IX Semana do
Tempo Comum | Segunda-feira | Marcos 12,1-12
(05/06/2023)
Este texto do evangelho segundo Marcos está situado
no contexto da presença tensa e provocativa de Jesus em Jerusalém, para onde
peregrinou lúcida e decididamente. Ele havia sido recebido com júbilo pelos
moradores da periferia da capital, entrado no templo e expulsado os
comerciantes que exploravam os peregrinos. A classe dirigente pedira
explicações a Jesus, mas era apenas um ardil para ganhar tempo, pois haviam
decidido acabar com ele (cf. Mc 11,18).
Então, Jesus retoma o debate com os chefes dos
sacerdotes, os mestres da lei e os anciãos – os grupos que detinham o controle
religioso, ideológico, político e econômico a partir do templo – recorrendo ao
uso de parábolas. Longe de ser apenas uma simplificação da linguagem e uma
comunicação próxima à experiência do povo simples, as parábolas são uma espécie
de armadilha para pegar o interlocutor desprevenido, no contrapé como dizemos
hoje.
A imagem da vinha é muito comum nos escritos do
antigo testamento, especialmente à literatura profética. O povo de Israel é
frequentemente comparado a uma vinha plantada com carinho e atenção, cercada e
protegida pela Lei. Alguns profetas denunciam a vinha, que não produzi frutos
bons (cf. Is 5,1-7); outros denunciam os agricultores que deveriam tomar conta
dela (cf. Is 5,8-24). Por isso, anunciam que Deus pode tanto destruir a vinha
como tomá-la daqueles a quem confiou o cultivo e o cuidado.
Na parábola, fica evidenciada a crescente violência
com que são repelidos os enviados do dono da vinha. Eles não só administram mal
a vinha que não lhes pertence, como conspiram para se apossar dela. Por isso
compreende-se a violência reativa do dono da vinha: destrói os vinhateiros e
entrega sua vinha a outros. Os interlocutores de Jesus não demoram a
compreender que Jesus se refere a eles. A alegoria política e o discurso
subversivo de Jesus provocam na classe dirigente a terceira decisão de
prendê-lo.
Deixando
de lado a linguagem das parábolas, Jesus cita o Salmo 118(117), e o aplica a si
mesmo (e não a Davi, como era usual): “A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se a pedra angular”. Ele é o filho que os vinhateiros querem matar para
assumir o domínio absoluto sobre o povo. Não esqueçamos que esse é um dos textos
mais citados no novo testamento, tornando-se uma chave de leitura tanto para o
destino de Jesus quanto dos seus seguidores.
Meditação:
· Situe-se no templo de
Jerusalém, próximo a Jesus e à elite dirigente, e observe a liberdade e a
coragem com que Jesus a enfrente e desmascara
· Se a parábola é de fato
uma alegoria política, quais as luzes que ela oferece para uma apreciação das
classes dirigentes do nosso país?
· Será que as autoridades
da Igreja estão realmente imunes à tentação de se apossar da vinha que não lhes
pertence?
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