NÃO TENHAM MEDO!
A culpa, como tal, não é uma invenção das
religiões. Constitui uma das experiências humanas mais antigas e universais.
Antes que aflore o sentimento religioso, pode-se advertir no ser humano essa
sensação de ter falhado em alguma coisa. O problema não é a experiência da
culpa, mas a forma de lidar com ela.
Existe uma forma saudável de viver com
a culpa. A pessoa assume a responsabilidade pelas suas ações, lamenta os danos
que possa ter causado e esforça-se por melhorar no futuro o seu comportamento.
Vivida assim, a experiência da culpa faz parte do crescimento da pessoa rumo à
maturidade.
Mas há também formas pouco sadias de
viver a culpa. A pessoa fecha-se na sua indignidade, alimenta sentimentos infantis
de mancha e indignidade, destrói a sua autoestima e anula-se a si própria. O
indivíduo atormenta-se, humilha-se, luta consigo mesmo, mas, no final de todos
os seus esforços, não se liberta nem cresce como pessoa.
O próprio do cristão é viver a sua
experiência de culpa diante de um Deus que é amor e só amor. O crente reconhece
que foi infiel a esse amor. Isto dá à sua culpa um peso e uma seriedade
absolutos. Mas, ao mesmo, tempo liberta-o do afundamento, pois sabe que, mesmo
sendo pecador, é aceito por Deus: nele pode sempre encontrar a misericórdia que
salva de toda a indignidade e fracasso.
Segundo a história, Pedro, oprimido
pela sua indignidade, atira-se aos pés de Jesus dizendo: «Afasta-te de mim,
Senhor, porque sou pecador». A resposta de Jesus não podia ser outra: «Não
temas», não tenhas medo de ser pecador e de estar comigo. Este é o destino do
crente: sabe que é pecador, mas sabe ao mesmo tempo que é acolhido,
compreendido e amado incondicionalmente por esse Deus revelado em Jesus.
José Antônio Pagola
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez
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