domingo, 2 de fevereiro de 2025

Estruturas violentas geram doenças

Jesus cura as doenças geradas por estruturas violentas | 612 | 03.02.2025 | Marcos 5,1-20

Acalmada a tempestade de medos que os agitava, os discípulos chegaram com Jesus ao território pagão. Esta região ficava próxima a Tiberíades, cidade construída por Herodes em homenagem ao imperador Tibério. Ela foi erguida sobre os restos de um cemitério e, por isso, Herodes teve que forçar os judeus para que fossem habitar nela. A menção aos porcos reforça o caráter impuro dessa cidade considerada pagã pelos judeus.

Este é o mais dramático relato de exorcismo de Marcos, tanto pelos detalhes narrativos como pela situação da pessoa dominada e pelos efeitos dessa dominação. Aquele homem vivia errante nos cemitérios e feria o próprio corpo. É um retrato da desumanização à qual havia chegado, sob a dominação dos demônios. Mas é importante compreender o que são e o que representam estes demônios.

Chama a atenção o fato de Jesus pôr um fim às tentativas dos demônios para nomeá-lo. O título de Filho do Deus Altíssimo tem ressonâncias pagãs, e representa uma ameaça para as pessoas já terrivelmente feridas e segregadas. E, mais que isso, Jesus consegue impor-lhes a obrigação de dizer quem são. “Meu nome é legião, porque somos muitos”, é a resposta do demônio a Jesus. Aquele homem destruído em sua personalidade é uma das vítimas do império.

O episódio ocorre numa região marcada pela dominação romana, com forte presença do comércio e do exército. Ora, o nome de um dos destacamentos do exército romano era exatamente “legião”, e seu símbolo era o porco! Marcos não podia ser mais claro: o demônio que agride e despersonaliza o povo é a dominação romana, através do exército! Não se trata de espíritos misteriosos, mas de sujeitos e instituições bem concretas e identificáveis.

Libertado e reconstruído, o homem antes possuído e transtornado se transforma em apóstolo. Tanto os cuidadores dos porcos como os comerciantes da cidade percebem o “estrago” que Jesus faz nos seus negócios, e pedem, sem rodeios, que ele se retire da região. Para alguns, um povo enfermo pelo medo e pelo abandono é um bom negócio. E sempre há quem prefira os negócios funcionando à custa de pessoas morrendo! Que não seja assim entre nós, nem em nossa Igreja!

                                  

Meditação:

§ Releia o texto e perceba a degradação do homem possuído, a diálogo dele com Jesus, a mudança que Jesus provoca nele

§ Hoje volta a tentação de atribuir ao demônio o sofrimento das pessoas, enquanto que Jesus nos ensina que não é assim

§ Quanto maiores são as tensões vividas por um povo, tanto maior é a incidência de doenças e transtornos

§ Senhor, faze calar o tumulto interior que provocam em mim o medo, a competição e o egoísmo, e liberta-me para amar

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