As prioridades de um Estado democrático
O desafio
do emprego ocupa cada vez mais espaço na agenda pública e privada,
especialmente com o advento da inteligência artificial e com as escaramuças do
Trump, que age domo “imperador do mundo”. Até os empresários se esmeram em
apresentar a geração de vagas de trabalho entre as suas prioridades. A
impressão é que gerar emprego se tornou selo de autenticidade e legitimidade de
todos os empreendimentos econômicos, culturais e políticos.
Mas eu
pergunto, e perguntar não ofende, e ajuda a esclarecer e alinhar o debate: O
objetivo principal de uma empresa é gerar empregos ou produzir lucro para seus acionistas
ou proprietários? Um governo não tem outra finalidade a não ser atrair,
mediante a oferta de generosos subsídios, empresas nacionais ou estrangeiras
que prometam gerar empregos e aumentar o Produto
Interno Bruto?
O
dicionário nos ajuda, definindo emprego
como ato ou efeito de empregar; como uma função, cargo ou lugar. E diz que empregar é dar emprego, aplicação ou uso;
ou admitir alguém como empregado. Esclarece que empresa é uma unidade econômica de produção e comercialização de
bens e serviços que objetiva o lucro. Por fim, lucro é a vantagem ou interesse que se tira de uma operação
comercial ou industrial.
A conclusão
é óbvia: por mais que se queira disfarçar, o objetivo principal de uma empresa
é o lucro, vantagens e interesses mediante a direção e o trabalho dos seus
proprietários e, principalmente, através do trabalho dos empregados. Elas fazem
uso dos empregados e deles se aproveitam em função do seu objetivo. Ninguém
precisa visitar o marxismo para aprender esta lição primária.
E qual é
o objetivo do Estado, particularmente, do brasileiro? Eis o que diz a
Constituição sobre os objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil (artigo 3º): “Construir
uma sociedade livre, justa e solidária;
garantir o desenvolvimento nacional; erradicar
a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais; promover o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação”.
Assim,
qualquer instituição, projeto ou iniciativa pública ou privada, nas esferas
municipal, estadual ou nacional, será legítima na medida em que realizar os
valores da liberdade, da justiça e da solidariedade; contribuir na eliminação
da pobreza e na redução das desigualdades; promover o bem de todos os cidadãos,
indistintamente; e garantir o desenvolvimento paritário das diversas regiões. O
crescimento econômico, o desenvolvimento tecnológico e o emprego são metas
absolutamente insuficientes!
E, então,
o que dizer daqueles que repetem como um refrão enfadonho a necessidade de favorecer
as empresas para que cresçam economicamente e haja emprego e, assim, o povo
seja servido; de que “o bolo precisa crescer antes de ser repartido”; de que a
religião deve se ocupar apenas das coisas da alma e da prosperidade individual.
São manobras diversivas e pensamentos enganosos. Ou Jesus não veio para que
todos tenham vida plena e em abundância (cf. Jo 10,10)?
Dom Itacir Brassiani msf
Bispo diocesano de Santa Cruz do Sul
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