domingo, 22 de dezembro de 2013

Por um natal verdadeiro

O natal do menino migrante

Eu o vi nos grandes centros comerciais, os shopping-centers,
deitado num simulacro de manjedoura, no interior de uma gruta,
rodeado de Maria, José, os pastores, os reis magos e alguns animais;
mas as atenções das pessoas concentravam-se sobre o Papai Noel:
sentado num trono, distribuía sorrisos, abraços e presentes;
o protagonista da festa, permanecia ignorado pela imensa maioria,
acanhado a um canto, a exemplo de tantos meninos e meninas,
filhos de pais estrangeiros e sem pátria nos porões da cidade.

Eu o vi em algumas ruas ou praças da grande metrópole,
presépios artísticos, profusamente iluminadas e enfeitadas;
mas os transeuntes, embriagados pelo brilho das luzes e presentes,
viam-se arrastados pela frenética sede de encontros e compras;
o personagem principal desaparecia na torrente da multidão ansiosa,
da mesma forma que milhares de crianças filhas de migrantes
sós e perdidas, em busca de pão e carinho, como órfãs de pais vivos,
nos becos sem saída do álcool ou da droga.

Eu o vi no interior das casas, como parte da tradição cristã:
o mesmo menino, os mesmas animais e figuras, o mesmo arranjo;
mas a família tinha outros afazeres, próprios do final de ano:
roupas e sapatos, eletrônicos e móveis, novidades de todo tipo;
pouca ou nenhuma atenção merecia a imagem do recém-nascido,
como milhões de crianças recém-chegadas do campo ou de outro país,
sem casa nem escola, poucas possibilidades de futuro,
marcados pelo abandono, o preconceito e a discriminação.

Eu o vi em muitas Igrejas, com a sagrada família e demais imagens;
porém, como aos saduceus e fariseus de todos os tempos,
a miopia e a cegueira impediam de sentir a aurora do Reino de Deus
na face simples e singela do Menino que acabara de nascer,
como também no rosto desfigurado de inúmeros meninos e meninas, refugiados, prófugos, exilados, fugitivos da violência e da guerra:
longe da terra natal, já nascem à margem da estrada e da vida.

Entretanto, Ele ali estava como Boa Nova para os pobres,
esperança viva daqueles que, apesar das adversidades,
se põem a caminho, na tentativa de abrir horizontes novos!


Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs

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