Quem segue a Jesus de Nazaré não se submete a nenhum poder exercido
contra o povo | 370 | 04.06.24 | Mc 12,13-17
Chegando a Jerusalém, depois de uma
longa e exigente viagem, que foi também um longo e detalhado curso de formação
para os discípulos, Jesus vai ao suntuoso templo e toma uma atitude claramente
provocativa. Para ele, o sistema do templo deve ser mudado radicalmente, por
mais piedoso que pareça, e o mundo pode ser refeito, por mais que as elites
digam que é o melhor dos mundos possíveis. Então as autoridades decidem matar
Jesus.
Uma das estratégias para realizar
esta decisão é revelada no episódio de hoje. A classe dirigente do templo manda
um grupo de fariseus e de capachos de Herodes com a missão de preparar uma
armadilha para que Jesus caia nela. Começam elogiando (ou ironizando?) Jesus,
dizendo que ele fala livremente, sem medir as consequências. E apresentam-lhe
duas questões: é ilegal e inaceitável pagar imposto ao imperador romano? Eles
(e Jesus) devem ou não pagar?
Pagar impostos equivale a reconhecer
a legitimidade do invasor, prestar-lhe lealdade, e essa era postura defendida
pelos herodianos. Jesus percebe a hipocrisia que subjaz às perguntas, rejeita à
tentativa de “fabricar provas” contra si mesmo, e responde dizendo que esse não
é um problema seu, mas deles. Eles perguntam se “devemos” (inclui Jesus) pagar
o imposto, e Jesus responde “dai” (vós!).
Jesus não possui moedas, e pede que
eles as apresentem e digam qual é a figura e a inscrição que contém. A figura é
do imperador romano, e a inscrição afirma que ele é o “Filho Augusto de Deus”.
Um judeu fiel jamais poderia admitir isso! E o próprio soldado romano, no final
do Evangelho, dirá, confirmando a inscrição colocada na cruz (Rei dos Judeus),
afirmando: “Realmente este homem era o Filho de Deus”. Jesus de Nazaré, e não o
imperador, é o “Filho Augusto de Deus”.
Mandando
devolver ao imperador o que é dele (as moedas) e a Deus o que a ele pertence (o
povo), Jesus não estabelece uma equivalência entre os dois, como se tornou
habitual propagar. E, da mesma forma, não afirma a separação entre fé e
política, ou entre Igreja e o mundo. No mundo, os cristãos devem ser sal, luz e
fermento! Mas ele rejeita radicalmente a submissão a Roma.
Meditação:
· Recomponha o episódio, relendo a cena,
percebendo a tensão e a hipocrisia, penetrando nas intenções disfarçadas dos
enviados
· Perceba como, ao longo de sua vida e neste caso,
Jesus não reconhece nenhuma submissão ou lealdade ao imperador e dominador
romano
· Observe atentamente, e veja como Jesus também
não opõe política e fé, nem separa a Igreja do Mundo
· Você concorda que os donos do poder, seja ele
“Augusto” ou “Capitão”, não tem direitos sobre a vida do povo, não são donos
das pessoas?
· Como evitar interpretações que manipulam este texto,
ensinando que Jesus separa fé e política e reconhece o poder dos dominadores?
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