Jesus não
ensina submissão e passividade, mas a superação da violência | 383 | 17.06.24
| Mateus 5,38-42
No sermão da montanha, que é uma
espécie de minicurso de iniciação dos discípulos ao Evangelho do Reino de Deus,
Jesus se apresenta como o intérprete e
consumador da Lei e dos costumes do judaísmo. Hoje nos deteremos no quinto
exemplo de releitura da Lei que ele desenvolve, como Mestre que ensina com
autoridade e ousadia. Não domestiquemos a novidade do Evangelho!
A vingança, que nasce no ventre do medo, parece fazer
parte da condição humana e da história das sociedades. O judaísmo quis limitar
este princípio ao “olho por olho e dente por dente”. E isso já representava um
avanço diante da violência ilimitada que a vingança desencadeava. Mas Jesus
pede aos seus discípulos muito mais que isso. Ele pede que quebremos o círculo
ou a lógica da violência, que passemos da simples reação contra a violência
sofrida à iniciativa positiva e à gratuidade. “Não enfrenteis quem é malvado”
(com a mesma prática), diz Jesus.
Jesus dá alguns exemplos de como podemos fazer isso
concretamente. Num contexto em que o tapa no rosto era um insulto e uma
violência física de uma pessoa superior contra outra pessoa tratada como
inferior, oferecer a outra face a quem bate é expressão inequívoca de dignidade
e de superioridade ética, de capacidade de iniciativa, uma atitude fundamental
de não-violência ativa. Isso jamais pode ser visto como sinal de fraqueza e
submissão.
Num ambiente no qual era comum um rico proprietário penhorar
judicialmente as vestes de um pobre endividado com ele, entregar também o
manto, ou seja, todas as vestes, era uma forma de expor a humanidade nua,
aquela humanidade que iguala a todos os seres humanos; era um jeito de
protestar e de desmascarar a violência dos prepotentes, uma forma de eloquente ação
simbólica e profética.
Num contexto em que os soldados romanos, que asseguravam
com a violência a ocupação colonialista, obrigavam o povo nativo a caminhar com
eles e carregar as armas que serviam para intimidá-los, caminhar o dobro do que
era imposto significava não entrar no jogo dos opressores, tomar a iniciativa e
ser mais digno que eles. Não há qualquer sombra de dúvidas! O ensinamento de
Jesus não tem nada de submissão, e tudo de alternativo, de maturidade humana.
Meditação:
· Deixe ressoar em você este ensino de Jesus, que
ele viveu em primeira pessoa: não pagar com a mesma moeda, não ser uma pessoa
reativa, mas inovadora
· Recorde cenas e acontecimentos da vida de Jesus
que demonstram que ele viveu em primeira pessoa isso que ensina aos seus
discípulos
· O que significa hoje oferecer a outra face, dar
o manto a quem quer se apropriar da túnica, andar o dobro daquilo que nos
impõem os violentos?
· Como poderíamos praticar o ensino de Jesus nas
relações violentas que infestam as redes sociais, especialmente quando o
assunto é política nacional?
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