quarta-feira, 7 de junho de 2023

Solenidade de Corpus Christi (Pagola) - 08.06.2023

PÃO E VINHO

Empobreceríamos o conteúdo da Eucaristia se esquecêssemos que nela encontramos o alimento que nutre a nossa existência. É verdade que a Eucaristia é uma refeição partilhada por irmãos que se sentem unidos numa mesma fé. Mas, embora esta comunhão fraterna seja muito importante, não podemos esquecer a união com Cristo, que nos é dada como alimento.

Algo semelhante deve ser dito da presença de Cristo na Eucaristia. Sublinhou-se, e com razão, esta presença sacramental de Cristo no pão e no vinho, mas Cristo não está aí simplesmente por estar. Ele está presente oferecendo-se como alimento que sustenta as nossas vidas.

Se quisermos redescobrir o sentido profundo da Eucaristia, devemos recuperar o simbolismo básico do pão e do vinho. Para subsistir, o homem necessita comer e beber. E este simples fato, por vezes tão esquecido em sociedades satisfeitas com o bem-estar, revela que o ser humano não se fundamenta a si mesmo, mas vive recebendo misteriosamente a vida.

A sociedade contemporânea está perdendo a capacidade de descobrir o sentido dos gestos básicos do ser humano. No entanto, são estes gestos simples e originais que nos devolvem a nossa verdadeira condição de criaturas, que recebem a vida como presente de Deus.

Concretamente, o pão é o símbolo eloquente que condensa em si mesmo tudo o que significa para a pessoa a comida e o alimento. Por isso o pão tem sido venerado em muitas culturas de uma forma quase sagrada. Muitos de nós ainda recordamos como as nossas mães faziam beijá-lo quando, por descuido, algum pedaço caia ao chão.

Mas, desde que nos chega da terra até à mesa, o pão precisa ser trabalhado pelos que semeiam, adubam a terra, cortam e recolhem as espigas, moem o trigo, cozinham a farinha. O vinho precisa de um processo ainda mais complexo. Por isso, quando se apresenta o pão e o vinho sobre o altar, se diz que são «fruto da terra e do trabalho do homem». Por um lado, são «fruto da terra» e recordam-nos que o mundo e nós mesmos somos um dom que surgiu das mãos do Criador. Por outro lado, são «fruto do trabalho» e significam o que nós fazemos e construímos com o nosso esforço solidário.

Esse pão e esse vinho converter-se-ão para os crentes em «pão da vida» e «cálice da salvação». Aí, encontramos, os cristãos, esse «verdadeiro alimento» e a «verdadeira bebida» de que Jesus nos fala. Uma comida e uma bebida que alimentam a nossa vida na terra, nos convidam a trabalhar e melhorá-la e nos sustentam enquanto caminhamos em direção à vida eterna.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

Nenhum comentário: