A
glória de Deus é a paz se estendendo por toda a terra!
Nosso
tempo de preparação e espera não foi tão longo quanto o do povo de Israel, mas
foi suficiente para ajustar a visão, sintonizar os ouvidos, acertar o passo e abrir
o coração para acolher a manifestação de Deus. Estamos em condições de
reconhecê-lo e acolhê-lo quando, onde e como ele quiser. É por isso que, nesta vigília do Natal, reunimo-nos
em comunidade, na expectativa de que a Palavra de Deus nos ajude a não passar
ao largo da carne na qual Deus vem.
Na carta
que escreve a Tito e sua comunidade, Paulo anuncia que em Jesus de Nazaré
manifestou-se de forma inequívoca o bem-querer
de Deus por nós. Ele é força de salvação para todos os seres humanos, e nele
temos companhia e apoio, rumo e força. Ele é o mais belo e maravilhoso presente que poderíamos esperar e
receber de Deus. Mas ele é também lição:
sua proximidade, compaixão e solidariedade nos ensinam a renunciar ao egoísmo e
a viver com sobriedade, justiça e piedade.
Na gruta
de Belém, em meio a gente simples e a animais, Jesus é a Palavra na qual Deus cumpre
todas as suas promessas e diz “Amém” a
todas as nossas legítimas esperanças. No menino Jesus, a Palavra eterna de Deus
se resume e condensa, “faz-se pequena, tão pequena que cabe numa manjedoura”,
faz-se criança para que possamos compreendê-la plenamente. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não é
somente uma voz; ela tem um rosto, e nós podemos vê-la (Bento
XVI).
As luzes coloridas que enfeitam o Natal e a harmonia das canções deste
tempo não podem nos levar esquecer a Paixão e a Páscoa de Jesus, pois este é o
mistério que dá sentido ao que acontece na gruta de Belém. É do calvário e da cruz que nos vem a luz que ilumina o que acontece na estrebaria. A Palavra que se faz carne em Belém se faz cruz em Jerusalém. Na
cruz, o Verbo
emudece, torna-se silêncio, porque se diz até calar, nada retendo do que nos
devia comunicar (cf. Verbum Domini,
12).
Esta ligação entre a gruta e o
calvário, entre a estrela e a cruz,
não apaga nem diminui a alegria benfazeja das festas natalinas. Ao contrário,
radicaliza e concretiza as razões da nossa alegria e da nossa confiança.
Contemplando a cruz, entendemos que a paz cantada pelos anjos na escura noite
dos pastores não é fantasia ou ilusão. As mulheres corajosas e fiéis, presentes
na colina do Calvário aos pés do Condenado, ampliam e concretizam a acolhida
dos pastores e magos ao Verbo.
Celebremos,
pois, o Natal à luz da Páscoa. Agarrados aos seus “podres poderes”, Quirino,
César Augusto e Herodes, como seus seguidores em todos os tempos e latitudes,
nem se dão conta do que está acontecendo em Belém ou festejam a pena de morte executada
no Calvário. Mas os humildes e humilhados que andavam nas trevas, os homens e
mulheres de boa vontade, vêem uma grande luz e se rejubilam como nas colheitas
abundantes ou nas lutas bem-sucedidas (cf. Is 9,1-3).
Na gruta
cavada nas rochas de Belém e na cruz cravada nas rochas de Jerusalém Deus se
faz boa notícia encorajadora. Nenhum traço de onipotência. Nenhum sinal de
onisciência. Nenhum resquício de impassibilidade. Na manjedoura e na cruz, Deus
se faz impotência para empoderar os fracos, se faz misericórdia para reerguer
os pecadores, se faz fragilidade para afagar todos os que experimentam cansaço
e abatimento. Deus é grande porque se abaixa e desce aos infernos...
No Menino
da estrebaria, no profeta crucificado e nas comunidades que nascem e se reúnem
ao redor dele, Deus quebra a canga que os poucos poderosos impõem aos mais fracos
e joga no fogo da inutilidade as fardas e botas dos soldados que servem aos
dominadores. E anuncia com força: “Não temais! Eis que eu vos anuncio uma boa
notícia para todo o povo: hoje nasceu para vós um salvador! Isto vos servirá de
sinal: achareis um recém-nascido deitado numa manjedoura...” (cf. Lc 2,1-14) O
Natal nos chama a olhar para baixo e ir às periferias, pois é lá que Deus fez
sua morada.
Deus Menino, Deus vulnerável! Ouvimos o
convite dos pastores e viemos aqui para ver o que o Pai nos revelou (cf. Lc
2,15). No teu rosto vemos brilhar a humana amizade, a verdadeira filantropia de
Deus. Da acolhida que encontraste em Maria e José e da atenção que recebeste
dos pastores aprendemos a hospitalidade que salva. Escutando os anjos,
aprendemos que a paz não é algo que nos espera depois da morte, mas mistério e
dom já presente na terra, entre os homens e mulheres teus amados. Amado Menino,
príncipe da paz, faz que sejamos intrépidos promotores desta paz! Assim seja!
Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
(Isaías 9,1-6
* Salmo 95 (96) * Carta a Tito 2 ,11-14* Lucas 2,1-14)
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