Ele dará a vocês
outro Advogado, para que permaneça com vocês!
O texto dá início, dentro da primeira parte do Último Discurso de Jesus,
à seção trinitária, onde o mesmo tema é aplicado ao Espírito (vv. 15-17), a
Jesus (vv.18-22) e ao Pai (vv. 23-24). E o tema é este: se guardarmos os mandamentos, cada personagem divina virá e habitará
conosco.
O Quarto Evangelho nos traz formulações muito bonitas referentes à
Trindade, especialmente no último discurso de Jesus. Neste trecho, se enfatiza
a necessidade de guardar os mandamentos, para que possamos receber o dom do
Espírito Santo.
Aqui, encontramos a primeira de duas promessas no capítulo da chegada do
Paráclito, uma palavra grega que significava o que seria, em nossa linguagem, o
advogado da defesa. Em diversos
textos, João expressa a função do Espírito dentro da comunidade
pós-ressurrecional. Aqui, o Espírito
agirá como defensor dos discípulos diante dos ataques do mundo de incredulidade
(lembremo-nos que na época do escrito, pelo fim do primeiro século da nossa
era, a comunidade joanina estava sofrendo muitos ataques de diversas origens).
Vale a pena notar aqui que o Espírito Santo será “outro Paráclito,” pois
Jesus já tinha sido defensor dos discípulos durante a sua vida terrestre e
continuará a sê-lo no céu. O Espírito Santo será o Espírito da Verdade, ou
seja, o Espírito que revelará ao mundo a
verdade sobre Jesus, tal como Jesus já tinha feito, mostrando-nos a verdade
sobre o Pai.
A partir do v. 18, como fez no início do capítulo 14, Jesus volta a consolar
os seus discípulos e a falar da sua volta. Só que aqui não se refere tanto à
sua vinda na parusia, ou a Segunda Vinda, mas uma volta espiritual, através de habitação divina em cada discípulo,
uma presença real que fará com que os discípulos compreendam que Jesus e o Pai
são um.
Assim, os discípulos conhecerão a relação verdadeira entre Jesus e o
Pai, e descobrirão que existe o mesmo relacionamento entre Jesus e eles
próprios. De novo, põe-se a observância
dos mandamentos como precondição para que aconteça essa presença espiritual,
mas real. A observância dos mandamentos não é uma simples exigência legal,
mas a demonstração do amor dos discípulos para Jesus.
Atrás desse texto, está o desejo do autor de fortalecer a fé da sua
comunidade em tempos difíceis. Assim, esse Evangelho continua tendo muita
relevância para a Igreja, a comunidade dos discípulos, hoje. Como naquele
tempo, também a nossa fé pode vacilar
diante de ataques, da perseguição ou até da indiferença do mundo.
O texto procura renovar nos leitores a certeza da presença da Trindade
no nosso meio, pois o Espírito nos dará força para que vençamos as dificuldades
e sofrimentos que eventualmente poderão nos assolar, individual ou
comunitariamente. Também insiste na necessidade
de criarmos uma comunidade de amor e de solidariedade, para que a morada divina
em cada pessoa e na comunidade possa tornar-se uma força efetiva no
fortalecimento da nossa fé, da nossa caminhada.
Lembremo-nos de que, no Quarto Evangelho, o grande mandamento é amar-nos uns aos outros, como ele nos amou, ou
seja, na doação de nós mesmos na luta de criar um mundo onde se vive o sonho de
Jesus, que veio “para que todos tenham a vida e vida em abundância” (Jo
10,10).
Pe. Tomaz Hughes svd
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