quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Unidos de corpo e alma, sem separação e sem privilégios

Unidos de corpo e alma, sem separação e sem privilégios | 637 | 28.02.2025 | Marcos 10,1-12

Ontem vimos que, num contexto de perseguição que levava parte dos discípulos à apostasia e à traição, recorrendo à metáfora do sal, Jesus aponta para o trabalho paciente e firme pela solução do conflito e recuperação da paz e da harmonia. Ele pede que tenhamos este sal e vivamos a paz com os demais, inclusive com os traidores.

O episódio de hoje ocorre num novo cenário e introduz um novo tema na formação dos discípulos. A questão já havia aparecido antes, mas agora emerge com novas conotações: Como aplicar corretamente a lei de Moisés nas relações matrimoniais? Num horizonte mais amplo, para abordar essa questão, Jesus critica as interpretações que subvalorizam e esvaziam a Lei.

Diante da questão concreta do divórcio, Jesus escapa da solução simplória que consiste em condenar ou defender a separação daquilo que Deus quer que esteja visceralmente unido. Ele nos convida a ir à fonte da lei, que é a criação e a aliança de Deus com a humanidade. Elas têm prioridade sobre as leis e os casuísmos inventados pelos doutores da Lei e até mesmo por Moisés.

Jesus sabe muito bem que a Lei dada por Moisés em relação à possibilidade do divórcio foi uma concessão à dureza de coração dos homens, mergulhados até o pescoço no patriarcalismo. A lei de Moisés assegurou aos homens o direito despedir as mulheres, mas não estendeu esse direito às mulheres. É uma lei androcêntrica e patriarcal. Segundo Jesus, Deus jamais quis o patriarcado.

Chamando à cena a criação e a aliança, Jesus sublinha a insuperável igualdade e a união inseparável do homem e da mulher. O divórcio ou separação rompe o vínculo primário e fere a ambos. Por isso, o ensino de Jesus ressoa como uma crítica clara e pública à solução patriarcal, que é livrar o homem do “peso” da sua responsabilidade.

Mesmo assim, Jesus não transforma o sonho de Deus numa pedra a ser atirada contra os casais que fracassam no projeto matrimonial. Ele aceita o fracasso, mas proíbe o recasamento. Mais ainda: Jesus resgata a paridade do homem e da mulher também na separação. Ambos pecam se casarem de novo, e não apenas a mulher. O divórcio é uma realidade inegável, mas deve ser vivido na justiça. Homem e mulher podem tomar a iniciativa, e é preciso proteger o mais fraco.

 

Meditação:

§ Releia o texto e contemple a cena, procurando dar atenção a cada gesto e a cada palavra, tanto de Jesus como dos fariseus

§ Você não acha que algumas pregações e doutrinas passam a ideia de que a negação do divórcio é a única questão importante?

§ Você percebe a postura equilibrada e justa de Jesus, resgatando o ideal da união profunda e, ao mesmo tempo, sendo tolerante?

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