quinta-feira, 8 de junho de 2023

O Evangelho de cada dia (12) - 09.06.2023

IX Semana do Tempo Comum | Sexta-feira | Marcos 12,35-37

(09/06/2023)

Jesus continua no espaço do templo, centro ideológico, político e religioso do judaísmo daquele tempo. O texto de ontem terminava demonstrando que Jesus havia vencido todos os opositores: expulsou os comerciantes, não caiu nas ciladas dos fariseus e saduceus, questionou a legitimidade dos chefes, assumiu seu papel de mestre, enfim: amarrou os “homens fortes”, deslegitimou sua ideologia e reconquistou sua casa.

Na cena de hoje, Jesus volta a investir contra os escribas ou mestres da lei, enfrentando sem “panos quentes” a ideologia messiânica triunfalista e nacionalista que eles veiculavam e alcançara grande aceitação popular. “Como é que os mestres da lei dizem que o Messias é filho de Davi? Como é que ele pode ser seu filho?” É o confronto claro e direto entre o projeto do Reino de Deus e o ensinamento dos mestres da lei, entre o mundo solidário e inclusivo proposto por Jesus e a esperança da restauração da dinastia política do rei Davi.

Está bem claro que aqui Jesus não está interessado em discutir sua genealogia (se é, e como é descendente de Davi), mas a ideologia dos mestres da lei. Quem propaga o messianismo monárquico acaba legitimando o templo e suas práticas de extorsão e discriminação, assim como o Estado teocrático que nele tem sua validação e sua sustentação. Definitivamente, Jesus toma distância dessa ideologia e nega seus vínculos com o messianismo identificado com a monarquia. O Messias não deve nada a ninguém, é anterior e superior a Davi e sua dinastia.

Talvez isso nos traga um certo desconforto, pois estamos acostumados a afirmar (nos hinos, na catequese, nas pregações) que Jesus é filho e descendente de Davi. Que isso não seja problema! O que precisamos é distanciar-nos de Davi enquanto autoridade política e voltar às suas origens, ao filho discriminado pelo pai e pelos irmãos, ao organizador e líder de um bando de marginalizados, tratado como bandido perigoso pelo rei Saul. Mas é importante evitar todo e qualquer sinal de adesão a ideologias políticas e religiosas eivadas de autoritarismo, nacionalismo, totalitarismo e exclusivismo que gravitam em torno do seu nome. É isso que o texto ensina.

 

Meditação:

·    Situe-se no interior da cena, no templo, diante de Jesus e dos escribas que pregavam um messianismo com caraterísticas monárquicas

·    Perceba a novidade corajosa da proposta de Jesus: ele encarna um messianismo despojado, compassivo, inclusivo e solidário

·    Será que a cultura republicana e democrática já conseguiu eliminar da nossa imaginação a visão de um Jesus coroado como um rei?

·    Em que medida alguns templos recentemente construídos e algumas alfaias litúrgicas, que reaparecem depois de as julgarmos superadas e desaparecidas, ainda se inspiram na “majestade” dos reis?

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