sábado, 1 de fevereiro de 2025

O Evangelho dominical (02.02.2025)

NINGUÉM ESTÁ SOZINHO

Ainda hoje existe entre os cristãos um certo elitismo religioso que é indigno de um Deus que é amor infinito. Há quem pense que Deus é um Pai estranho que, embora tenha milhões e milhões de filhos e filhas que nascem geração após geração, na realidade só se preocupa verdadeiramente com os seus favoritos. Deus agiria sempre assim: escolhe um povo eleito, seja o povo de Israel ou a Igreja, e dedica-se totalmente a ele, deixando os outros povos e religiões num certo abandono.

Mais ainda. Afirmou-se com toda a tranquilidade que não há salvação fora da Igreja, citando frases como a tão conhecida de São Cipriano, que, retirada do seu contexto, é assustadora: «Não pode ter Deus como Pai que não tem a Igreja como Mãe».

É certo que o Concílio Vaticano II ultrapassou esta visão indigna de Deus ao afirmar que «não está longe daqueles que procuram, entre sombras e imagens, o Deus desconhecido, pois que todos recebem d’Ele a vida, a inspiração e todas as coisas, e o Salvador quer que todos os homens se salvem» (Lumen gentium 16), mas uma coisa são estas afirmações conciliares e outra os hábitos mentais que continuam a dominar a consciência de muitos cristãos.

Deve ser dito com toda a clareza. Deus, que cria todos por amor, vive centrado sobre todas e cada uma das suas criaturas. A todas chama e atrai para a felicidade eterna em comunhão com Ele. Nunca houve um homem ou uma mulher que tenha vivido sem que Deus o tenha acompanhado desde o mais profundo do seu ser. Ali onde há um ser humano, qualquer que seja a sua religião ou o seu agnosticismo, ali está Deus suscitando a sua salvação. O seu amor não abandona nem discrimina ninguém. Como diz São Paulo: «Em Deus não há distinção de pessoas» (Rm 2,11).

Rejeitado na sua própria cidade de Nazaré, Jesus recorda a história da viúva de Sarepta e a de Naamã, o sírio, ambos estrangeiros e pagãos, para deixar claro que Deus se preocupa com os seus filhos e filhas, mesmo que não pertençam ao povo eleito de Israel. Deus não se ajusta aos nossos esquemas e discriminações. Todos são seus filhos e filhas, os que vivem na Igreja e os que a deixaram. Deus não abandona ninguém.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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