VIII Semana do
Tempo Comum | Sexta-feira | Marcos 11,11-26
(02/06/2023)
Depois do episódio do cego e mendigo
que recupera a visão e se torna discípulo, Jesus entra em Jerusalém montado num
jumento – uma cena de teatro político de rua! – e é aclamado pelo povo como o
messias e herdeiro de Davi. Esta passagem é omitida na liturgia semanal, pois
aparece no Domingo de Ramos, e hoje contemplamos a cena que vem na sequência: o
radical questionamento do sistema social e ideológico articulado em torno do
templo.
Além do gesto claramente provocador
da expulsão dos comerciantes do interior do templo, tanto a figueira como a
montanha são alegorias que nos remetem ao templo. As diversas cenas deste texto
são uma contundente crítica ao templo como centro simbólico da ordem social
judaica, claramente injusta em relação aos pobres. Na sua ação mais direta,
Jesus expulsa os vendedores, derruba as mesas dos cambistas, proíbe qualquer movimento e ensina. Na prática, Jesus paralisa toda
atividade de culto, pois ela está eivada de violência.
O foco da ação de Jesus não é
propriamente o comércio realizado no interior do templo, pois naquele tempo,
por causa da prática dos sacrifícios, simplesmente não havia templo sem
comércio. Jesus mostra sua indignação contra os interesses e lucros dos
dirigentes do templo, e propugna pelo fim deste sistema de culto que penaliza e
exclui os mais pobres e deixa de ser a casa da acolhida inclusiva desejada por
deus (casa de oração para todos os povos).
No final, Jesus recorre a um exagero
de linguagem para sublinhar seu ensino: como a “legião” de demônios (exército
romano), a “montanha” (outro nome do templo) pode ser eliminada e lançada no
mar. O sistema do templo deve e pode ser mudado, por mais que apareça como
sólido e monolítico; o mundo deve e pode ser refeito, por mais que as elites
digam que é o melhor dos mundos possíveis. Um outro mundo é possível, sim!
Aqui a oração expressa a força da utopia e da imaginação
profética. Não se trata de uma simples ideologia, de uma força mecânica e mensurável,
nem de coisa do outro mundo, mas de teimosia utópica. A oração é o suspiro
vital no qual os oprimidos clamam e refazem as forças. E o perdão recíproco é
exatamente uma alternativa ao templo: Deus dispensa o templo, e prefere habitar
na fraternidade.
Meditação:
· Preste bem a atenção
nas imagens da figueira e da montanha, e procure perceber como ambas simbolizam
o templo (esterilidade e estabilidade)
· Você crê realmente que
a oração tem a força que Jesus lhe atribui no final deste episódio? Como você compreende
isso?
· Você concorda que um
templo ou um sistema religioso construído e mantido em nome de Deus pode ser
uma negação de Deus?
· Você acredita que a
oração e a utopia têm força para mudar o que parece imutável, tornar possível
um outro mundo?
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