Tempo Comum | Solenidade de Corpus Christi | João 6,51-58
Nos versículos da catequese de Jesus
sobre o Pão da Vida propostos para a Solenidade de Corpus Christi, o diálogo de
Jesus se desloca das multidões (interlocutores dos versos anteriores) para os
líderes do judaísmo. No centro, está a questão do caminho que para a vida plena
e abundante: esse caminho seria a Lei (o ditado de Deus) ou seria a adesão à
pessoa ou a humanidade de Jesus (o enviado do Pai) e o prosseguimento da sua
prática?
Para o judaísmo, Lei era conjunto de
valores e práticas (atitudes, mandamentos, proibições) que garantiam que uma
pessoa chegasse a ser e fosse considerada boa, ou seja, os meios que asseguravam
a salvação. É o que hoje chamamos de ideologia: o conjunto de fins e meios,
valores e práticas que nos tornam “pessoas de bem”, pessoas pacíficas: viver
“cada um para si”; ensinar que “quem pode mais chora menos”; afirmar que “direitos
humanos são para os humanos direitos”; etc.
Os líderes do judaísmo consideraram
incompreensível e inaceitável que Jesus, em sua concretude e fragilidade humana
(carne e sangue) pudesse ser esse caminho. Para eles, não existia outro caminho
senão o poder, a separação, a supremacia de uns sobre outros, a distância em
relação àqueles “que não rezam pela sua cartilha”, enfim, não poderia haver
outro caminho que não fosse a Lei. O que Jesus fizera alimentando uma multidão
faminta carecia de importância.
Jesus insiste que não há outro caminho
para a vida abundante que não seja a assimilação da compaixão que nos faz
irmãos e servidores/as da humanidade, a ponto de dar a própria vida. Isso fica
claro na expressão “carne e sangue”, que Jesus repete cinco vezes nesse breve
texto. Na sua paixão, antecipada simbolicamente na ceia e no lava-pés, ele dá
seu corpo e sangue e se torna pão para a vida do mundo. Ele é o pão que desce
do céu e dá vida ao mundo.
Assim,
Jesus de Nazaré, o Enviado do Pai para dar vida ao mundo, o Filho do Homem que
encarna a compaixão de Deus, supera a Lei. O amor incondicional vivido por ele
e assimilado pelos discípulos o que dá vida ao mundo. Quem come deste pão,
viverá eternamente. É disso que a Eucaristia, corpo e sangue de Jesus, é
sacramento! É diante desse mistério que nossos joelhos se dobram e nossos
lábios cantam.
Meditação:
· Acolha e deixe ressoar
em você o ensino de Jesus em relação à Lei e aos costumes judaicos e o caminho
para a vida plena
· Que luzes esta
catequese de Jesus nos oferece para uma correta compreensão do mistério da
presença de Jesus na Eucaristia?
· O que fazer para não
separar a Eucaristia da ação concreta de Jesus e da missão de reconciliar e
fraternizar o mundo?
· Como passar da ideia de
uma “hóstia branca”, presa no sacrário ou exposta no ostensório, a um Jesus
preso e confinado nas casas, nos presídios, nas periferias?
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