Esperar não
é saber, é fazer a hora, sem esperar acontecer | 397 | 01.07.24 | Mateus 8,18-22
Depois de apresentar três relatos de curas
realizadas por Jesus – sinais da chegada do Reino de Deus como vida abundante
para todos – Mateus nos apresenta três cenas focalizadas em atitudes
questionadoras de Jesus, duas das quais meditaremos hoje. São uma espécie de
advertência ou correção de Jesus dirigidas a quem deseja ser seu discípulo/a
sem assumir as exigências que isso comporta.
Jesus está iniciando a passagem do espaço
territorial dos judeus ao terreno dos pagãos, um espaço marcado pela presença
mais ostensiva dos invasores romanos, e um escriba ou mestre da lei se
apresenta como candidato ao discipulado, mesmo sem ter sido chamado. O escriba
vê em Jesus um mestre ou guru importante, mas apenas um a mais entre tantos
mestres. Não passa pela sua cabeça que Jesus proponha uma ruptura radical com a
estabilidade e a instituição, e nem leva em conta que é sempre o mestre quem
escolhe seus discípulos.
Jesus responde sublinhando o contraste entre a
estabilidade dos mestres da lei e a mobilidade e a “vagância” da comunidade que
se reúne ao seu redor. Jesus é um pregador itinerante, avesso à instalação e à
estabilidade, próprias de instituições fechadas. A comunidade de discípulos de
Jesus vai contra a corrente, percorre um caminho que exige ousadia e firmeza, é
uma comunidade que se situa no limiar entre o mundo de relações desiguais e
violentas em que vivemos e o outro mundo possível.
Em seguida, um daqueles que já seguiam Jesus se
mostra disposto a continuar o caminho e “passar para a outra margem”, mas pede
um tempo, uma licença para cuidar do pai até que ele morra, pois ele é arrimo
de família. Aparentemente, seu pedido não é descabido, mas Jesus sublinha que o
discipulado não admite parênteses e adiamentos, está acima da piedade e dos
compromissos com a família de sangue e outras instituições. É claro que Jesus
não propõe indiferença aos vínculos familiares. O que ele faz é enfatizar a
urgência e a primazia da busca do Reino de Deus.
Como
na versão da cena apresentada por Lucas, Jesus ensina que adesão à ética do
Reino de Deus deve ser absoluta, e nada pode se antepor à dedicação plena e
imediata a ele, pois os novos céus e a nova terra urgem, a humanidade clama por
ele, o mundo fraterno e justo não pode esperar.
Meditação:
· Preste atenção nas atitudes e nos pedidos do
escriba e do discípulo: O que há de semelhante? O que há de diferente?
· Jesus propõe uma vida quase nômade, itinerante,
sem estabilidade, e uma urgência que não admite postergar as decisões
importantes
· Os discípulos têm dificuldade de romper com
algo: e você, o que impede sua dedicação à construção do outro mundo possível?
· De que você ainda precisa se desapegar para ser
livre e generoso no seguimento de Jesus?
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