No coração de Jesus, os pequenos ocupam o centro | 638 | 01.03.2025
| Marcos 10,13-16
No texto que
refletimos ontem, Jesus criticava a interpretação machista e patriarcal do
vínculo matrimonial e, num horizonte mais amplo, a leitura ideológica e
interesseira das escrituras. Seguindo no mesmo contexto relacional, no texto de
hoje Jesus passa das relações entre marido e mulher à relação com as crianças.
Quando uma relação matrimonial
fracassa, torna-se pesada e tensa e desemboca numa separação, geralmente as
primeiras vítimas são os filhos e filhas pequenos. Mas, no evangelho de Marcos,
as crianças, além de personagens reais, são figuras simbólicas, e representam
todas as pessoas e grupos vulneráveis, tratadas como menores.
O texto deixa entrever que as
comunidades cristãs enfrentavam dificuldades para reorganizar as relações de
poder nas comunidades e no interior das famílias. Enquanto Jesus sublinha as
atitudes de acolhida e inclusão, seus discípulos, como vimos nos últimos dias,
cedem à tentação da superioridade, da rejeição e da exclusividade. Como nós,
eles têm dificuldade de encarnar o Evangelho na vida.
O pequeno texto de hoje conclui a
longa seção literária na qual o evangelista trata da correta relação entre os
primeiros (‘pessoas de bem’) e os últimos (‘elementos suspeitos’). Jesus
inverte esta relação, e coloca as crianças (que eram tratadas como últimas ou
deixadas na periferia) no centro. Este caso das crianças é, na verdade, uma
parábola da lógica do Reino de Deus.
Naquele tempo, e até poucos
séculos atrás, as crianças não tinham lugar num ambiente social no qual
predominavam os direitos dos adultos. Mas até hoje, muitos “pequeninos” – como
os negros, os indígenas, os pobres, os migrantes, os toxicodependentes, os
idosos, os analfabetos – não são bem vistos em alguns círculos.
A
prática e o ensino de Jesus são claros: na família cristã, iluminada pelo
Evangelho, assim como nas comunidades eclesiais, as crianças têm seu lugar e
são bem colhidas. Mas não apenas elas, que hoje tendem a ser socialmente
tratadas como “majestade” e a sempre imporem suas infantis vontades. Todas as
pessoas e grupos sociais fragilizados e vulneráveis devem ser acolhidos e
tratados como cidadãos plenos, portadores de dignidade e sujeitos de direito.
Meditação:
·
Releia o texto e contemple a cena,
procurando dar atenção a cada gesto e a cada palavra, tanto as de Jesus como
dos discípulos
·
Como sua família e sua comunidade
costumam tratar as pessoas e grupos sociais mais vulneráveis e fragilizados?
·
Por que tantos cristãos “de bem” ainda
têm tanta dificuldade quando se trata de defender a dignidade dos
marginalizados?
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