sábado, 1 de fevereiro de 2025

Apresentação de Jesus

UMA FÉ SIMPLES

O relato do nascimento de Jesus é desconcertante. Segundo Lucas, Jesus nasce numa terra onde não há lugar para O receber. Os pastores tiveram de O procurar por toda Belém até que o encontraram num lugar afastado, deitado numa manjedoura, sem mais testemunhas do que os Seus pais.

Aparentemente, Lucas sente necessidade de construir um segundo relato em que a criança é resgatada do anonimato para ser apresentada publicamente. Que lugar mais apropriado do que o Templo de Jerusalém para Jesus ser acolhido solenemente como o Messias enviado por Deus ao seu povo?

Mas o relato de Lucas é desconcertante. Quando os pais se aproximam do templo com a criança, quem vem ao seu encontro não são os sumos sacerdotes e outros líderes religiosos. Mais adiante, eles o entregarão para ser crucificado. Jesus não pode ser nessa religião segura de si mesma e esquecida do sofrimento dos pobres.

Tampouco O vêm receber os mestres da Lei que ensinam as suas tradições humanas nos átrios daquele Templo. Anos mais tarde rejeitarão Jesus por curar os doentes violando a lei do sábado. Jesus não encontra acolhimento em doutrinas e tradições religiosas que não ajudam a viver uma vida mais digna e saudável.

Quem acolhe Jesus e o reconhece como Enviado de Deus são dois anciãos de fé simples e de coração aberto, que viveram as suas longas vidas esperando a salvação de Deus. Os seus nomes parecem sugerir que são personagens simbólicos. O ancião chama-se Simeão (o Senhor ouviu), a anciã chama-se Ana (oferenda). Eles representam a tanta gente de fé simples que, em todos os povos de todos os tempos, vivem com a sua confiança colocada em Deus.

Os dois pertencem aos ambientes mais saudáveis de Israel. São conhecidos como o grupo dos pobres do Senhor. São pessoas que não têm nada, apenas a sua fé em Deus. Não pensam na sua fortuna ou no seu bem-estar. Só esperam de Deus a consolação que o seu povo necessita, a libertação que procuram geração após geração, luz que ilumina as trevas nas quais vivem os povos da terra. Agora sentem que as suas esperanças se cumprem em Jesus.

Esta fé simples que espera de Deus a salvação, é a fé da maioria. Uma fé pouco cultivada, que se concretiza quase sempre em orações desajeitadas, que se formula em expressões pouco ortodoxas, que se desperta sobretudo em momentos difíceis de apuro. Uma fé que Deus não tem nenhum problema em entender e acolher.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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