sexta-feira, 21 de junho de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - 23.06.2024

MEDO DE ACREDITAR

As pessoas quase sempre preferem o que é fácil, e passam a vida tentando evitar o que exige verdadeiro risco e sacrifício. Recuamos ou fechamo-nos na passividade quando descobrimos as exigências e lutas que acompanham a vida com certa profundidade.

Temos medo de levar a sério a nossa vida, de assumir a nossa própria existência com responsabilidade total. É mais fácil «instalar-se» e «continuar», sem nos atrevermos a enfrentar a questão do sentido último da nossa vida diária.

Quantos homens e mulheres vivem sem saber como, porquê ou para onde? Estão aí. A vida continua, mas, por enquanto, que ninguém os incomode. Estão ocupados com o seu trabalho, ao fim do dia espera-os o seu programa de televisão, as férias aproximam-se. O que mais há para procurar?

Vivemos tempos difíceis e de alguma forma temos que nos defender. E então cada um vai procurando, com maior ou menor esforço, o tranquilizante que mais lhe convém, embora dentro de nós se vá abrindo um vazio cada vez mais imenso de falta de sentido e de covardia para viver a nossa existência em toda a sua profundidade.

Por isso, os que facilmente se dizem crentes deveriam escutar com sinceridade as palavras de Jesus: «Por que sois tão covardes? Ainda não tendes fé?» Talvez o nosso maior pecado contra a fé, o que mais gravemente bloqueia o nosso acolhimento do Evangelho, seja a covardia. Digamos com sinceridade: não nos atrevemos a tomar a sério tudo o que o Evangelho significa. Temos medo de ouvir os chamados de Jesus.

Com frequência é uma covardia oculta, quase inconsciente. Alguém falou da «heresia disfarçada» (Maurice Bellet) daqueles que defendem o cristianismo até de forma agressiva, mas que nunca se abrem às exigências mais fundamentais do Evangelho.

Então o Cristianismo corre o risco de se converter apenas em mais um tranquilizante; um conglomerado de coisas que devem ser acreditadas, coisas que devem ser praticadas e defendidas; coisas que, tomadas na sua medida, fazem bem e ajudam a viver.

Mas então tudo pode ser falsificado. Pode-se estar a viver a própria religião tranquilizadora, não muito distante do paganismo vulgar, que se alimenta de conforto, dinheiro e sexo, evitando de mil maneiras o perigo de nos encontrarmos com o Deus vivo de Jesus, que nos chama à justiça, à fraternidade e à proximidade com os pobres.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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