Maria é a discípula exemplar, a peregrina
despojada, uma mulher de fé e reflexão | 374 | 08.06.24 | Lucas 2,41-52
Ontem celebrávamos o Sagrado Coração
de Jesus. Hoje, celebramos a memória do Imaculado Coração de Maria. Precisamos
evitar o risco de imaginar Jesus como um ser errante e solitário, que não
conheceu a beleza exigente da vida em família, assim como de pintar Maria como
uma espécie de divindade etérea, um tipo de monja de clausura, indiferente à
vida concreta das pessoas e isolada do mistério do Reino de Deus vivido,
revelado e proposto por Jesus.
O texto que meditamos na festa de hoje
não tem nada de fábula infantil ou de anedota. Tem tudo a ver com o núcleo
fundamental que dinamizou a vida de Jesus: o empenho incansável em fazer a
vontade do Pai (que é reunir todas as pessoas na única família do Pai),
inclusive mediante a superação dos vínculos da família patriarcal e,
principalmente, através da cruz. É isso que, mesmo sem entender, devemos
guardar e meditar em nosso coração, como Maria.
Nesta cena, a nossa atenção não pode
se desviar do seu núcleo, que é a palavra de Jesus a seus pais (a primeira
palavra que Jesus pronuncia no evangelho de Lucas!): “Não sabeis que devo estar
na casa (ou me ocupar das coisas) de meu Pai?” Trata-se da sua própria
identidade e da sua missão de Filho de Deus. E essa “estadia” na casa do Pai
supõe a “saída” das “cercas” família patriarcal e do judaísmo mediante a
entrega generosa e sem reservas na cruz.
Mas a memória do Sagrado Coração de
Maria nos pede também uma atenção especial às atitudes de Maria. Ao lado do
marido e junto com o Filho, ela peregrina com seu povo e cultiva suas tradições
religiosas. A angústia por perder o filho de vista, e o susto por encontrá-lo
entre os mestres da lei, nos remete à dificuldade, dela e nossa, em assimilar o
sentido da sua missão, paixão e morte.
Maria não se resigna à dificuldade inicial de entender o caminho e as palavras de Jesus. Conservando e interpretando os fatos e as palavras, inclusive a paixão e a morte do filho, ela se mostra discípula exemplar, peregrina despojada, mulher de fé e reflexão. Seu coração – sua vida corporal e sua atitude de fé! – é imaculado porque ela acredito na Palavra que lhe foi anunciada e colocou-se, de modo incondicional, a serviço da realização da Vontade de Deus.
Meditação:
· Deixe-se envolver na cena, na peregrinação da Galileia a
Jerusalém, no encontro de Jesus com os doutores da lei, na busca ansiosa de
José e Maria, no reencontro e no diálogo surpreendente
· Maria, na sua dificuldade de compreender a palavra e a escolha
de Jesus, é retrato de todo/a discípulo/a de Jesus
· Será que, acolhendo e interrogando os fatos no coração, não nos convida a uma fé lúcida, reflexiva e amadurecida?
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