sábado, 8 de fevereiro de 2025

O medo de Pedro e o nosso

NÃO TENHAM MEDO!

A culpa, como tal, não é uma invenção das religiões. Constitui uma das experiências humanas mais antigas e universais. Antes que aflore o sentimento religioso, pode-se advertir no ser humano essa sensação de ter falhado em alguma coisa. O problema não é a experiência da culpa, mas a forma de lidar com ela.

Existe uma forma saudável de viver com a culpa. A pessoa assume a responsabilidade pelas suas ações, lamenta os danos que possa ter causado e esforça-se por melhorar no futuro o seu comportamento. Vivida assim, a experiência da culpa faz parte do crescimento da pessoa rumo à maturidade.

Mas há também formas pouco sadias de viver a culpa. A pessoa fecha-se na sua indignidade, alimenta sentimentos infantis de mancha e indignidade, destrói a sua autoestima e anula-se a si própria. O indivíduo atormenta-se, humilha-se, luta consigo mesmo, mas, no final de todos os seus esforços, não se liberta nem cresce como pessoa.

O próprio do cristão é viver a sua experiência de culpa diante de um Deus que é amor e só amor. O crente reconhece que foi infiel a esse amor. Isto dá à sua culpa um peso e uma seriedade absolutos. Mas, ao mesmo, tempo liberta-o do afundamento, pois sabe que, mesmo sendo pecador, é aceito por Deus: nele pode sempre encontrar a misericórdia que salva de toda a indignidade e fracasso.

Segundo a história, Pedro, oprimido pela sua indignidade, atira-se aos pés de Jesus dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou pecador». A resposta de Jesus não podia ser outra: «Não temas», não tenhas medo de ser pecador e de estar comigo. Este é o destino do crente: sabe que é pecador, mas sabe ao mesmo tempo que é acolhido, compreendido e amado incondicionalmente por esse Deus revelado em Jesus.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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