Unidos de corpo e alma, sem separação e sem privilégios | 637 | 28.02.2025
| Marcos 10,1-12
Ontem
vimos que, num contexto de perseguição que levava parte dos discípulos à
apostasia e à traição, recorrendo à metáfora do sal, Jesus aponta para o
trabalho paciente e firme pela solução do conflito e recuperação da paz e da
harmonia. Ele pede que tenhamos este sal e vivamos a paz com os demais,
inclusive com os traidores.
O episódio de hoje
ocorre num novo cenário e introduz um novo tema na formação dos discípulos. A
questão já havia aparecido antes, mas agora emerge com novas conotações: Como
aplicar corretamente a lei de Moisés nas relações matrimoniais? Num horizonte
mais amplo, para abordar essa questão, Jesus critica as interpretações que
subvalorizam e esvaziam a Lei.
Diante da questão
concreta do divórcio, Jesus escapa da solução simplória que consiste em
condenar ou defender a separação daquilo que Deus quer que esteja visceralmente
unido. Ele nos convida a ir à fonte da lei, que é a criação e a aliança de Deus
com a humanidade. Elas têm prioridade sobre as leis e os casuísmos inventados
pelos doutores da Lei e até mesmo por Moisés.
Jesus sabe muito bem
que a Lei dada por Moisés em relação à possibilidade do divórcio foi uma
concessão à dureza de coração dos homens, mergulhados até o pescoço no
patriarcalismo. A lei de Moisés assegurou aos homens o direito despedir as
mulheres, mas não estendeu esse direito às mulheres. É uma lei androcêntrica e
patriarcal. Segundo Jesus, Deus jamais quis o patriarcado.
Chamando à cena a
criação e a aliança, Jesus sublinha a insuperável igualdade e a união
inseparável do homem e da mulher. O divórcio ou separação rompe o vínculo
primário e fere a ambos. Por isso, o ensino de Jesus ressoa como uma crítica
clara e pública à solução patriarcal, que é livrar o homem do “peso” da sua
responsabilidade.
Mesmo assim, Jesus não transforma o sonho de Deus numa pedra a
ser atirada contra os casais que fracassam no projeto matrimonial. Ele aceita o
fracasso, mas proíbe o recasamento. Mais ainda: Jesus resgata a paridade do
homem e da mulher também na separação. Ambos pecam se casarem de novo, e não
apenas a mulher. O divórcio é uma realidade inegável, mas deve ser vivido na
justiça. Homem e mulher podem tomar a iniciativa, e é preciso proteger o mais
fraco.
Meditação:
§ Releia
o texto e contemple a cena, procurando dar atenção a cada gesto e a cada
palavra, tanto de Jesus como dos fariseus
§ Você
não acha que algumas pregações e doutrinas passam a ideia de que a negação do
divórcio é a única questão importante?
§ Você
percebe a postura equilibrada e justa de Jesus, resgatando o ideal da união
profunda e, ao mesmo tempo, sendo tolerante?
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