sábado, 1 de junho de 2024

Nenhuma lei, costume ou instituição está acima do direito a ter os meios para viver

Nenhuma lei, costume ou instituição está acima do direito a ter os meios para viver | 368 | 02.06.24 | Mc 2,23-3,6

Há pouco, Jesus havia curado um paralítico mediante a declaração de que ele não era culpado de nada (cf. Mc 2,1-12) e partilhado uma refeição com pessoas consideradas indignas (cf. Mc 2,13-18). Animados pela dignidade e liberdade que Jesus, o esperado noivo da nova aliança, lhes conferia, os discípulos se permitiram desconsiderar a lei do jejum. Tanto as ações de Jesus como as dos seus discípulos irritaram profundamente o grupo dos fariseus, representantes do legalismo sem coração.

Para completar o escândalo, os discípulos de Jesus atravessam campos de trigo e recolhem os grãos que necessitam para matar a fome, e isso no sacratíssimo dia de sábado. Se levamos a sério a resposta de Jesus ao questionamento dos defensores da lei, fazendo isso os discípulos afrontam duas leis: a lei que proíbe qualquer trabalho no dia de sábado e a lei que impede a violação da propriedade privada. É isso que transparece na referência de Jesus a Davi e seus companheiros, que, estando com fome, se apropriaram das oferendas que pertenciam exclusivamente aos sacerdotes.

O que Jesus quer discutir e colocar em evidência, inclusive na cena seguinte, é o espírito e a finalidade das leis e instituições. Para Jesus, o estômago febril de uma pessoa faminta é mais sagrado que todos os templos, leis e instituições. Para salvar uma pessoa ou um povo em situação de risco, o respeito à lei se torna secundário. Faz parte da maturidade e da liberdade cristã desmascarar corajosamente as leis, costumes e instituições que não fazem outra coisa que oprimir os pobres.

Sabemos que no Brasil, e não apenas aqui, a lei só é pesada e tem força quando se trata de punir os pobres e quem participa das suas lutas. Jesus ensina que a lei não é parâmetro absoluto para a justiça. A escravidão negra foi legal no Brasil; o apartheid foi legal na África do Sul; a mutilação sexual das mulheres ainda é legal em alguns países árabes; o congelamento dos investimentos na saúde e na educação foram atos legais, assim como a desmantelamento dos direitos trabalhistas...

É claro que o Evangelho da liberdade é um tesouro que os cristãos e suas Igrejas carregamos em vasos de barro, com o risco de quebrá-lo ou trancafiá-lo em cofres invioláveis, longe da vida. Mas a luta para sermos libertária e responsavelmente fiéis a esse Evangelho nos insta até a morte!

 

Meditação:

·        Você consegue perceber como Jesus assume uma postura de relativização do templo, das autoridades e de todas as instituições oficiais?

·        Por que os cristãos perdemos ou menosprezamos a dimensão profética e libertária da nossa fé, que relativiza instituições e autoridades?

·        Qual poderia ser a reação dos cristãos de hoje diante de uma liderança religiosa que respondesse como Jesus aos questionamentos oficiais?

·        Onde ou em que você fundamenta ou legitima sua autoridade para criticar a ordem social e anunciar que um outro mundo é possível?

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