De que você ‘abre mão’ em vista de salvar a própria vida? | 630 | 21.02.2025
| Marcos 8,34-9,1
Depois do papel
contraditório de Pedro diante da pergunta de Jesus sobre o que os discípulos
pensavam dele, Jesus faz um convite público ao discipulado, colocando também
sua exigência fundamental: “Quem quiser vir após mim tome sua cruz e siga-me”.
Até esse momento, Pedro não é modelo que outros podem tomar para si mesmos.
Naquele tempo, a semântica da cruz
era claramente política: a crucifixão era a pena de morte que o Império Romano
impunha aos revoltosos das classes populares e aos escravos fugitivos. Carregar
a cruz fazia parte do rito de condenação política: desfilando publicamente com
a cruz às costas, o condenado ajudava a divulgar a ideia de que ele era mesmo
um criminoso.
Por isso, tomar a cruz e
carregá-la atrás de Jesus significa aceitar ser marginalizado pelo sistema
injusto que legitima a injustiça. Na mesma linha está a exigência de “renunciar
a si mesmo”: faz parte do estímulo aos soldados temerosos diante de uma batalha
iminente. Quem se deixa tomar pelo medo, acaba fortalecendo quem intimida. Um soldado
deve “morrer pela pátria ou viver sem razões”.
A ameaça de morte é a extrema
manifestação de poder. O medo diante dessa ameaça mantém intacto o poder dos
dominadores. Resistindo ao medo e assumindo a prática alternativa do Reino de
Deus, mesmo que isso custe a própria vida, os seguidores de Jesus contribuem
para a superação da injusta ordem dominante.
Questionando o que adianta ganhar
“mundos e fundos” e perder a vida, e perguntando o que uma pessoa estaria
disposta a dar em troca da vida, Jesus sublinha que a fidelidade a ele não tem
preço. Sua proposta é o confronto com as instituições e grupos que oprimem, e
não a adequação medrosa e infantil a elas. Assim, quem quiser seguir Jesus
precisa identificar-se com se programa “subversivo”.
A “prova dos nove” do discípulo
será sua atitude diante das autoridades. Quem renuncia a si mesmo acabará naturalmente
carregando a cruz da perseguição e da execração pública, mas terá exatamente
nisso a sua grandeza. O próprio Jesus se orgulhará de tê-lo como amigo e
discípulo e o defenderá. E isso pode significar reconhecer e testemunhar o
Reino de Deus se realizando com força e clareza, ainda em vida.
Meditação:
§ Releia o texto frase por frase,
percebendo o significado político e social das expressões utilizadas por Jesus
§ O que você está disposto a dar para
conservar sua vida? O que você estaria disposto a fazer para que venha o Reino
de Deus?
§ Quais são as consequências dessas
exigências de Jesus para quem adere ele e deseja seguir seus passos hoje?
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