sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Morrer de fome num país rico

Deixar alguém morrer de fome num país rico é um assassinato | 624 | 15.02.2025 | Marcos 8,1-10

O episódio de hoje é uma provocativa lição de economia política, centrada em dois princípios gêmeos: a compaixão e o companheirismo. A segunda distribuição de alimento ao povo faminto, conhecida como multiplicação dos pães, além de ser uma lição de solidariedade econômica, é uma lição de reforço na formação dos discípulos e discípulas, ainda reticentes diante da novidade do Evangelho.

Não quero chocar ninguém, mas precisamos reconhecer que o núcleo deste acontecimento não é a multiplicação milagrosa de pães e peixes, mas a distribuição solidária e justa de alimentos a quem deles tem necessidade. Isso fica claro quando Jesus, chamando os discípulos, diz: “Tenho compaixão dessa multidão, porque faz três dias que está comigo e não tem nada para comer”.

E não se trata de cidadãos plenos, de gente que pertence ao povo judeu, mas de estrangeiros, ou pagãos. Para Jesus, aqueles que os judeus consideravam malditos, impuros, cães, são os pobres e muito queridos de Javé. Por isso, este segundo relato de distribuição de alimentos aos famintos é guiado pelo tema da acolhida e do socorro aos que “vieram de longe” e são excluídos do judaísmo.

Ao que parece, fazendo isso Jesus também enfrenta e contesta o jejum ritual pregado e praticado pelos fariseus, especialmente quando se defronta com o jejum ou a fome real do povo. Quando a fome é concreta, o jejum, por mais piedoso que seja, deve ser superado pela partilha e atendimento às necessidades humanas, para que haja pão em todas as mesas, e para que haja festa.

Os discípulos, apegados aos seus princípios e costumes, mas também contaminados pela ideologia do mercado, ficam confusos: não veem no deserto ou na “lei do mercado” nenhuma possibilidade de encontrar meios e recursos para saciar a fome do povo.

A lição de Jesus é mais do que clara: a satisfação econômica das massas empobrecidas passa pela economia do dom, ou da partilha. A vontade do Deus não é o jejum, mas a abundância de pão para todos mediante a partilha e o companheirismo. Deixar alguém morrer de fome num país com imensas riquezas equivale a um assassinato.

 

Meditação:

§   Releia o texto dando atenção à atitude e às palavras de Jesus diante das necessidades do povo e à reação dos discípulos

§   Você consegue perceber qual é o segredo ou o dinamismo que desabrocha na abundância de alimento para todos?

§   Você acha correto dizer “só Jesus pode dar uma solução” quando ele começa perguntando “quantos pães vocês têm”?

§   Como esta ação de Jesus, e as lutas atuais pelo direito à alimentação, se relacionam com a Eucaristia?

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