(Jo 1,1-18) Último dia do ano...
Hoje, dominados pela ansiedade de preparar a ceia de revelion e pela urgência
do rito simpaticamente pagão da passagem de ano, do adeus ao ano que termina e das
boas vindas ao ano novo, poucos pensam na oração... Quase todos esperamos,
ilusioriamente, que o ano que se inicia seja diferente, que marque uma
virada... Esperamos que seja assim, mas, como nos recorda a liturgia, isso não
é o essencial. A visão cósmica de João, que lemos no evangelho de hoje, o
resumo de tudo que ele escreve já no fim da vida e coloca no início do seu
explêndido evangelho, nos oferecem a perspectiva adequada. O tempo é o lugar
onde se realiza a salvação, o lugar que Deus nos oferece para que nos
conheçamos a nós mesmos e reconheçamos sua presença, para que entendamos o que
devemos fazer nesta terra. Hoje somos convidados a fazer uma memória do ano que
termina, ano difícil ou complexo, fim de uma etapa e novo início para a Igreja,
que somos convidados a reler e interpretar à luz da fé. Assim, podemos recitar
o “glória” que encontramos no Salmo e cantar o “te Deum”, o reconhecimento de
que Deus é o Senhor da história e dizer-lhe, se quiser, pode ser também senhor
da nossa, da minha pequena história. História que Deus enche de luz. Obrigado
pelo tempo que nos deste, Senhor. E por aquele que nos ainda darás. (Paolo Curtaz, Parola & Preghiera, dezembro/2013,
p. 210)
terça-feira, 31 de dezembro de 2013
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Ano Novo - Jornada Mundial da Paz
Que o
Senhor nos mostre seu rosto e nos dê sua paz!
Celebramos
o início de um novo ano à luz do mistério do Natal. Nascido e acolhido também
por nós e no meio de nós, Jesus de Nazaré pacifica o mundo estabelecendo
relações novas, baseadas na justiça, inclusive na justiça internacional. E cumpre
a promessa de Deus e a esperança humana através de Maria e através de cada um de nós, dos homens e mulheres de boa vontade,
dos/as líderes autênticos/as e das organizações que não se resignam à paz
aparente e baseada no equilíbrio de forças ou no terrorismo estatal.
O autêntico
espírito do Natal prossegue em nossas comunidades e a liturgia continua nos
convidando a penetrar mais profundamente o mistério da encarnação. Hoje,
contemplamos a chegada dos pastores à gruta Belém. Lá eles encontram Jesus no
seio de uma família pobre e migrante. Ficam vivamente impressionados com o que
lhes é dado ver, comparando tudo com aquilo que tinham ouvido. Como pode uma criatura tão frágil ser
portadora da Paz a todos os homens e mulheres de boa vontade? Esta é a
pergunta dos pastores, de Maria e também a nossa...
Jesus
recebe o nome proposto pelo Anjo a Maria no anúncio-convite. Ele se chama boa notícia da salvação: Deus salva seu
povo do pecado. De fato, ele agirá libertando, perdoando. Em Jesus fomos
libertados do débito que temos conosco mesmos/as e com os outros por não conseguir
realizar a utopia que realmente sonhamos. Estamos livres do peso de termoa
ficado aquém ou de termos errado o alvo. Deus não espera que cheguemos
heroicamente a ele. Ele mesmo vem decididamente ao nosso encontro. Ele é nossa
Paz!
Mas a Paz
que Jesus nos dá não está unicamente no fim do caminho, na plena
confraternização entre lobos e cordeiros, serpentes e crianças. A paz autêntica
está no caminho, na caminhada, nos/as caminhantes. Está nas pessoas
inconformadas que ousam mudar, renovar, começar de novo, e isso a cada dia, e
não apenas no início do ano. Está nos homens e mulheres que adquiriram a
sabedoria que vê nas sementes as flores e os frutos que virão depois, que
encarnam nas relações cotidianas os sonhos e utopias que, literalmente, parecem
não têm um lugar.
O último
versículo do evangelho de hoje nos faz saber que Jesus foi circuncidado. Com
este rito, Jesus é oficialmente acolhido no mundo do judaísmo, tornando-se
partícipe da sua história e das suas utopias. Mas, como nos lembra o Pe. Berthier,
com esta marca física ele está a nos dizer também que quer levar no seu corpo a
marca do pecado e o peso da dor que faz gemer a terra. E é do ventre desta dor
que ele desperta a dignidade de todas as criaturas e o grito em coro: “Abbá,
pai querido!” E é compartilhando esta dignidade que ele nos dá a Paz.
Para os
cristãos, o fundamento da Paz é a relação com Jesus Cristo. Nascido de mulher e
sob a Lei, Jesus conduz todas as pessoas à liberdade, começando pelas que são
vistas e tratadas como últimas, pelas que são colocadas à margem. Ele confirma
que Deus reconhece todos/as como filhos/as e nos convida a superar as relações
pautadas pelo medo e pela escravidão. Todos/as estão em paz com Deus! Todos
podem proclamar “meu Papai querido!” É
aqui que a glória de Deus se espalha na terra e começa um ano e um mundo
novos.
Na medida
em que somos adotados/as como filhos e filhas, somos também herdeiros/as. E qual
é a herança que recebemos? Nada menos que o Reino de Deus, o horizonte que deu
sentido e força à vida de Jesus Cristo, a “shalom” que proporciona o “tudo de
bom” que repetimos nestes dias de passagem, o convívio sadio que descansa em
bases de justiça. Somos herdeiros/as do sonho de uma humanidade que se
reconheça como família de nações, povos, etnias e religiões, diferentes mas
igualmente respeitáveis, dignas e irmãs.
Deus querido, Pai e Mãe! Neste dia em que
começamos um novo ano, faz-nos construtores/as de Paz. Ensina-nos a compreender
o anseio de Paz e de comunhão que pulsa no coração do mundo. Suscita em nós o
canto que brota da dignidade indestrutível de filhos e filhas. Ensina-nos a
respeitar e apreciar todas as expressões religiosas. E dá-nos a graça de experimentar,
como Maria, José e com os pastores, a alegria de reconhecer a grandeza de Deus
na fragilidade humana. Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
(Números
6,22-27 * Salmo 66 (67) * Carta aos gálatas 4,4-7 * Lucas 2,16-17)
A Palavra na vida
(Lc 2,36-40) Ana, uma mulher que
ficou viúva já na juventude, que passa o tempo dando uma mão nas atividades
domésticas (a única coisa que restava às mulheres numa religião essencialmente
masculina!) no renovado templo de Jerusalém... São poucos/as os/as que
reconhecem e acolhem o Senhor: Maria e José, os pastores, Simeão e, agora, esta
mulher tão parecida com as vovós das nossas paróquias, sempre nos primeiros
bancos, debulhando o terço e participando de todas as celebrações... É bonito
constatar que entre as poucas pessoas que acolhem o Deus Menino estão
exatamente elas... As tantas “Anas” que continuam firmes e garantem um mínimo
de continuidade com o passado. O Senhor não tem o nariz empinado, não corre
atrás de novidades a qualquer custo, não deseja estar cercado apenas de pessoas
jovens e dinâmicas: também as pessoas idosas sabem viver com verdade a grande
novidade do nascimento de Deus. Assim, o Senhor está ao nosso lado em todos os
momentos da nossa vida. Então, irmãs e irmãos idosos que, como Simeão e Ana,
frequentais assiduamente o templo, saibam que a vossa presença e o vosso
serviço são preciosos aos olhos de Deus. Permaneçam na fé e na alegria do
Natal!... (Paolo Curtaz, Parola
& Preghiera, dezembro/2013, p. 202)
Pe. Rodolpho Ceolin msf: um auto-retrato (2)
Pe. Ceolin: um auto-retrato
provisório (II)
Neste
segundo texto da série, continuo recolhendo e oferecendo alguns retalhos
literários que nos ajudam a compor o auto-retrato do Pe. Ceolin. No seu Projeto de Vida do ano 2000, respondendo
à pergunta “qual é meu credo?”, ele responde suscintamente: “a) Que fui criado
escolhido e abençoado por Deus que me ama desde todo sempre; b) Minha fé de que Jesus Cristo é o único
Mestre; c) Que a vida de oração é o pulmão e o coração do discípulo e apóstolo;
d) Que Projeto Pessoal de Vida obriga
ao auto-cultivo
persistente, condição indispensável para a convivência fraterna e para servir
o povo com amor; e) Que todas as atividades devem ser planejadas
e avaliadas, com a ajuda de uma atualizada metodologia, pois as
pessoas organizadas avançam mais; f) Que, para tudo isso, é fundamental que se
tenha humildade em grau suficiente.”
Antes
disso, em 1999, ele escrevia que, entre os princípios dos quais não abria mão
estavam a convicção “de que a humildade é condição básica, requisito ‘número um’,
para acolher o amor primeiro de Deus, para viver o discipulado, para
auto-aceitar-se, para a vivência da comunhão fraternal e servir ao povo de Deus
e aos coirmãos com alegria e gratuidade; de que é necessária a re-opção diária
pela vida consagrada como Missionário da Sagrada Família”. Percebe-se que o credo
que deu sentido à sua vida não continha apenas princípios religiosos: a mística
era completada pela ascética, os valores universais eram ajudados pelas opções
metodológicas.
Ao
compartilhar sua visão de Deus, o Pe. Rodolpho nos oferece uma maravilhosa
síntese daquilo que acreditava e pregava: “Vejo Deus como trindade, una
no amor e na ação, princípio unificante de todas as diferenças
entre as pesoas e integrador da pessoa toda. Na pessoa de Jesus, vejo e sinto que
aquele
que mais ama, mais simples e humilde se faz, e vice-versa. Jesus é o
rosto e o coração amigo e misericordioso do Pai e do amor-ternura do Espírito Santo.
Deus é o meu criador e o senhor da minha vida.”
O Pe. Ceolin
demonstra clara e lúcida consciência do vínculo intrínseco entre o Deus do
Reino e o Reino de Deus, especialmente da dimensão histórico-política do
projeto de Deus: “Retenho que o Reino de Deus seja o projeto de
Deus, já presente e ainda em construção, a respeito de cada pessoa, da
humanidade inteira, do universo todo. É a relação das pessoas humanas na
igualdade, independente de sexo, de idade, de cultura e raça. É a derrubada dos
ídolos do poder dominador, do acúmulo egoísta de riqueza e do hedonismo
coisificante das pessoas. O Reino de Deus é a comunhão fraternal e solidária
daqueles que praticam a justiça e respeitam a liberdade alheia. Reino é missão,
tarefa de cada pessoa, de toda instituição civil ou religiosa.”
E vejam
agora esta bela síntese de antropologia cristã! “Considero ‘pessoa’ quem
conseguiu efetuar a integração de si mesmo com as demais pessoas e com as criaturas
todas. É ‘humana’ quando consciente, dialogante, comungante, criativa, responsável,
simples e humilde. A pessoa humana é perfectível, vocacionada a ser imagem cada
vez mais perfeita do criador. Pessoa humana é quem consegue ser protagonista
e cooperador do Espirito no seu aperfeiçoamento global. É quem
conseguiu também assumir sua corporeidade e integrar sua sexualidade,
tornando-se capaz de estabelecer relações sensíveis, próximas e amigas, de
cunho respeitoso e vitalizador com seus semelhantes.”
Sua visão
pessoal de Igreja e de Vida Religiosa, o Ceolin a resume com as seguintes frases:
“Vejo a Igreja como lugar e mediação congregadora dos discípulos de Jesus que
buscam viver a vida de comunhão e, consequentemente, a partilha solidária e
sua missão neste mundo. Todos quantos são construtores do Reino de Deus também
a ela pertencem, embora a ela não se tenham incorporado explicitamente. Vejo a
Vida Religiosa como graça e dom de Deus dados a muitos, aos quais um certo
número de homens e mulheres dão acolhida e resposta, assumindo o viver casto,
pobre e obediente de Jesus, estabelecendo com Deus, pelos votos, uma
aliança de amor pública ou em segredo, num instituto aprovado pela
Igreja. Vejo a vida religiosa de natureza comunitária como cenáculo no qual o
Espírito cultiva e envia ao mundo os discípulos amados de Jesus.” No seu Projeto de 1999 dizia ainda: “O homem e
a mulher são templos e moradas da Trindade... É um ser inacabado e, portanto,
que necessita da ajuda da graça”.
Falando
da Congregação à qual pertencia, o Pe. Ceolin, mais uma vez, explicita sua
satifação e sua gratidão por ser Missionário da Sagrada Família. Isso não lhe parecia
um acaso, nem um peso, mas uma opção pessoal e uma graça recebida. Em 1999,
escrevia: “Os caminhos da Providência levaram-me à Congregação, que eu
desconhecia totalmente...” No Projeto de Vida do ano 2000, diz: “A Congregação dos Missionários da Sagrada
Família é minha família de opção. Felizardo me sinto em ser Sagrada
Família, pela espiritualidade e carisma que nos são próprios. Nela sei
que posso realizar-me como pessoa consagrada, embora seja simples e pequena no
grande elenco de institutos de vida consagrada. Até nisso somos Nazaré!...”
Vejamos
agora como ele assimilou e expressou o essencial da nossa identidade e missão:
“Nosso carisma consiste em evangelizar: levar o anúncio da Boa
Notícia de Jesus Cristo e promover a vida abundante, preferencialmente àqueles
que estão longe, aos excluídos social e eclesialmente da cidadania e de
condições humanamente dignas. Para isso é básico que anunciemos Jesus
Cristo, suscitando a fé nas pessoas e movendo-as a se
tornarem solidárias entre si por uma vida em que as relações primem pela
justiça e pela fraternidade.”
Finalmente,
ele nos brinda também uma síntese aberta da inspiração espiritual da Sagrada
Família de Nazaré. "Nossa espiritualidade encontra na Sagrada
Família o modelo de viver e de agir segundo a missão e o carisma. A
encarnação
e a missão expressam e conduzem à vida de comunhão entre nós e com as
demais pessoas, meta de nossa missão. Nisto estaremos vivendo na
prática o discipulado evangelizador. Para a vivência da nossa
espiritualidade encontramos na Sagrada Família algumas atitudes fundamentais,
como: a atenciosa escuta do Espírito; o humilde acatamento da vontade de
Deus; à proximidade àqueles que mais sofrem, os mais indefesos da
sociedade.” Ademais, em 1999 escrevia que faz parte da nossa espiritualidade a “aceitação
de si mesmo e de sua história”, a aceitação da Galiléia e de Nazaré, “malvistos
e malfalados, ser do segundo ou do terceiro escalão no contexto eclesial”.
Itacir Brassiani msf
domingo, 29 de dezembro de 2013
A Palavra na vida
(Mt 2,13-15.19-23) O Natal nos orbiga a
perguntarmo-nos se desejamos deveras um Deus tão frágil e inerme. A mediação
desta família e dos trinta anos vividos em Nazaré nos oferecem elementos ainda
mais incisivos e intrigantes. Deus vai crescendo na cotidianidade de uma
família de gente pobre, plena de fé e atraída pelo mistério. Somos acostumados
a dividir o tempo entre tempo de trabalho e tempo de festa: uma coisa é o tempo
repetitivo e cansativo dos dias e outra o tempo no qual preparamos com alegria
intensa um acontecimento significativo; um é o tempo de trabalho, outro é o
tempo inebriante dos dias festivos... Assim acontece com nossa fé: nos domingos
separamos, e nem sempre, cinquenta minutos de missa e descansamos, e depois,
nos dias da semana, mergulhamos no trabalho. Nazaré nos ensina que Deus vem
morar conosco, veio habitar em nossa casa; que na cotidianidade e na repetição
dos gestos aparentemente insignificantes podemos realizar o Reino de Deus,
fazer uma experiência mística, crescer no conhecimento de Deus. Podemos – é sério!
– elaborar uma teologia das fraldas, um tratado místico das tarefas dos
filhos/as, uma espiritualidade do empréstimo a ser pago... A extraordinária
novidade do cristianismo é exatamente o seu caráter absolutamente ordinário.
Deus decidiu habitar e assumir a banalidade, dar sentido ao inexorável e
aparentemente vazio passar dos dias... (Paolo Curtaz, Parola & Preghiera, dezembro/2013,
p. 196)
sábado, 28 de dezembro de 2013
A Palavra na vida
(Mt 2,13-18) Herodes não admite
concorrentes, tem medo de Deus, pensa que Deus veio roubar seu trono. E então
solta os frios da sua fúria assassina, decreta um infanticídio para eliminar o
Messias. A história se repete: são milhões as crianças violentadas, feridas ou
mortas por fome ou por interesses escusos. O ser humano ainda não aprendeu que é
somente salvando as crianças que poderemos salvar o mundo. Hoje estamos diante
do terceiro e último passo da concretização e radicalização do Natal. Com
Estêvão e João aprendemos a ver o aspecto teológico e obscuro do Natal. Hoje,
abandonamos as emoções natalinas para fixar o olhar sobre a tragédia dos muitos
meninos Jesus que morrem ao nosso lado. E para aprender deles... Como escreve
explendidamente o pedagogo polonês Janusz Korczak: “Digam sinceramente, é
cansativo frequentar as crianças. Vocês têm razão! Mas acrescentem: é cansativo
porque é preciso colocar-se no nível deles, abaixar-se, inclinar-se, curvar-se,
fazer-se pequeno. Mas vocês estão enganados! Não é isso que cansa! O que cansa
é antes o fato de ser obrigado a elevar-se à altura dos sentimentos deles.
Alongar-se, elevar-se, viver na ponta dos pés para não feri-los...”
Emepenhemo-nos pois na defesa da beleza e da integridade da infância... (Paolo Curtaz, Parola & Preghiera, dezembro/2013,
p. 188)
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
A Palavra na vida
(Jo 20,2-8) Ontem foi Estêvão,
hoje é o evangelista João, aquele que mais que qualquer outro voou alto e soube
fixar o olhar no sol, como, segundo a lenda, fazem as águias. Diante da
aparente normalidade do nascimento de um primogênito de um jovem casal, João vê
e testemunha o inaudito de Deus: o verbo de Deus ergueu seu barraco no meio de nós!
É verdade que o evangelista fez um grande percurso para assimilar esta verdade,
e somente à luz da páscoa podemos compreender quem realmente foi aquele Menino.
Por isso, ainda dentro do clima natalino, lemos o evangelho da ressurreição
para ler e unir estes dois mistérios da nossa fé. O Menino que veneramos no
presépio já foi crucificado e ressuscitou! João nos ensina a superar a simples
emotividade e nos leva ao essencial, nos conduz pela mão para que cheguemos a
uma fé madura. O Menino Deus não provoca apenas ternura como, o fazem os
recém-nascidos, mas nos obriga a perguntarmo-nos se realmente cremos em um Deus
que se faz homem, que se torna um de nós. Porque aqui está o coração do nosso
estupor: a imensidade de Deus se encolhe e cabe num berço, e a sua Palavra que
tudo cria se comprime no choro de fome de um recém-nascido... E isso é coisa
que faz tremer o corpo inteiro! Ou faz abrir o coração à fé e ao estupor... (Paolo Curtaz, Parola & Preghiera, dezembro/2013,
p. 182)
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Ano A - Tempo de Natal - Festa da Sagrada Familia
A
Sagrada Família assume as esperanças populares
Bronze na porta da Bsilica da Anunciaço, em Nazaré |
Ainda
imbuídos do espírito natalino, hoje somos convidados a contemplar o quadro de
uma família que caminha em meio às contigências da história, guiada pela
fecunda obscuridade da fé. A família de Nazaré percorre o duro caminho dos
refugiados e, voltando do exílio, segue o rumo da marginalidade, tomando
distância de Jerusalém para viver em Nazaré. Praticamente ninguém percebe nada
de especial. O essencial permanece oculto ao olhar privado da luz da fé. José
se deixa guiar pelos sonhos, mediante os quais Deus lhe fala e suscita
iniciativas corajosas e lúcidas.
Depois de
uma estadia que podemos imaginar difícil no Egito, obediente à voz do anjo, José
leva Jesus e Maria a Nazaré, na Galiléia, e ali estabelece sua morada. A
população da Galiléia era mestiça, tanto do ponto de vista étnico como
religioso, e a região era considerada uma terra de gentios (cf. Is 8,23). A
Galiléia nunca chegou a ser uma região verdadeiramente israelita, pelo menos do
ponto de vista religioso. E Nazaré era um pequeno povoado que pouco
representava para os judeus. É possível que lá tenha instalado residência um
ramo marginal da descendência de Davi.
Para a
Sagrada Família, morar em Nazaré significou assimilar e fazer suas as esperanças
cultivadaz pelo “resto de Israel”, pelo “broto das raízes de Jessé” (cf. Is
11,1-9). Significou também não se afastar das raízes populares e do vínculo com
os pobres, assumir resolutamente o caminho que leva à periferia, àqueles que estão longe, e privilegiar
a encarnação da esperança nos retalhos que compõem a vida cotidiana, dimensão
que tece a vida normal de todas as pessoas. Eis aqui uma perspectiva que os discípulos
missionários jamais devem abandonar!
Nas cenas
descritas pelo evangelista, José e Maria não dizem uma única palavra. O
protagonista e o dono da Palavra é unicamente Deus. É Ele que fala e conduz todas
decisões e ações. O próprio José, mesmo tomando iniciativas lúcidas que
respondem ao apelo que Deus lhe faz mediante os sonhos, não governa sua família
como um patriarca que manda e espera ser obedecido: é ele quem obedece e,
atento aos acontecimentos históricos, serve e protege fielmente a esposa e o
filho, sacrificando a isso honras e comodidades. Como Abraão, ele vive pela fé
e, assim, é amigo de Deus.
A cena
descrita por Mateus nos ajuda a não pensar na Sagrada Família de Nazaré com
ingenuidade ou romantismo. Como expressão da eterna compaixão de Deus pela
humanidade e da resposta absolutamente generosa a este dom, a família de Nazaré
inspira as famílias a serem espaço de enraizamento nas utopias do nosso povo e
de crescimento humano e espiritual; a
formar comunidades afetivas que tecem
seus vinculos num amor inclusivo e aberto; a caminhar discernindo Palavra e a
vontade de Deus nos complexos sinais dos tempos.
A carta
de Paulo aos Colossenses nos ajuda a fazer esta ligação de continuidade entre a
família e a comunidade, quando pede: “Como eleitos de Deus, santos e queridos,
revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura,
paciência... Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da
perfeição... A palavra de Cristo permaneça entre vós em toda sua riqueza, de
sorte que com toda a sabedoria, vos possais instruir e exortar mutuamente...”
Uma
leitura atenta às recomendações de Paulo nos livra da tentação de uma leitura
patriarcal e machista. Ao esposos, Paulo pede amor delicado e submissão
recíproca, inspirado no amor de Jesus pela Igreja. Se pede, como é normal na
maioria das culturas, que os filhos obedeçam aos pais, também pede a estes que
não façam nada que possa irritar ou desanimar os filhos. Famílias que buscam
inspiração na Família de Nazaré e em Jesus encontram uma regra de vida
absolutamente fundamental: o amor, que é a afirmação da dignidade do outro e o
serviço às suas necessidades.
Jesus Salvador, filho de Maria e de José,
irmão querido! Viveste a aventura e os desafios que a vida familiar encerra e
nos ensinaste que a família morre se não rompe os estreitos limites do sangue e
dos papéis estabelecidos. Guia nossas famílias e comunidades no caminho que tu
mesmo percorreste: no amor terno e comunicativo; na dedicação e fidelidade
recíprocas; na atenção à inusitada e viva Palavra de Deus; na abertura às dores
e aos sonhos da humanidade; no empenho lúcido e generoso na tarefa de derrubar
as barreiras, até que todos/as sejam uma só família. Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
(Eclesiástico
3,3-7.14-17 * Salmo 127 (128) * Carta aos Colossenses 3,12-21 * Mateus 2,13-15.19-23)
A Palavra na vida
(Mt 10,17-22) Temos mais oito dias (a
oitava de Natal) para continuar anunciando a grande notícia que já conhecemos
mas que demoramos a reconhecer e tornar presente. O que mais precisamos é fazer
Deus renascer em nossa vida, reservar-lhe um espaço, deixar que ele conduza a
Igreja, que ele se faça carne em nossas às vezes cansadas e desmotivadas
comunidades. Mas, como já dissemos ontem, para muita gente o Natal é difícil e
sofrido, porque faz emergir a profunda nostalgia de bem e de amor que aperta o nosso
coração. Para quem vive o Natal na solidão, sem uma família ou em meio a
pessoas que sentem estar distantes, o Natal é pesado. Por isso a Igreja celebra
hoje Santo Estêvão, o primeiro mártir cristão: para recordar que acolher Deus
na sua pequenez e fragilidade acaba provocando dor e sofrimento, e exige
empenho e conversão. Para lembrar que ser cristão pode exigir derramamamento de
sangue. E também que o Menino não suscita apenas sentimentos de ternura, mas
também inquietação e preocupação. É verdade que um Deus inócuo, frágil e
entregue à nossa indiferença nos desconcerta e suscita algumas reações
perigosas... É marcado pelo sangue o Natal que acabamos enchendo de açúcar!
Coragem, irmãos e irmãs que sofrem: olhemos com confiança o Senhor. O seu não
foi um grande Natal... (Paolo Curtaz, Parola & Preghiera, dezembro/2013,
p. 176)
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
A Palavra na vida
(Lc 2,1-14) Eis aqui o nosso
Deus, discípulos/as do Nazareno que ainda não estais cansados/as de ser
cristãos, de segui-lo e de pregá-lo. Eis aqui o nosso Deus, muito diverso de
como o desejamos. Um Deus criança, que não resolve os nossos problemas, mas, pedindo-nos
acolhida, nos cria novos problemas. Um Deus que não castiga os malvados, mas
que é cercado e morto pelos malvados. Um Deus que se volta a nós os pobres, os
derrotados, os inquietos. Ele é o primeiro a se fazer pobre, perdedor e
inquieto por amor. E se Deus é assim, significa que ele ama a humanidade a
ponto de fazer-se homem. Se Deus é assim, significa que ele é acessível e razoável,
terno e misericordioso. Significa que a idéia de um Deus onipotente, que se
ocupa de tudo mas cuida somente daquilo que é do seu interesse, sumamente
egoísta e que se basta a si mesmo, é falsa e pagã, pois Deus ama antes de pedir
para ser amado. Se Deus é assim, isso significa que ele tem necessidade de nós,
como teve necessidade de uma mãe e de um pai. E significa também que podemos
reconhecer e servir a Deus nos derrotados, nos pobres, nos abandonados, nos
inquietos. Significa que a família dos homnens é o lugar que Deus quer habitar,
e que se vivemos este Natal com um sentimento de aperto no coração, então esta
é mesmo a nossa festa, porque Deus veio morar também na estrebaria da nossa
vida. Sim, Deus é assim!... (Paolo Curtaz, Parola
& Preghiera, dezembro/2013, p. 170)
Para cantar no Natal
CANÇÃO DE
NATAL
(Luiz
Coronel)
Silêncio, / por favor,
silêncio, / apagai a luz.
Deixai que durma / entre
feno e afagos / o doce Menino Jesus.
Por que tantos fogos, / tumultos,
/ se para iluminar o Natal / basta a Estrela-Guia / que lá no alto / reluz?
Se quereis cânticos / que
sejam meigas canções / que envolvam em sonho / o
sono do Menino Jesus.
Fazei de vossas palavras /
orações. / Sejam vossos gestos / devotos. / Só os pastores chegam / à
manjedoura.
Os outros, de mil
maneiras, / aplainam madeiras / para construir / uma
cruz.
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
Nota do Conselho Mundial das Igrejas
Mensaje del Consejo Mundial de Iglesias
En las narraciones del nacimiento de Jesús
del Nuevo Testamento, unos humildes pastores que vigilaban a sus rebaños
aquella noche, en un caso, y unos hombres sabios que viajaban hacia el Oriente,
en el otro, distinguen algo nuevo en el cielo de esa misma noche estrellada.
Todos ellos tienen en común la disposición para ver el cambio, para ver algo
nuevo, para ver a alguien que trae esperanza al mundo.
La noche es un momento de contemplación del
día pasado, y de expectativas y preparación para lo que Dios nos reserve para
el nuevo día. Juan el Evangelista comienza su relato antes del amanecer del
primer día. En el principio era el Verbo, el Verbo estaba con Dios y el Verbo
era Dios: el Verbo de vida y de luz, el Verbo eterno que sigue brillando y que
siempre triunfará sobre las tinieblas.
