IX Semana do Tempo Comum | Sábado | Marcos 12,38-44
(10/06/2023)
Depois de ter calado seus adversários e
desmascarado a ideologia nacionalista e triunfalista dos que pregavam a
restauração messiânica do império de Davi, Jesus continua por algum tempo no
templo. Ele ensina as multidões e os seus discípulos a respeito da novidade do
Reino de Deus, e se mostra implacável com os mestres ou doutores da Lei. Para
Jesus, eles estão muito longe da novidade ética e religiosa do Reino de Deus
inaugurado por ele.
Jesus começa pedindo ao povo que se cuide dos
doutores da Lei: eles buscam apenas e sempre distinção, status e privilégios,
enquanto que Jesus propõe que ocupemos o lugar do servo e do último. Por causa
da aparência de piedade, os doutores da Lei haviam conseguido o direito legal
de cuidar da herança das viúvas, e eram muito bem pagos para fazer isso.
Entretanto, mesmo sendo pagos, eles acabavam “devorando” os bens delas, fazendo
o contrário do que pedia a própria Lei: proteger os órfãos e as viúvas.
Mas não é apenas isso. O próprio templo, que Jesus
lembra que deve ser sempre um lugar de oração, acaba sendo uma estrutura que espolia
e empobrece ainda mais o povo já ferido e explorado. E Jesus não aceita isso de
modo nenhum. Sentado, diante do cofre das esmolas, ele observa como os ricos propagandeiam
suas ofertas, que são enganosas, e como a viúva é explorada, obrigada a dar mais
que eles, a dar “tudo o que possuía para viver”.
Esta cena não propõe um elogio à “doação forçada”
da viúva, mas um lamento pelo que ela sofre. Se a lemos com atenção e
inteligência, Jesus não compara a esmola dos ricos com a “oferta” que a viúva é
obrigada a dar, que não passa de uma extorsão inaceitável, mas ilustra aos seus
discípulos como é que os doutores da Lei agem para “devorar” as casas das
viúvas. A piedade ostentada pelos escribas é um véu que mal esconde oportunismo
e exploração.
Esta
passagem não quer apresentar um exemplo de generosidade, e não deve ser
apresentada como motivação para o dízimo. Ela fazer ressoar um lamento, o
clamor dos pobres, explorados até em nome de Deus. Jesus nunca poupou críticas
e denúncias contra o templo e seus controladores. É por isso que, depois de
chamar os discípulos e criticar a exploração travestida de piedade, ele deixa o
templo definitivamente.
Meditação:
· Situe-se dentro da
cena, no templo, com Jesus e os escribas, e observe, com Jesus, a descarada ostentação
dos ricos e piedosos, que com suas migalhas disfarçam e legitimam o que
acumulam injustamente
· Perceba a coragem de
Jesus ao desmascarar os doutores da lei, pois eles dão legitimidade teológica à
exploração dos pobres: “Tomai cuidado com eles!”
· Fique atento/a aos
sentimentos e pensamentos que esta palavra e esta atitude de Jesus desperta em
você
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