sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

No coração de Jesus, os pequenos ocupam o centro

No coração de Jesus, os pequenos ocupam o centro | 638 | 01.03.2025 | Marcos 10,13-16

No texto que refletimos ontem, Jesus criticava a interpretação machista e patriarcal do vínculo matrimonial e, num horizonte mais amplo, a leitura ideológica e interesseira das escrituras. Seguindo no mesmo contexto relacional, no texto de hoje Jesus passa das relações entre marido e mulher à relação com as crianças.

Quando uma relação matrimonial fracassa, torna-se pesada e tensa e desemboca numa separação, geralmente as primeiras vítimas são os filhos e filhas pequenos. Mas, no evangelho de Marcos, as crianças, além de personagens reais, são figuras simbólicas, e representam todas as pessoas e grupos vulneráveis, tratadas como menores.

O texto deixa entrever que as comunidades cristãs enfrentavam dificuldades para reorganizar as relações de poder nas comunidades e no interior das famílias. Enquanto Jesus sublinha as atitudes de acolhida e inclusão, seus discípulos, como vimos nos últimos dias, cedem à tentação da superioridade, da rejeição e da exclusividade. Como nós, eles têm dificuldade de encarnar o Evangelho na vida.

O pequeno texto de hoje conclui a longa seção literária na qual o evangelista trata da correta relação entre os primeiros (‘pessoas de bem’) e os últimos (‘elementos suspeitos’). Jesus inverte esta relação, e coloca as crianças (que eram tratadas como últimas ou deixadas na periferia) no centro. Este caso das crianças é, na verdade, uma parábola da lógica do Reino de Deus.

Naquele tempo, e até poucos séculos atrás, as crianças não tinham lugar num ambiente social no qual predominavam os direitos dos adultos. Mas até hoje, muitos “pequeninos” – como os negros, os indígenas, os pobres, os migrantes, os toxicodependentes, os idosos, os analfabetos – não são bem vistos em alguns círculos.

A prática e o ensino de Jesus são claros: na família cristã, iluminada pelo Evangelho, assim como nas comunidades eclesiais, as crianças têm seu lugar e são bem colhidas. Mas não apenas elas, que hoje tendem a ser socialmente tratadas como “majestade” e a sempre imporem suas infantis vontades. Todas as pessoas e grupos sociais fragilizados e vulneráveis devem ser acolhidos e tratados como cidadãos plenos, portadores de dignidade e sujeitos de direito.

 

Meditação:

·        Releia o texto e contemple a cena, procurando dar atenção a cada gesto e a cada palavra, tanto as de Jesus como dos discípulos

·        Como sua família e sua comunidade costumam tratar as pessoas e grupos sociais mais vulneráveis e fragilizados?

·        Por que tantos cristãos “de bem” ainda têm tanta dificuldade quando se trata de defender a dignidade dos marginalizados?

Nenhum comentário: