A fé suscita
a coragem que orienta e dinamiza todas as travessias | 389 | 23.06.24
| Marcos 4,35-41
Recorrendo a diversas parábolas, Jesus havia
acabado de desenvolver uma longa catequese sobre o misterioso dinamismo do
Reino de Deus. Diante da rejeição da sua pregação e do seu caminho humano para
Deus pelas autoridades religiosas, e da incompreensão dos próprios familiares,
Jesus sentiu necessidade de enco0ntrar razões para manter a esperança e ativar
a paciência.
Parece
que o esforço evangelizador e transformador de Jesus estava dando poucos
frutos. Dominados por medos e amarrados por muitas preocupações mesquinhas, os
discípulos do tempo de Marcos enfrentam as dificuldades de modo muito diferente
ao de Jesus. Atravessando o mar revolto da vida no mesmo barco, Jesus permanece
confiante e tranquilo, enquanto que eles se apavoram. Eles têm dificuldade de
aceitar o dinamismo, as exigências e consequências do Reino de Deus, do
seguimento de Jesus. Não conseguem confiar a Deus e seu reino a própria vida.
Parece
também que a Palavra de Jesus, a Boa Notícia dinâmica e concreta do Reino de
Deus, encontrou nos próprios discípulos uma terra dura, rasa ou infestada de
ervas daninhas. Eles têm a impressão de que correm o risco de morrer, e não
percebem que o que está morrendo neles é a Boa Notícia do Reino de Deus. Pensam
que Jesus não se importa com eles, e não percebem o tanto que os ama e preza.
Eles
precisam ainda percorrer um longo caminho até desenvolver uma fé madura, que os
sustente. O medo das perdas ainda se sobrepõe à esperança e à confiança. Depois
de acordado por eles, Jesus fala forte, ordenando que silenciem estas agitações
e se cale a voz dissidente do medo que ameaça seus discípulos. Eles ainda
precisam conhecer melhor quem é este profeta da Galileia, que ensina com
autoridade e enfrenta as forças e instituições que se opõem ao querer de Deus.
Os discípulos da primeira
hora precisam encarar e superar a insistente e crônica divergência com Jesus.
Eles precisam descobrir, compreender e acolher o cerne da sua pregação e
missão: o Reino de Deus chegou e é graça que liberta; ele pede mudança das
pessoas e estruturas; dá prioridade aos pobres e aos meios mais frágeis; e
passa necessariamente pela cruz, pelo dom de si mesmo. Em que medida também nós
ainda estamos longe de assimilar essa realidade?
Meditação:
· Releia o texto com
atenção, relacionando-o com as repetidas crises nas quais o seguimento de Jesus
coloca seus discípulos
· Você consegue perceber a
agitação e o medo de muitos católicos na passagem de uma fé intimista a um
engajamento no mundo?
· Não ocorre também a nós
pensar que Jesus está longe ou indiferente dos ventos e ondas que ameaçam a
humanidade?
· Será que também nós não
necessitamos conhecer melhor quem é esse Jesus em quem dizemos ter posto nossa
confiança?
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