Quem não é contra o Evangelho do Reino é a nosso favor | 635 | 26.02.2025
| Marcos 9,38-40
É
paradoxal que os mesmos discípulos que resistem a seguir Jesus pelas vias da
compaixão e não conseguem expulsar um espírito mau que amordaça um jovem (cf.
Mc 9,14-29) queiram proibir que outros o façam. Parece que eles querem
manter o monopólio do exorcismo como status e privilégio, como se o fizessem em nome deles
mesmos.
A resposta de Jesus
chama à abertura e à colaboração ecumênica: Quem tem um coração grande, um
olhar abrangente e uma fé confiante não imagina ter concorrentes por todo lado.
Só uma mente imatura e institucionalizada pode se mostrar incapaz de reconhecer
o bem que outros fazem e alimentar o desejo de que todos peçam sua aprovação.
Por que esta
incapacidade de muitos de nós em respeitar, valorizar e cooperar com as demais
Igrejas cristãs? Será que aquilo que temos em comum não é mais importante que
as picuinhas que nos diferenciam? Se eles estão a favor de Jesus Cristo,
poderiam estar contra nós?
A mesma reflexão se
aplica à nossa relação com os movimentos sociais e culturais. Passou o tempo de
ver em tudo o gérmen da discórdia e do confronto. Projetos que nascem fora das
sacristias e das bênçãos eclesiásticas trazem a secreta marca do Espírito de
Deus e realizam um bem enorme à humanidade. E até mesmo o copo de água não
passa sem reconhecimento aos olhos de Deus.
Sejamos sinceros e
verdadeiros: o bem e a justiça podem vir de fora da Igreja, e a traição e o
escândalo podem vir de dentro dela. Muitos dos problemas que nossa Igreja
enfrenta hoje são gerados e alimentados no seu próprio ventre. A ruptura com o
Evangelho e muitas práticas que o negam surgem e são toleradas em nossas
comunidades eclesiais.
Jesus enfrenta corajosamente este problema. Sob a pressão da
perseguição, havia quem abandonasse o Evangelho, e isso era uma pedra de
tropeço para muitos ‘pequeninos’. O corpo eclesial tinha membros que
escandalizavam. E a proposta de Jesus é radical: vigilância e firmeza. É melhor
ser uma comunidade pequena e coerente que grande e cheia de contradições. Ela
não pode limitar ou perder sua missão de ser sal, de fazer a diferença.
Meditação:
§ Releia
o texto e contemple a cena, procurando dar atenção a cada gesto e a cada
palavra, tanto as de Jesus como as de João
§ Será
que João, o discípulo no qual vemos amor e delicadeza, não estaria mostrando a
rigidez doutrinal que nos ronda a todos?
§ Será
que os problemas de nossas comunidades (eclesiais ou religiosas) vem somente de
fora, ou principalmente de dentro?
§ Como
costumamos agir em relação aos membros da comunidade que caem no erro ou causam
escândalos?
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