domingo, 30 de junho de 2024

Esperar não é saber, é fazer a hora

Esperar não é saber, é fazer a hora, sem esperar acontecer | 397 | 01.07.24 | Mateus  8,18-22

Depois de apresentar três relatos de curas realizadas por Jesus – sinais da chegada do Reino de Deus como vida abundante para todos – Mateus nos apresenta três cenas focalizadas em atitudes questionadoras de Jesus, duas das quais meditaremos hoje. São uma espécie de advertência ou correção de Jesus dirigidas a quem deseja ser seu discípulo/a sem assumir as exigências que isso comporta.

Jesus está iniciando a passagem do espaço territorial dos judeus ao terreno dos pagãos, um espaço marcado pela presença mais ostensiva dos invasores romanos, e um escriba ou mestre da lei se apresenta como candidato ao discipulado, mesmo sem ter sido chamado. O escriba vê em Jesus um mestre ou guru importante, mas apenas um a mais entre tantos mestres. Não passa pela sua cabeça que Jesus proponha uma ruptura radical com a estabilidade e a instituição, e nem leva em conta que é sempre o mestre quem escolhe seus discípulos.

Jesus responde sublinhando o contraste entre a estabilidade dos mestres da lei e a mobilidade e a “vagância” da comunidade que se reúne ao seu redor. Jesus é um pregador itinerante, avesso à instalação e à estabilidade, próprias de instituições fechadas. A comunidade de discípulos de Jesus vai contra a corrente, percorre um caminho que exige ousadia e firmeza, é uma comunidade que se situa no limiar entre o mundo de relações desiguais e violentas em que vivemos e o outro mundo possível.

Em seguida, um daqueles que já seguiam Jesus se mostra disposto a continuar o caminho e “passar para a outra margem”, mas pede um tempo, uma licença para cuidar do pai até que ele morra, pois ele é arrimo de família. Aparentemente, seu pedido não é descabido, mas Jesus sublinha que o discipulado não admite parênteses e adiamentos, está acima da piedade e dos compromissos com a família de sangue e outras instituições. É claro que Jesus não propõe indiferença aos vínculos familiares. O que ele faz é enfatizar a urgência e a primazia da busca do Reino de Deus.

Como na versão da cena apresentada por Lucas, Jesus ensina que adesão à ética do Reino de Deus deve ser absoluta, e nada pode se antepor à dedicação plena e imediata a ele, pois os novos céus e a nova terra urgem, a humanidade clama por ele, o mundo fraterno e justo não pode esperar.

 

Meditação:

·    Preste atenção nas atitudes e nos pedidos do escriba e do discípulo: O que há de semelhante? O que há de diferente?

·    Jesus propõe uma vida quase nômade, itinerante, sem estabilidade, e uma urgência que não admite postergar as decisões importantes

·    Os discípulos têm dificuldade de romper com algo: e você, o que impede sua dedicação à construção do outro mundo possível?

·    De que você ainda precisa se desapegar para ser livre e generoso no seguimento de Jesus?

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