decididamente. Ele havia sido recebido com júbilo pelos moradores da periferia da capital, entrado no templo e expulsado os comerciantes que exploravam os peregrinos. A classe dirigente pedira explicações a Jesus, mas era apenas um ardil para ganhar tempo, pois já haviam decidido acabar com ele (cf. Mc 11,18).

Então, Jesus retoma o debate com os chefes dos sacerdotes, os mestres da lei e os anciãos – os grupos que detinham o controle religioso, ideológico, político e econômico a partir do templo – recorrendo ao uso de parábolas. Longe de ser apenas uma simplificação da linguagem e uma comunicação próxima à experiência do povo simples, as parábolas são uma espécie de armadilha para pegar o interlocutor desprevenido, no contrapé como dizemos hoje.

A imagem da vinha é muito comum nos escritos do antigo testamento, especialmente na literatura profética. O povo de Israel é frequentemente comparado a uma vinha plantada com carinho e atenção, cercada e protegida pela Lei. Alguns profetas denunciam que a vinha não produzi frutos bons (cf. Is 5,1-7); outros denunciam os agricultores que deveriam cultivá-la (cf. Is 5,8-24). Por isso, anunciam que Deus pode tanto destruir a vinha como tomá-la daqueles a quem confiou o cultivo e o cuidado.

Na parábola, fica evidenciada a crescente violência com que são repelidos os enviados do dono da vinha. Eles não só administram mal a vinha que não lhes pertence, como conspiram para se apossar dela. Por isso compreende-se a violência reativa do dono da vinha: destrói os vinhateiros e entrega sua vinha a outros. Os interlocutores de Jesus não demoram a compreender que Jesus se refere a eles. A alegoria política e o discurso subversivo de Jesus provocam na classe dirigente a terceira decisão de prendê-lo.

Deixando de lado a linguagem das parábolas, Jesus cita o Salmo 118(117), e o aplica a si mesmo (e não a Davi, como era usual): “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular”. Ele é o filho que os vinhateiros querem matar para assumir o domínio absoluto sobre o povo. Não esqueçamos que esse é um dos textos mais citados no novo testamento, tornando-se uma chave de leitura tanto para o destino de Jesus quanto dos seus seguidores.

 

Meditação:

·    Situe-se no templo de Jerusalém, próximo a Jesus e à elite dirigente, e observe a liberdade e a coragem com que Jesus a enfrente e desmascara

·    Se a parábola é de fato uma alegoria política, quais as luzes que ela oferece para uma apreciação das classes dirigentes do nosso país?

·    Será que as autoridades da Igreja estão realmente imunes à tentação de se apossar da vinha que não lhes pertence?

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