terça-feira, 6 de junho de 2023

O Evangelho diário (11) - 07.06.2023

IX Semana do Tempo Comum | Quarta-feira | Marcos 12,18-27

(07/05/2023)

Depois da armadilha apresentada a Jesus pelos fariseus e herodianos, são os saduceus que pegam em armas. Trata-se de um grupo social composto pela aristocracia sacerdotal e leiga, gente que detém o poder econômico, político e religioso, e que divulga uma ideologia conservadora e pragmática. Em geral, são eles que comandam o templo, e, do ponto de vista político, são aliados romanos.

Não podemos nos enganar pensando que os saduceus estão interessados em discutir com Jesus a questão da ressurreição dos mortos, que eles negam. Os saduceus estão interessados na manutenção da posse dos bens (mediante a descendência) e das tradições e costumes da família patriarcal. Na história ridícula que eles imaginam e apresentam a Jesus não transparece um pingo de preocupação com a figura da mulher, ferida pela esterilidade, que eles consideram uma maldição. O problema deles não é teológico, mas econômico.

Chama a atenção a repetida afirmação de Jesus de que eles estão enganados, que eles não sabem ler nem interpretar as escrituras. E isso obviamente não se refere apenas ao tema específico da ressurreição dos mortos, mas também à leitura ideológica e interesseira das escrituras praticada por eles para defender o patriarcalismo e o patrimonialismo. Para Jesus, a ressurreição, que eles negam, é uma afirmação de novas e possíveis relações igualitárias. Deus se recusa a perpetuar as relações desiguais do patriarcado!

Jesus a questão e o debate suscitado pelos saduceus para recolocar a libertação e o respeito à dignidade das pessoas no centro da revelação de Deus e da vida de fé. Para Jesus, Deus é um Deus dos vivos, dos humanos, dos iguais, do homem e da mulher que se unem e formam uma só carne, sem predomínio de um sobre o outro. E tanto o homem como a mulher são chamados a colaborar com a obra criadora e libertadora de Deus, cuidando da criação e das gerações humanas, deixando em segundo plano as questões da propriedade e da herança.

No projeto de Deus não há espaço para o patriarcalismo, nem para o patrimonialismo. Aquilo que sempre foi não será, precisa ser mudado, transformado. Quem se propõe a seguir Jesus não pode permanecer refém de preocupações unicamente morais ou espirituais, mas deve, como ele, engajar-se em todas as legítimas causas profeticamente emancipadoras. Não há como conjugar seguimento de Jesus e defesa da supremacia de quem quer que seja.

 

Meditação:

·    Situe-se no interior da cena, diante de Jesus e em meio aos saduceus e seus indisfarçáveis interesses

·    Você consegue perceber hoje, por detrás dos discursos que defendem a família tradicional e a “pureza” da fé, interesses ideológicos e projetos de violência?

·    Estaríamos nós sendo tentados a uma identificação cômoda do Evangelho com o patriarcalismo e com o capitalismo?

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