IX Semana do Tempo Comum | Quarta-feira | Marcos
12,18-27
(07/05/2023)
Depois da armadilha apresentada a Jesus pelos
fariseus e herodianos, são os saduceus que pegam em armas. Trata-se de um grupo
social composto pela aristocracia sacerdotal e leiga, gente que detém o poder
econômico, político e religioso, e que divulga uma ideologia conservadora e
pragmática. Em geral, são eles que comandam o templo, e, do ponto de vista
político, são aliados romanos.
Não podemos nos enganar pensando que os saduceus
estão interessados em discutir com Jesus a questão da ressurreição dos mortos,
que eles negam. Os saduceus estão interessados na manutenção da posse dos bens
(mediante a descendência) e das tradições e costumes da família patriarcal. Na
história ridícula que eles imaginam e apresentam a Jesus não transparece um
pingo de preocupação com a figura da mulher, ferida pela esterilidade, que eles
consideram uma maldição. O problema deles não é teológico, mas econômico.
Chama a atenção a repetida afirmação de Jesus de
que eles estão enganados, que eles não sabem ler nem interpretar as escrituras.
E isso obviamente não se refere apenas ao tema específico da ressurreição dos
mortos, mas também à leitura ideológica e interesseira das escrituras praticada
por eles para defender o patriarcalismo e o patrimonialismo. Para Jesus, a
ressurreição, que eles negam, é uma afirmação de novas e possíveis relações
igualitárias. Deus se recusa a perpetuar as relações desiguais do patriarcado!
Jesus
a questão e o debate suscitado pelos saduceus para recolocar a libertação e o
respeito à dignidade das pessoas no centro da revelação de Deus e da vida de fé.
Para Jesus, Deus é um Deus dos vivos, dos humanos, dos iguais, do homem e da
mulher que se unem e formam uma só carne, sem predomínio de um sobre o outro. E
tanto o homem como a mulher são chamados a colaborar com a obra criadora e
libertadora de Deus, cuidando da criação e das gerações humanas, deixando em
segundo plano as questões da propriedade e da herança.
No
projeto de Deus não há espaço para o patriarcalismo, nem para o
patrimonialismo. Aquilo que sempre foi não será, precisa ser mudado,
transformado. Quem se propõe a seguir Jesus não pode permanecer refém de
preocupações unicamente morais ou espirituais, mas deve, como ele, engajar-se
em todas as legítimas causas profeticamente emancipadoras. Não há como conjugar
seguimento de Jesus e defesa da supremacia de quem quer que seja.
Meditação:
· Situe-se no interior da
cena, diante de Jesus e em meio aos saduceus e seus indisfarçáveis interesses
· Você consegue perceber
hoje, por detrás dos discursos que defendem a família tradicional e a “pureza”
da fé, interesses ideológicos e projetos de violência?
· Estaríamos nós sendo
tentados a uma identificação cômoda do Evangelho com o patriarcalismo e com o
capitalismo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário