A FALTA DE VERDADE
A veracidade sempre foi uma preocupação
importante na educação. Conhecemo-lo desde que éramos crianças. Os nossos pais
e educadores conseguiam entender todas as nossas travessuras, mas pediam-nos
para sermos honestos. Queriam que aprendêssemos que dizer a verdade é muito
importante.
Eles tinham razão. A verdade é um dos pilares
em que assenta a consciência moral e a convivência. Sem verdade não é possível
viver com dignidade. Sem verdade não é possível uma convivência justa. Sem ela,
o ser humano sente-se traído numa das suas necessidades mais profundas.
Hoje condena-se com força todo o tipo de
atropelos e abusos, mas nem sempre se denuncia com a mesma energia as mentiras
com que tentam mascará-los. E, no entanto, as injustiças alimentam-se sempre de
mentiras. Só falsificando a realidade foi possível, há alguns anos, levar a
cabo uma guerra tão injusta como a agressão ao Iraque.
Acontece muitas vezes. Os grupos de poder põem
em marcha múltiplos mecanismos para orientar a opinião pública e levar a sociedade
para uma determinada posição. Mas muitas vezes fazem-no escondendo a verdade e
distorcendo os dados, para que as pessoas vivam com uma visão distorcida da
realidade.
As consequências são graves. Quando a verdade
é ocultada, existe o risco de que vão desaparecendo os contornos do «bem» e do
«mal». Já não é possível distinguir claramente o que é «justo» do que é
«injusto». A mentira não deixa ver os abusos. Somos como «cegos» a tentar guiar
outros «cegos».
Perante tantas falsidades interesseiras, há
sempre pessoas que têm uma visão clara e veem a realidade tal como ela é. São
os que estão atentos ao sofrimento dos inocentes. Colocam a verdade no meio de
tantas mentiras. Colocam luz no meio de tanta escuridão.
José Antônio Pagola
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez