Pe. Ceolin: um auto-retrato
provisório (II)
Neste
segundo texto da série, continuo recolhendo e oferecendo alguns retalhos
literários que nos ajudam a compor o auto-retrato do Pe. Ceolin. No seu Projeto de Vida do ano 2000, respondendo
à pergunta “qual é meu credo?”, ele responde suscintamente: “a) Que fui criado
escolhido e abençoado por Deus que me ama desde todo sempre; b) Minha fé de que Jesus Cristo é o único
Mestre; c) Que a vida de oração é o pulmão e o coração do discípulo e apóstolo;
d) Que Projeto Pessoal de Vida obriga
ao auto-cultivo
persistente, condição indispensável para a convivência fraterna e para servir
o povo com amor; e) Que todas as atividades devem ser planejadas
e avaliadas, com a ajuda de uma atualizada metodologia, pois as
pessoas organizadas avançam mais; f) Que, para tudo isso, é fundamental que se
tenha humildade em grau suficiente.”
Antes
disso, em 1999, ele escrevia que, entre os princípios dos quais não abria mão
estavam a convicção “de que a humildade é condição básica, requisito ‘número um’,
para acolher o amor primeiro de Deus, para viver o discipulado, para
auto-aceitar-se, para a vivência da comunhão fraternal e servir ao povo de Deus
e aos coirmãos com alegria e gratuidade; de que é necessária a re-opção diária
pela vida consagrada como Missionário da Sagrada Família”. Percebe-se que o credo
que deu sentido à sua vida não continha apenas princípios religiosos: a mística
era completada pela ascética, os valores universais eram ajudados pelas opções
metodológicas.
Ao
compartilhar sua visão de Deus, o Pe. Rodolpho nos oferece uma maravilhosa
síntese daquilo que acreditava e pregava: “Vejo Deus como trindade, una
no amor e na ação, princípio unificante de todas as diferenças
entre as pesoas e integrador da pessoa toda. Na pessoa de Jesus, vejo e sinto que
aquele
que mais ama, mais simples e humilde se faz, e vice-versa. Jesus é o
rosto e o coração amigo e misericordioso do Pai e do amor-ternura do Espírito Santo.
Deus é o meu criador e o senhor da minha vida.”
O Pe. Ceolin
demonstra clara e lúcida consciência do vínculo intrínseco entre o Deus do
Reino e o Reino de Deus, especialmente da dimensão histórico-política do
projeto de Deus: “Retenho que o Reino de Deus seja o projeto de
Deus, já presente e ainda em construção, a respeito de cada pessoa, da
humanidade inteira, do universo todo. É a relação das pessoas humanas na
igualdade, independente de sexo, de idade, de cultura e raça. É a derrubada dos
ídolos do poder dominador, do acúmulo egoísta de riqueza e do hedonismo
coisificante das pessoas. O Reino de Deus é a comunhão fraternal e solidária
daqueles que praticam a justiça e respeitam a liberdade alheia. Reino é missão,
tarefa de cada pessoa, de toda instituição civil ou religiosa.”
E vejam
agora esta bela síntese de antropologia cristã! “Considero ‘pessoa’ quem
conseguiu efetuar a integração de si mesmo com as demais pessoas e com as criaturas
todas. É ‘humana’ quando consciente, dialogante, comungante, criativa, responsável,
simples e humilde. A pessoa humana é perfectível, vocacionada a ser imagem cada
vez mais perfeita do criador. Pessoa humana é quem consegue ser protagonista
e cooperador do Espirito no seu aperfeiçoamento global. É quem
conseguiu também assumir sua corporeidade e integrar sua sexualidade,
tornando-se capaz de estabelecer relações sensíveis, próximas e amigas, de
cunho respeitoso e vitalizador com seus semelhantes.”
Sua visão
pessoal de Igreja e de Vida Religiosa, o Ceolin a resume com as seguintes frases:
“Vejo a Igreja como lugar e mediação congregadora dos discípulos de Jesus que
buscam viver a vida de comunhão e, consequentemente, a partilha solidária e
sua missão neste mundo. Todos quantos são construtores do Reino de Deus também
a ela pertencem, embora a ela não se tenham incorporado explicitamente. Vejo a
Vida Religiosa como graça e dom de Deus dados a muitos, aos quais um certo
número de homens e mulheres dão acolhida e resposta, assumindo o viver casto,
pobre e obediente de Jesus, estabelecendo com Deus, pelos votos, uma
aliança de amor pública ou em segredo, num instituto aprovado pela
Igreja. Vejo a vida religiosa de natureza comunitária como cenáculo no qual o
Espírito cultiva e envia ao mundo os discípulos amados de Jesus.” No seu Projeto de 1999 dizia ainda: “O homem e
a mulher são templos e moradas da Trindade... É um ser inacabado e, portanto,
que necessita da ajuda da graça”.
Falando
da Congregação à qual pertencia, o Pe. Ceolin, mais uma vez, explicita sua
satifação e sua gratidão por ser Missionário da Sagrada Família. Isso não lhe parecia
um acaso, nem um peso, mas uma opção pessoal e uma graça recebida. Em 1999,
escrevia: “Os caminhos da Providência levaram-me à Congregação, que eu
desconhecia totalmente...” No Projeto de Vida do ano 2000, diz: “A Congregação dos Missionários da Sagrada
Família é minha família de opção. Felizardo me sinto em ser Sagrada
Família, pela espiritualidade e carisma que nos são próprios. Nela sei
que posso realizar-me como pessoa consagrada, embora seja simples e pequena no
grande elenco de institutos de vida consagrada. Até nisso somos Nazaré!...”
Vejamos
agora como ele assimilou e expressou o essencial da nossa identidade e missão:
“Nosso carisma consiste em evangelizar: levar o anúncio da Boa
Notícia de Jesus Cristo e promover a vida abundante, preferencialmente àqueles
que estão longe, aos excluídos social e eclesialmente da cidadania e de
condições humanamente dignas. Para isso é básico que anunciemos Jesus
Cristo, suscitando a fé nas pessoas e movendo-as a se
tornarem solidárias entre si por uma vida em que as relações primem pela
justiça e pela fraternidade.”
Finalmente,
ele nos brinda também uma síntese aberta da inspiração espiritual da Sagrada
Família de Nazaré. "Nossa espiritualidade encontra na Sagrada
Família o modelo de viver e de agir segundo a missão e o carisma. A
encarnação
e a missão expressam e conduzem à vida de comunhão entre nós e com as
demais pessoas, meta de nossa missão. Nisto estaremos vivendo na
prática o discipulado evangelizador. Para a vivência da nossa
espiritualidade encontramos na Sagrada Família algumas atitudes fundamentais,
como: a atenciosa escuta do Espírito; o humilde acatamento da vontade de
Deus; à proximidade àqueles que mais sofrem, os mais indefesos da
sociedade.” Ademais, em 1999 escrevia que faz parte da nossa espiritualidade a “aceitação
de si mesmo e de sua história”, a aceitação da Galiléia e de Nazaré, “malvistos
e malfalados, ser do segundo ou do terceiro escalão no contexto eclesial”.
Itacir Brassiani msf
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