VIII Semana do
Tempo Comum | Sábado | Marcos 11,27-33
(03/06/2023)
Vimos que as diversas cenas do
evangelho de ontem são uma contundente crítica ao templo como centro simbólico
da ordem social judaica. Na sua ação mais direta e provocativa, Jesus expulsa
os vendedores, derruba as mesas dos cambistas, e proíbe qualquer movimento e
ensina. Na prática, Jesus denuncia a rapina e o roubo que o templo encobre e
patrocina, e paralisa suas atividades. É como se declarasse a interdição dos
negócios.
Para Jesus, o sistema do templo deve
ser mudado, por mais que apareça como sólido e piedoso; o mundo pode ser
refeito, por mais que as elites digam que é o melhor dos mundos possíveis. Por
isso, entendendo muito bem onde Jesus quer chegar, as autoridades do templo
decidem matar Jesus. Mas nem isso o intimida, e ele volta ao templo. A
consciência de que foi enviado exatamente para isso o mantém firme, com os
olhos fixos na vontade do Pai e na defesa da vida.
Jesus é imediatamente interceptado e
questionado pela classe dirigente e controladora do templo. Sumos sacerdote,
escribas e anciãos são a máxima autoridade de Deus na terra, e controlam o
Sinédrio, conselho que julga as questões religiosas e políticas. Como eles se
entendem a autoridade máxima, questionam a autoridade de Jesus para criticar
aquilo que eles autorizam e fazem. Eles já haviam suspeitado de que Jesus tinha
pacto com o diabo.
A pergunta que as autoridades do
templo dirigem a Jesus não tem sequer uma pitada de boa vontade, de desejo de
saber. Querem apenas armar uma arapuca. E Jesus também não responde, senão
apresentando outra pergunta como réplica. Eles se recusaram a responder, mas o
evangelista desnuda os motivos do silêncio: por mais que se mostrem poderosos,
eles têm medo do povo, e evitam se auto incriminar pela omissão frente à morte
de João Batista.
Jesus não aposta nenhuma ficha neste diálogo estéril e nessa
discussão sobre suas credenciais. E é suficientemente perspicaz para não
produzir a prova que eles esperam para condená-lo. Não adianta argumentar para quem
decidiu não entender. Até porque Jesus não reconhecia a eles nenhuma
autoridade, mas apenas hipocrisia, rapinagem e exploração dos mais vulneráveis
e humildes em nome da religião. E fala, ensina, critica, denuncia e age em nome
do Deus vivo, do Deus que se caracteriza pela compaixão e pela intervenção
libertadora.
Meditação:
·
Você
consegue perceber como Jesus assume uma postura de relativização do templo, das
autoridades e de todas as instituições oficiais?
·
Por
que os cristãos perdemos ou menosprezamos a dimensão profética e libertária da
nossa fé, que relativiza instituições e autoridades?
·
Qual
poderia ser a reação dos cristãos de hoje diante de uma liderança religiosa que
respondesse como Jesus aos questionamentos oficiais?
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