Jesus cura as doenças geradas por estruturas violentas | 612 | 03.02.2025
| Marcos 5,1-20
Acalmada
a tempestade de medos que os agitava, os discípulos chegaram com Jesus ao
território pagão. Esta região ficava próxima a Tiberíades, cidade construída
por Herodes em homenagem ao imperador Tibério. Ela foi erguida sobre os restos
de um cemitério e, por isso, Herodes teve que forçar os judeus para que fossem
habitar nela. A menção aos porcos reforça o caráter impuro dessa cidade
considerada pagã pelos judeus.
Este é o mais
dramático relato de exorcismo de Marcos, tanto pelos detalhes narrativos como
pela situação da pessoa dominada e pelos efeitos dessa dominação. Aquele homem
vivia errante nos cemitérios e feria o próprio corpo. É um retrato da
desumanização à qual havia chegado, sob a dominação dos demônios. Mas é
importante compreender o que são e o que representam estes demônios.
Chama a atenção o fato
de Jesus pôr um fim às tentativas dos demônios para nomeá-lo. O título de Filho
do Deus Altíssimo tem ressonâncias pagãs, e representa uma ameaça para as
pessoas já terrivelmente feridas e segregadas. E, mais que isso, Jesus consegue
impor-lhes a obrigação de dizer quem são. “Meu nome é legião, porque somos
muitos”, é a resposta do demônio a Jesus. Aquele homem destruído em sua personalidade
é uma das vítimas do império.
O episódio ocorre numa
região marcada pela dominação romana, com forte presença do comércio e do
exército. Ora, o nome de um dos destacamentos do exército romano era exatamente
“legião”, e seu símbolo era o porco! Marcos não podia ser mais claro: o demônio
que agride e despersonaliza o povo é a dominação romana, através do exército!
Não se trata de espíritos misteriosos, mas de sujeitos e instituições bem
concretas e identificáveis.
Libertado e reconstruído, o homem antes possuído e transtornado se
transforma em apóstolo. Tanto os cuidadores dos porcos como os comerciantes da
cidade percebem o “estrago” que Jesus faz nos seus negócios, e pedem, sem
rodeios, que ele se retire da região. Para alguns, um povo enfermo pelo medo e
pelo abandono é um bom negócio. E sempre há quem prefira os negócios funcionando
à custa de pessoas morrendo! Que não seja assim entre nós, nem em nossa Igreja!
Meditação:
§ Releia
o texto e perceba a degradação do homem possuído, a diálogo dele com Jesus, a
mudança que Jesus provoca nele
§ Hoje
volta a tentação de atribuir ao demônio o sofrimento das pessoas, enquanto que
Jesus nos ensina que não é assim
§ Quanto
maiores são as tensões vividas por um povo, tanto maior é a incidência de
doenças e transtornos
§ Senhor,
faze calar o tumulto interior que provocam em mim o medo, a competição e o egoísmo,
e liberta-me para amar
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