quarta-feira, 13 de maio de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 17.05.2020


VIVER NA VERDADE DE JESUS

Não há na vida uma experiência tão misteriosa e sagrada como a despedida de um ente querido. Por isso o Evangelho de João procura recolher na despedida de Jesus o Seu testamento: aquilo que deveremos guardar e jamais esquecer.

Uma coisa é muito clara para o evangelista: o mundo não vai poder «ver» nem «conhecer» a verdade que se esconde em Jesus. Para muitos, Jesus terá passado por este mundo como se nada tivesse ocorrido; não deixará rastro algum nas suas vidas. Para ver Jesus, é necessário ter olhos novos. Somente aqueles que o amam poderão experimentar que está vivo e faz viver.

Jesus é a única pessoa que merece ser amada de forma absoluta. Quem o ama assim não pode pensar Nele como se pertencesse ao passado. A Sua vida não é apenas uma memória. Quem ama Jesus, vive as Suas palavras, «guarda os Seus mandamentos», vai ficando «cheio» de Jesus.

Não é fácil expressar essa experiência. O evangelista fala dela como de «Espírito da verdade». É uma expressão muito acertada, pois Jesus vai se convertendo numa força e numa luz que nos faz «viver na verdade». Qualquer que seja o ponto em que nos encontremos na vida, a acolhida de Jesus leva-nos à verdade.

Este «espírito da verdade» não deve ser confundido com uma doutrina. Não se encontra nos livros dos teólogos nem nos documentos do magistério. De acordo com a promessa de Jesus, é algo (ou Alguém) que «vive conosco e está em nós». Escutamo-lo no nosso interior, e resplandece na vida de quem segue os passos de Jesus de maneira humilde, confiante e fiel.

O evangelista o chama de «Espírito Defensor», porque, agora que Jesus não está fisicamente conosco, ele nos defende do que nos poderia separar Dele. Este espírito «está sempre conosco». Ninguém o pode assassinar, como aconteceu com Jesus. Seguirá sempre vivo no mundo. Se o acolhemos em nossa vida, não nos sentiremos órfãos nem desamparados.

Talvez a conversão que mais necessitem hoje os cristãos é passar de uma adesão verbal, rotineira e superficial a Jesus, a uma experiência de viver enraizados no Seu «Espírito da verdade».

José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez

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