quarta-feira, 13 de maio de 2020

ANO A | TEMPO PASCAL | SEXTO DOMINGO | 17.05.2020


O Espírito da Verdade consola, emancipa e envia o povo de Deus!
A experiência de orfandade é a de ter perdido as referências fundamentais, de não conseguir mais tocar suas raízes, de estar sem colo e sem horizontes. É como estar sofrendo um processo e não poder contar com um advogado que fale em nosso nome e defenda nossa inocência nos tribunais. Orfandade significa falta de assistência, de proteção, de defesa, de consolação, enfim, uma situação de vulnerabilidade. Nestas circunstâncias, por mais clara que seja a inocência, nossa liberdade e nossa dignidade correm sérios riscos
É assim que se sentiam os apóstolos naquela misteriosa noite de despedida de Jesus, narrada pelo evangelista. Eles haviam partilhado pão e vinho e visto Jesus se inclinar e lavar seus pés. Haviam ouvido da sua própria boca que um deles o trairia, outro o negaria e todos se dispersariam. Sentiam que a imagem de Deus que tinham construído ao longo da vida se dissolvia diante do ensino e dos gestos de Jesus. Anteviam o seu destino – prisão, condenação e execução – e sentiam-se inseguros e órfãos da utopia do Reino.
É neste contexto que Jesus promete-lhes um outro Advogado ou Defensor: alguém que falará por eles e em lugar deles nas acusações apresentadas nos tribunais. Este Defensor agirá como os pais, que, além de serem o fio que liga as novas gerações ao passado e os indivíduos a uma família, assumem a defesa e a tutela dos filhos menores e em situação de vulnerabilidade. Agirá como Jesus, que assumiu esta dupla missão junto aos discípulos: ser o advogado de defesa e o irmão primogênito que revela e torna presente o Pai.
Daí a promessa consoladora e encorajadora de Jesus aos discípulos: “O pai dará a vocês outro Defensor... Eu não vos deixarei órfãos...” O Espírito da Verdade-Fidelidade nos ajuda a superar a orfandade e nos faz filhos e filhas de Deus, herdeiros do Reino anunciado e iniciado por Jesus Cristo. Ele também nos faz perseverantes no dinamismo do Amor a Jesus Cristo e ao próximo, especialmente aqueles que padecem as maiores necessidades. O amor a Jesus Cristo se mostra na atitude cuidar do seu rebanho.
Entretanto, este amor não é apenas uma questão ética, um simples e inflexível imperativo categórico. O amor é um movimento livre e libertador, original e fecundo, que brota do núcleo mais profundo dos discípulos de Jesus como sopro novo do Espírito Santo. Neste dinamismo de saída de nós mesmos para entregarmo-nos e descobrirmo-nos no Outro fazemos a experiência de estar em Deus, de habitar nele em segurança e intimidade, de ter um Pai real, amável, presente e próximo.
E não é só isso. Na medida em que percorremos responsavelmente este êxodo de nós mesmos em direção ao Pai, ao seu Reino, ao outro e ao futuro, experimentamos também o advento do próprio Deus no nosso corpo, no coração do mundo. Mediante o amor solidário não é apenas o ser humano que está em Deus, mas o próprio Deus vem habitar nesta sua amante criatura e suas comunidades para fazer delas sua morada definitiva. “Vocês compreenderão que eu estou no Pai, vocês em mim e eu em vocês...”
É verdade que a forma mais eficaz de acabar com o amor é torná-lo obrigatório. E a forma mais eficaz de esterilizá-lo é reduzi-lo a um sentimento. O amor é uma relação num ambiente de aliança, uma atitude que supera a veleidade dos sentimentos. É atitude, relação, ação que reconhece e afirma o outro em sua dignidade. Se tivermos dúvida sobre o que significa amar, olhemos para o que fez Jesus. Nele certamente encontraremos mais que meros sentimentos. E aprendemos que o amamos na medida em que acolhemos e praticamos seu mandamento de amor ao próximo.
Pedro pede que estejamos sempre prontos a tornar públicas as razões da esperança que nos faz viver, mas também sugere que o façamos com mansidão, respeito e delicadeza. Estejamos pois dispostos a sofrer por causa da esperança e do amor que nos faz próximos daqueles que estão longe, que nos faz ficar em casa como forma de amar e cuidar dos outros. E que esta ação portadora do sopro do Espírito de Deus impressione os homens e mulheres, e os leve a reconhecer a presença de Deus agindo mediante seus servos e servas.
Deus querido e amável, Pai que defende e Mãe que consola: Vem em nosso socorro e permanece conosco nas muitas travessias que nos encantam e amedrontam, no isolamento que nos solidariza. Ensina a Igreja a permanecer no teu amor. Que o Espírito de Lealdade e de Verdade nos mantenha no caminho que teu Filho percorreu e ensinou, nos ajude a entender sua Palavra com a mente, o coração e as mãos, e nos guie como discípulos e missionários ao coração do mundo. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf

Atos dos Apóstolos 8,5-17 | Salmo 65 (66)
Primeira Carta de Pedro 3,15-18 | Evangelho de São João 14,15-21

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