Nenhum interesse ou tradição está acima da vontade de Deus | 620 | 11.02.2025
| Marcos 7,1-13
Vindo de
Jerusalém e representando os interesses do templo, um grupo de doutores da lei
faz cerco a Jesus e questiona seu ensino na prática pouco ortodoxa dos discípulos.
Como sabemos, os escribas, ou doutores da lei, defendem o cumprimento rigoroso
dos preceitos para garantir a identidade, a separação e a influência do grupo.
O núcleo do conflito é doutrinário, e só será solucionado no trecho de Mc
7,14-23. Aqui, Jesus apenas ataca, desmascara e desqualifica as práticas
defendidas pelos doutores da lei.
Os doutores da lei criticam os
discípulos de Jesus por, segundo eles, desrespeitarem as tradições tomando os
alimentos sem lavar as mãos. E a crítica fundamental que Jesus faz a eles
(extensiva aos fariseus) é que, defendendo falsamente a tradição e colocando
toda a atenção nos ritos exteriores de purificação, eles vivem uma piedade e
uma religiosidade apenas aparente: lavar mãos, copos, pratos e vasos, e assim por
diante.
Jesus vai a fundo na sua crítica
aos doutores da lei e na defesa da nova prática do reino de Deus. Para ele, os
defensores da tradição do templo já teriam sido denunciados pelo profeta
Isaías, que diz que eles fazem de conta que honram a Deus com os lábios, mas
suas práticas e decisões passam bem longe da vontade de Deus. Mais ainda, eles
esvaziam a lei de Deus e a substituem pelas suas próprias tradições pouco
inspiradas em Deus.
E Jesus dá um exemplo: segundo o
ensino dos doutores da lei, os bens que os filhos devem destinar ao cuidado e
sustento dos pais podem ser ofertados ao templo e, assim, ficarem sob o
controle e administração deles mesmos. E assim, a lei e a tradição, que,
segundo a vontade de Deus, devem proteger os mais fracos, acabam explorando os
mais vulneráveis em nome de Deus. E o ensino de Deus, para salvar a vida dos
fracos, acaba virando descarga de consciência e preceito interesseiro a serviço
de alguns.
Assim,
podemos dizer que “o feitiço virou contra o feiticeiro”: a crítica dos doutores
da lei a Jesus virou crítica de Jesus contra os doutores da lei. Não é Jesus
que desrespeita a Palavra de Deus; aqueles que deviam vive-la e ensiná-la, na
verdade a esvaziam e manipulam, mesmo quando dizem fazer isso em nome de Deus.
Meditação:
§ Leia
com atenção e procure compreender a crítica de Jesus aos escribas, e o exemplo
de como eles esvaziam a Palavra de Deus
§ Você
percebe também hoje a tentação de esvaziar a Palavra de Deus e substitui-la por
interesses mesquinhos?
§ Foi
realmente superada, na sua família e na sua comunidade, a tentação de “torcer”
o Evangelho e transformá-lo em pedras que jogamos contra as pessoas que
consideramos culpadas?
Nenhum comentário:
Postar um comentário