Jesus faz bem todas as coisas e sem discriminar ninguém | 623 | 14.02.2025
| Marcos 7,31-37
No texto de
ontem, vimos como a insistência e o argumento de uma mulher pagã faz Jesus
“mudar” de opinião. Deus é pai, e não trata ninguém como indigno ou impuro,
como se fosse um cãozinho desprezível. Anunciando e realizando o Reino de Deus,
Jesus derruba os muros que classificam, hierarquizam e opõem as pessoas e
povos.
Na cena de hoje, Jesus continua em
território pagão, e sua ação libertadora vai se estendendo a toda a região
circunvizinha à Galileia. É ali que pessoas anônimas levam a Jesus um homem que
tinha extrema dificuldade de se comunicar verbalmente. Tudo indica que é mais
um pagão, como o são também aqueles que o levam a Jesus e pedem que imponha as
mãos sobre ele.
Na mentalidade judaica, os pagãos
eram pessoas impuras, das quais o judeu deveria afastar-se para não se tornar
impuro, assim como era considerada impura a saliva humana. Sem nenhuma
pretensão de fama, mas mantendo seu confronto com o sistema de pureza, Jesus
leva o surdo-mudo para fora do olhar público, toca sua língua com sua saliva e
seus ouvidos com os dedos.
Com estes dois gestos, Jesus
solapa mais uma vez as bases da ideologia da pureza, que delimita a pertença ao
povo judeu e exclui todos os demais, como os trabalhadores manuais, os doentes
e os pecadores em geral. Gritando, Jesus abre os ouvidos e solta a língua
daquele homem pagão, de modo que ele e seus amigos anônimos deixam a zona da
exclusão e se tornam testemunhas de Jesus.
Para aquele homem, isso significa
uma formidável mudança de status social. Aquilo que Jesus luta para provocar
nos seus discípulos torna-se possível com gente excluída: eles ouvem Jesus e
testemunham abertamente o bem que ele faz sem olhar a quem. E, não esqueçamos,
o que Jesus faz e ensina deve ser normativo para quem o segue.
É
terrivelmente perniciosa e anticristã a ideologia que afirma a supremacia do
branco sobre os outros, do rico sobre o empobrecido, do homem sobre a mulher,
do ocidente sobre o oriente, dos católicos sobre os protestantes. Não há como
ser cristão e sustentar isso, nem velhas e danosas lições como “Deus acima de
todos, Brasil acima de tudo”. Jesus socorre a todos, e não só “as pessoas de
bem”.
Meditação:
§ Releia
o texto, contemplando atentamente os gestos dos pagãos e de Jesus, mas também o
que diz Jesus e o que dizem os pagãos
§ Você
acha que as pessoas e grupos excluídos tem o espaço que lhes é devido na Igreja
e na sociedade?
§ Será
que muitos cristãos e comunidades sentem-se mais à vontade reproduzindo
ideologias que separam que aderindo à escandalosa e provocadora liberdade
inclusiva de Jesus?
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