Para Jesus, não há diferença entre cidadão e estrangeiro | 622 | 13.02.2025
| Marcos 7,24-30
Jesus desmonta a
teologia da pureza e solapa as bases da ideologia da supremacia e hierarquização
da dignidade de alguns povos e pessoas sobre outros. Declarando que todos os alimentos
são puros, ele resgata a dignidade dos excluídos, como quando “purifica” os
leprosos. Assim, ele mostra que o sistema de pureza, não protege o povo, mas
oprime os vulneráveis. Diga-se a mesma coisa hoje em relação às leis que
restringem ou criminalizam as migrações.
Depois do confronto com os
escribas e do ensino ao povo e aos discípulos, Jesus entra no território dos
pagãos com o desejo explícito de colocar um ponto final nessa interminável
discussão e aprofundar a questão. Mas eis que uma mulher pagã, discriminada por
ser mulher e por ser pagã, ousa interromper esse “retiro” de Jesus. Ela
desrespeita as fronteiras que separam judeus e pagãos.
A cena descreve a reação de Jesus
no horizonte das hostilidades étnicas e culturais dos judeus aos pagãos, e isso
só realça a ousadia e a novidade do ensino e da prática de Jesus. A mulher pagã
não apenas desrespeita as leis que excluem os pagãos dos benefícios de Deus e
da cidadania em Israel, nem se contenta em pedir pela sua filha, mas discute
com Jesus defendendo a dignidade do seu povo e reivindicando a igualdade das
pessoas e povos diante de Deus.
Segundo Marcos, o que faz Jesus
“mudar” de opinião em relação ao desprezo os pagãos não é a fé ou a simples
confiança daquela mulher insistente, mas o seu argumento: Deus é pai, e não
trata nenhuma pessoa ou povo como indigno ou impuro. O Reino de Deus, que é o
horizonte no qual Jesus se move e a causa maior que ele abraça, derruba os
muros que classificam e opõem as pessoas entre puras e impuras, judias e pagãs,
filhas e cães.
Infelizmente,
o sentimento de que “temos o que eles não têm” ou de que “somos melhores e mais
merecedores que eles” ainda vigora, e volta com virulência inaudita entre
grupos que se dizem cristãos. Ninguém esquece o teor de algumas manifestações
contra o Papa Francisco, a Conferência dos Bispos do Brasil, o ecumenismo, a
fraternidade universal e a defesa da diversidade patrocinadas pelas Campanhas
da Fraternidade dos últimos anos.
Meditação:
§ Releia
o texto, procurando entender bem os recursos literários e a questão que está em
discussão: a igualdade diante de Deus
§ Qual
seria a razão que leva grupos de cristãos a se oporem à ação social e ecumênica
da Igreja do Brasil?
§ Como
superar a contradição de quem reza “Senhor, eu não sou digno que entres em
minha casa” e continua pensando “Somos melhores que os outros e temos o que
eles não têm”?
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