Deixar alguém morrer de fome num país rico é um assassinato | 624 | 15.02.2025
| Marcos 8,1-10
O episódio de
hoje é uma provocativa lição de economia política, centrada em dois princípios
gêmeos: a compaixão e o companheirismo. A segunda distribuição de alimento ao
povo faminto, conhecida como multiplicação dos pães, além de ser uma lição de solidariedade
econômica, é uma lição de reforço na formação dos discípulos e discípulas,
ainda reticentes diante da novidade do Evangelho.
Não quero chocar ninguém, mas precisamos
reconhecer que o núcleo deste acontecimento não é a multiplicação milagrosa de
pães e peixes, mas a distribuição solidária e justa de alimentos a quem deles
tem necessidade. Isso fica claro quando Jesus, chamando os discípulos, diz:
“Tenho compaixão dessa multidão, porque faz três dias que está comigo e não tem
nada para comer”.
E não se trata de cidadãos plenos,
de gente que pertence ao povo judeu, mas de estrangeiros, ou pagãos. Para
Jesus, aqueles que os judeus consideravam malditos, impuros, cães, são os
pobres e muito queridos de Javé. Por isso, este segundo relato de distribuição
de alimentos aos famintos é guiado pelo tema da acolhida e do socorro aos que
“vieram de longe” e são excluídos do judaísmo.
Ao que parece, fazendo isso Jesus
também enfrenta e contesta o jejum ritual pregado e praticado pelos fariseus,
especialmente quando se defronta com o jejum ou a fome real do povo. Quando a
fome é concreta, o jejum, por mais piedoso que seja, deve ser superado pela
partilha e atendimento às necessidades humanas, para que haja pão em todas as
mesas, e para que haja festa.
Os discípulos, apegados aos seus
princípios e costumes, mas também contaminados pela ideologia do mercado, ficam
confusos: não veem no deserto ou na “lei do mercado” nenhuma possibilidade de
encontrar meios e recursos para saciar a fome do povo.
A
lição de Jesus é mais do que clara: a satisfação econômica das massas
empobrecidas passa pela economia do dom, ou da partilha. A vontade do Deus não
é o jejum, mas a abundância de pão para todos mediante a partilha e o
companheirismo. Deixar alguém morrer de fome num país com imensas riquezas
equivale a um assassinato.
Meditação:
§ Releia
o texto dando atenção à atitude e às palavras de Jesus diante das necessidades
do povo e à reação dos discípulos
§ Você
consegue perceber qual é o segredo ou o dinamismo que desabrocha na abundância
de alimento para todos?
§ Você
acha correto dizer “só Jesus pode dar uma solução” quando ele começa
perguntando “quantos pães vocês têm”?
§ Como
esta ação de Jesus, e as lutas atuais pelo direito à alimentação, se relacionam
com a Eucaristia?
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