Pessoa
madura e feliz é aquela que necessita de pouco para viver | 388 | 22.06.24
| Mateus 6,24-34
A parte do
evangelho de Mateus que conhecemos como “sermão da montanha” é um momento de
formação dos discípulos na novidade do Reino de Deus. Depois de dar exemplos de
uma nova interpretação da antiga lei, e depois de criticar as práticas de
piedade (esmola, oração e jejum), Jesus adverte seus discípulos em relação à
tentação do acúmulo doentio de bens.
Para falar deste tema, aliás, sempre
espinhoso, Jesus recorre à relação entre senhor e escravo, uma relação
estruturante no império escravocrata de Roma sob o qual viviam Jesus e seu povo:
o escravo faz parte da propriedade do senhor; quando não serve mais, não se dedica
exclusivamente ou despreza seu senhor, é simplesmente descartado. Assim, a
riqueza se converte num chefe tirano: não está a serviço da pessoa, mas se
apropria da vida dela e não admite nenhum concorrente.
Para Jesus, o problema não reside simplesmente na
necessidade de comer, de vestir, de ter uma moradia: estas não são preocupações
desprezíveis, mas necessidades profundamente humanas, que a sociedade deve
garantir, de algum modo. O problema é o materialismo, a busca desenfreada de
ter sempre mais. Este desejo insaciável é gerado por uma ansiedade que nunca
consegue se acalmar, e nos leva de preocupação a preocupação, numa ansiedade
indestrutível e destruidora.
O problema é exatamente esta “necessidade” de ter
sempre mais, de dominar as condições da existência, e de conseguir isso
unicamente para si, competindo impiedosamente com tudo e com todos. Este desejo
de açambarcar tudo e todos, com a maior rapidez possível, acaba fazendo-nos
senhores implacáveis e nos transformando em escravos, invertendo a relação
entre as pessoas e as coisas.
Para Jesus, esta preocupação de satisfazer nossas
necessidades através do acúmulo e da competição demonstra uma fé pequena e
doentia, é coisa de pagão, de gente sem fé. E é um caminho sem fim, porque cada
dia impõe uma nova preocupação, pois cada meta atingida pede mais e mais. Para
o discípulo, o reino de Deus – a fraternidade, a justiça, a misericórdia – é a
única preocupação legítima, e deve ser pedida na oração, buscada na vida,
testemunhada na sociedade. O verdadeiro rico é quem precisa se poucas coisas
para viver.
Meditação:
· Deixe ressoar em você este ensino inovador de
Jesus, que ele viveu em primeira pessoa: confiar no Pai como uma criança,
buscar o Reino de Deus, deixando o resto nas mãos do Pai
· Preste atenção às metáforas que Jesus busca na
vida cotidiana: a relação entre patrão e empregado; a beleza das flores; a
liberdade e a confiança dos pássaros; as preocupações que nunca acabam...
· Que sentido fazem estas palavras de Jesus num
mundo que reduz os sonhos de muita gente à simples sobrevivência biológica?
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