El evangelio según San Lucas narra una
serie de relatos previos al nacimiento de Jesús. Al principio de estos relatos,
Zacarías, el padre de Juan el Bautista, pronuncia una profecía, una canción de
esperanza que se eleva y concluye con estas palabras: Por la entrañable
misericordia de nuestro Dios, con que nos visitó desde lo alto la aurora, para dar
luz a los que habitan en tinieblas y en sombra de muerte, para encaminar
nuestros pies por camino de paz. (Lucas 1,78-79)
En la Sagrada Escritura, la luz es un
símbolo de Dios que nos guía en nuestra peregrinación de fe: Tu palabra es
una lámpara a mis pies; ¡es la luz que ilumina mi camino! (Salmos 119,105)
Con toda franqueza, los mortales
necesitamos ser guiados por Dios para encontrar el camino hacia la paz y la
justicia, la reconciliación y la vida en abundancia. También necesitamos la
palabra de Dios como lámpara para orientar nuestros pasos hacia el camino de
Dios.
Así pues, en la reciente X Asamblea del Consejo Mundial de Iglesias
que se celebró en Busan (República de Corea), unimos nuestras voces en la
oración que dio cohesión a la Asamblea: el tema de la Asamblea "Dios de
vida, condúcenos a la justicia y la paz".
Uno de los símbolos que hemos traído con
nosotros desde Busan es el de la peregrinación. Hemos peregrinado de manera
simbólica en los encuentros de oración en común, en los talleres y las
deliberaciones institucionales, y nos hemos desplazado físicamente durante las
visitas del fin de semana a lo largo y ancho de la República de Corea, desde
las costas del sur hasta los confines de la zona engañosamente denominada
"zona desmilitarizada" entre Corea del Norte y Corea del Sur.
Pudimos constatar cómo en el camino hacia
la justicia y la paz es necesario superar la frontera que divide Corea, así
como muchas otras fronteras de hostilidad de dividen a las naciones, culturas,
clases sociales y familias. En tanto que Asamblea, expresamos nuestra especial
preocupación por las personas desplazadas, los refugiados, los migrantes, la
región de los Grandes Lagos en África, particularmente el Congo, y la región de
Oriente Medio, y denunciamos la politización de la religión como manera de
tratar de justificar la violencia.
Además, y muy especialmente, hemos
extendido una invitación a toda persona de buena voluntad para que se una a
nosotros en la peregrinación por la Paz Justa en toda la Tierra. Queremos avanzar
juntos en nuestra peregrinación común, para ser testimonios de unidad y amor de
los unos por los otros.
Hemos recibido la inspiración de los
pastores y los hombres sabios de buscar al Príncipe de la Paz en los lugares
más insólitos, incluso en los que podrían considerarse como lugares
"equivocados".
Que las bendiciones de la Navidad estén con
ustedes, y que la aurora derrame su luz sobre el mundo entero desde lo alto.
Pastor Dr. Olav Fykse Tveit
Secretario general
Consejo Mundial de Iglesias
Secretario general
Consejo Mundial de Iglesias
Duas mensagens com sabor da amazonia
"Desejo uma Igreja pobre para os pobres...
É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles...
Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles" (Evangelii Gaudium 198).
Com imensa alegria
celebremos o Natal de Jesus neste tempo novo do Papa
Francisco que nos convoca para realizar
uma reforma profunda da Igreja: convertida
a Jesus e vestida de Evangelho, misericordiosa
e missionária, que vai à periferias
existenciais e geográficas, descentralizada,
aberta, servidora, Igreja da inclusão, do
encontro, da ternura.
Jesus que nasce pobre entre os pobres é o modelo.
Feliz Natal e um Ano Novo de paz e esperança.
+ edson damian
São Gabriel da Cachoeira, Amazonas
+ edson damian
São Gabriel da Cachoeira, Amazonas
“Não havia lugar para eles“ (Lc 2,7)
E essa mulher grávida! Logo mais vai dar à
luz. Aqui não é lugar para parto. Um recém-nascido perturba e tira o sossego de
outros hóspedes. Aqui não há lugar! Somente
lá fora, naquele estábulo!
Brasil, país imenso, privilegiado por Deus, natureza
exuberante, terra fecunda, águas saudáveis! Mas é um lar de portas abertas? Há
lugar para todos?
Indígenas expulsos de suas terras. Agricultores
banidos do campo. Famílias arrancadas de suas casas e sítios por causa da
hidrelétrica de Belo Monte. Mães com crianças sem abrigo. Doentes sem leito nos
hospitais.
Jesus nasceu fora da cidade. Dois mil anos atrás
não havia lugar para ele. Será que hoje é diferente?
Que o Santo Natal nos faça abrir os olhos e o
coração e as bênçãos de Deus nos acompanhem no Ano Novo!
Erwin,
Bispo do Xingu
Festa do Nascimento de Jesus - Missa da noite
A
glória de Deus é a paz se estendendo por toda a terra!
