Que preço nos dispomos a pagar pela nossa coerência? | 616 | 07.02.2025
| Marcos 6,14-29
Ontem meditamos
sobre o episódio do envio dos doze apóstolos e o ensino sobre o que é essencial
na missão, em qualquer tempo e lugar: sair ao encontro como peregrinos e
hóspedes; confiar na força libertadora dos meios frágeis; manter a abertura e o
diálogo; fazer bem e fazer bem sem olhar a quem. E, na cena de amanhã, refletiremos
sobre o retorno e a partilha da experiência missionária.
É aparentemente estranho que o
evangelista coloque, entre o envio e o retorno dos apóstolos, o relato sobre a
condenação e morte de João Batista. Parece um parêntesis. Mas não é! Inserindo
aqui este episódio, Marcos quer dar a entender que os apóstolos herdam tanto a
missão como o destino de Jesus. Ele inicia sua missão com a prisão de João, é
comparado a ele, e terá o destino dos profetas. Assim também os discípulos
enviados em seu nome.
Neste relato temos uma crítica
mordaz às elites que controlam Israel, um registro do conluio incestuoso de
interesses políticos, militares e comerciais, e uma denúncia vigorosa dos seus
caprichos assassinos. Herodes convida para sua festa a nobreza, o exército e as
lideranças regionais. O juramento de um Herodes bêbado prometendo dar à
bailarina, sua enteada, a metade dos seus bens assinala o modo estranho como as
elites tomam suas decisões políticas.
Mesmo que aparentemente deseje
conhecer Jesus, Herodes não o conseguirá, pois silenciou a Voz que anunciava o
Verbo, e sem voz não há palavra. Seu casamento com a cunhada, que era também,
como o costume de então, uma aliança política e diplomática, era criticada por
João. Imaginando que Jesus seria João Batista que retornava, Herodes reconhece
seu fracasso na tentativa de calar a voz dos profetas que o criticavam.
Nessa
espécie de crônica policial percebemos o recorrente confronto entre reis
arrogantes e enfraquecidos e profetas que não calam a verdade, mesmo quando têm
que pagar essa fidelidade com a própria vida. Jesus seguirá por esse mesmo caminho,
e terá semelhante destino. E os discípulos missionários que ele envia também devem
se preparar para isso. Os cristãos serão sempre luz que revela o que costuma
ser escondido, sinais de contradição!
Meditação:
§ Releia o texto com atenção, observando
bem as nuances do relato e participando da cena que ele descreve
§ Você percebe a crítica irônica do
evangelista às elites da Galileia, assim como sua denúncia vigorosa da sua
violência?
§ O que explica o arrefecimento da profecia
das lideranças cristãs nos tempos atuais, e como poderemos resgatá-la?
§ Como desenvolver nos discípulos
missionários de hoje a coragem da verdade e a ousadia do testemunho?
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