O desprezo e a exclusão de quem é diferente é uma violência | 621 | 12.02.2025
| Marcos 7,14-23
Ontem refletimos
sobre a primeira parte do confronto dos doutores da lei com Jesus em torno da questão
da pureza legal. Eles acham que Jesus ensina a relativizar a lei de Deus, e os
seus discípulos se comportam conforme ao ensinamento do mestre. Mas não é Jesus
que desrespeita a Palavra de Deus, e sim os próprios escribas, que a deviam
ensiná-la e, na verdade, a esvaziam e manipulam.
Mesmo que não pareça à primeira
vista, a questão da pureza é crucial na mensagem e na prática de Jesus. Os
rituais e preceitos de pureza tinham o objetivo de manter a unidade fechada do
judaísmo às custas da exclusão ou menosprezo de todos os demais povos, culturas
e religiões. A equação era simples: puro = judeu; impuro = pagão. Portanto, por
trás da discussão sobre a pureza e a purificação está a questão da admissão dos
excluídos como membros do povo de Deus.
A questão é tão central que Jesus
insiste, e voltará a isso com frequência: “Ouçam-me todos, e entendam!” “Então,
nem vocês (os discípulos) entendem?” Para as multidões, Jesus esclarece a
questão recorrendo a uma breve metáfora: assim como nenhum alimento ingerido
pode tornar uma pessoa impura, nenhuma relação com pessoas pagãs pode
desqualificar ou tornar impuro quem quer que seja.
Interrogado pelos discípulos,
Jesus explica a metáfora. Declarando puros todos os alimentos, ele considera
insustentável a separação entre judeus e pagãos. O que nos torna maus ou
inaceitáveis aos olhos de Deus não é o encontro, a acolhida ou o diálogo com as
pessoas diferentes, de outras religiões ou grupos, mas as atitudes, práticas e
pretensões de superioridade, de intolerância, de distanciamento.
Jesus destrói a
ideologia da pureza e solapa em suas bases a ideologia da separação e da
supremacia dos judeus sobre os pagãos. Ele declara que todos os alimentos são
puros, afirma que todas as pessoas possuem sua dignidade, e resgata a dignidade
dos excluídos, como quando “purifica” os leprosos. Jesus mostra que o sistema
de pureza, que diz proteger o povo, na verdade oprime os mais vulneráveis. E
hoje, o mito da meritocracia e a ideologia do empreendedorismo continuam
classificando e descartando pessoas.
Meditação:
§ Tome
consciência de que Jesus não está a falar de pureza ou impureza de alimentos, mas
da inclusão ou exclusão de pessoas
§ Quais
são os argumentos usados hoje para defender a superioridade de povos, religiões
ou classes sobre outros?
§ Por
que ainda tememos tanto a relação, a cooperação e o diálogo com os pobres e
marginalizados, com as demais Igrejas e outras religiões?
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