Nosso
tempo de preparação e espera não foi tão longo quanto o do povo de Israel, mas
foi suficiente para ajustar a visão, sintonizar os ouvidos, acertar o passo e abrir
o coração para acolher a manifestação de Deus. Estamos em condições de
reconhecê-lo e acolhê-lo quando, onde e como ele quiser. É por isso que, nesta vigília do Natal, reunimo-nos
em comunidade, na expectativa de que a Palavra de Deus nos ajude a não passar
ao largo da carne na qual Deus vem.
Na carta
que escreve a Tito e sua comunidade, Paulo anuncia que em Jesus de Nazaré
manifestou-se de forma inequívoca o bem-querer
de Deus por nós. Ele é força de salvação para todos os seres humanos, e nele
temos companhia e apoio, rumo e força. Ele é o mais belo e maravilhoso presente que poderíamos esperar e
receber de Deus. Mas ele é também lição:
sua proximidade, compaixão e solidariedade nos ensinam a renunciar ao egoísmo e
a viver com sobriedade, justiça e piedade.
Na gruta
de Belém, em meio a gente simples e a animais, Jesus é a Palavra na qual Deus cumpre
todas as suas promessas e diz “Amém” a
todas as nossas legítimas esperanças. No menino Jesus, a Palavra eterna de Deus
se resume e condensa, “faz-se pequena, tão pequena que cabe numa manjedoura”,
faz-se criança para que possamos compreendê-la plenamente. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não é
somente uma voz; ela tem um rosto, e nós podemos vê-la (Bento
XVI).
As luzes coloridas que enfeitam o Natal e a harmonia das canções deste
tempo não podem nos levar esquecer a Paixão e a Páscoa de Jesus, pois este é o
mistério que dá sentido ao que acontece na gruta de Belém. É do calvário e da cruz que nos vem a luz que ilumina o que acontece na estrebaria. A Palavra que se faz carne em Belém se faz cruz em Jerusalém. Na
cruz, o Verbo
emudece, torna-se silêncio, porque se diz até calar, nada retendo do que nos
devia comunicar (cf. Verbum Domini,
12).
Esta ligação entre a gruta e o
calvário, entre a estrela e a cruz,
não apaga nem diminui a alegria benfazeja das festas natalinas. Ao contrário,
radicaliza e concretiza as razões da nossa alegria e da nossa confiança.
Contemplando a cruz, entendemos que a paz cantada pelos anjos na escura noite
dos pastores não é fantasia ou ilusão. As mulheres corajosas e fiéis, presentes
na colina do Calvário aos pés do Condenado, ampliam e concretizam a acolhida
dos pastores e magos ao Verbo.
Celebremos,
pois, o Natal à luz da Páscoa. Agarrados aos seus “podres poderes”, Quirino,
César Augusto e Herodes, como seus seguidores em todos os tempos e latitudes,
nem se dão conta do que está acontecendo em Belém ou festejam a pena de morte executada
no Calvário. Mas os humildes e humilhados que andavam nas trevas, os homens e
mulheres de boa vontade, vêem uma grande luz e se rejubilam como nas colheitas
abundantes ou nas lutas bem-sucedidas (cf. Is 9,1-3).
Na gruta
cavada nas rochas de Belém e na cruz cravada nas rochas de Jerusalém Deus se
faz boa notícia encorajadora. Nenhum traço de onipotência. Nenhum sinal de
onisciência. Nenhum resquício de impassibilidade. Na manjedoura e na cruz, Deus
se faz impotência para empoderar os fracos, se faz misericórdia para reerguer
os pecadores, se faz fragilidade para afagar todos os que experimentam cansaço
e abatimento. Deus é grande porque se abaixa e desce aos infernos...
No Menino
da estrebaria, no profeta crucificado e nas comunidades que nascem e se reúnem
ao redor dele, Deus quebra a canga que os poucos poderosos impõem aos mais fracos
e joga no fogo da inutilidade as fardas e botas dos soldados que servem aos
dominadores. E anuncia com força: “Não temais! Eis que eu vos anuncio uma boa
notícia para todo o povo: hoje nasceu para vós um salvador! Isto vos servirá de
sinal: achareis um recém-nascido deitado numa manjedoura...” (cf. Lc 2,1-14) O
Natal nos chama a olhar para baixo e ir às periferias, pois é lá que Deus fez
sua morada.
Deus Menino, Deus vulnerável! Ouvimos o
convite dos pastores e viemos aqui para ver o que o Pai nos revelou (cf. Lc
2,15). No teu rosto vemos brilhar a humana amizade, a verdadeira filantropia de
Deus. Da acolhida que encontraste em Maria e José e da atenção que recebeste
dos pastores aprendemos a hospitalidade que salva. Escutando os anjos,
aprendemos que a paz não é algo que nos espera depois da morte, mas mistério e
dom já presente na terra, entre os homens e mulheres teus amados. Amado Menino,
príncipe da paz, faz que sejamos intrépidos promotores desta paz! Assim seja!
Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
(Isaías 9,1-6
* Salmo 95 (96) * Carta a Tito 2 ,11-14* Lucas 2,1-14)
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