As pessoas não são árvores que andam, mas irmãos e irmãs | 628 | 19.02.2025
| Marcos 8,22-26
No trecho do evangelho de ontem, estando no barco com seus
discípulos, Jesus os adverte sobre o risco de se deixar contaminar com o
“fermento” dos fariseus e de Herodes: a ideologia que leva à separação
orgulhosa e à deterioração das relações, enquanto que o “fermento” do Reino de
Deus leva à aproximação solidária.
Jesus também questionava seus discípulos, pois eles demonstram que
não conseguem compreender o significado nem assumir as consequências do gesto
da distribuição dos pães e peixes para os pagãos. Para Jesus, eles parecem ter
ouvidos, mas não ouvem; demonstram ter olhos, mas não conseguem ver nada.
No episódio de hoje, algumas pessoas levam um cego, pedindo que
Jesus o toque e cure. Isso acontece no povoado de Betsaida. Jesus toma o cego
pela mão e o conduz para fora do povoado, como que libertando-o da visão
estreita e fechada que uma cidade murada impõe aos seus habitantes. Depois, com
a saliva e a terra, faz barro e impõe sobre os olhos dele.
Com isso, Jesus desafia a lei da pureza, o veneno que torna cegas
as pessoas: primeiro, pegando o cego pela mão, Jesus adquire sua impureza;
depois, colocando terra com saliva sobre os olhos do cego, contamina ele com a
impureza da saliva. São estes gestos e ações que aproximam as pessoas e
eliminam distâncias, derrubam muros e desfazem hierarquias e vão abrindo os
olhos dos cegos.
No centro da cena está uma pergunta, dirigida aos discípulos e
discípulas de todos os tempos: “Estás vendo alguma coisa?” É claro que essa
pergunta não se refere apenas à visão física. A questão mais relevante é ‘como’
vemos as pessoas, acontecimentos e coisas: com um olhar de indiferença, de
cobiça, de desprezo, de posse? Ou conseguimos ver em cada pessoa, um irmão ou
uma irmã?
E o que vemos quando olhamos para a Igreja? Uma espécie de
supermercado religioso, onde vou me servir dos artigos que me interessam, para
consumi-los solitariamente, disposto inclusive a pagar para adquiri-los, mas
recusando qualquer compromisso? E como vejo o Estado? Como uma caixa-forte à
qual sonego o que devo e da qual extraio tudo o que me for possível?
Meditação:
· Releia a cena com a inteligência e o
coração, procurando inserir-se nela e interagir com os diversos personagens
· Será que também nós estamos cegos e
surdos, incapazes de ouvir a novidade do Evangelho e de ver as pessoas com o
olhar de Deus
· O que você está vendo de mais verdadeiro
e relevante hoje, na Igreja e na sociedade? Você consegue ver os outros como
irmãos e próximos, ou os trata apenas como um número ou um atrapalho?
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