quarta-feira, 29 de maio de 2024

A comunhão no Corpo de Cristo nos vincula à esperança de novos céus e nova terra

A comunhão no Corpo de Cristo nos vincula à esperança de novos céus e nova terra | 366 | 30.05.24 | Mc 14,12-26

Uma escuta atenta do evangelho segundo Marcos pode nos ajudar a entender que Jesus e seus discípulos não celebraram a páscoa conforme as prescrições do judaísmo da época. No texto de hoje, ao invés de descrever os pormenores da ceia pascal, Marcos descreve o clima de tristeza e apreensão frente às traições que se insinuavam entre os discípulos mais próximos de Jesus.

Jesus cumpre o tradicional gesto doméstico e amistoso de tomar o alimento e a bebida, de proferir a oração de bênção e de agradecimento e servi-los aos comensais, mas introduz aspectos que divergem das prescrições rituais do judaísmo: não serve o cordeiro; não relaciona o pão e o vinho com o evento do êxodo. Jesus vincula o gesto de repartir o pão e o vinho com sua história pessoal, com a caminhada já cumprida e com os passos que estava para dar.

Repartindo o pão, Jesus declara “isto é o meu corpo”, e, passando o cálice de vinho, anuncia “este é o meu sangue da nova Aliança”. Fica muito claro que ele não vincula a ceia pascal que está a celebrar com Moisés ou com a Aliança feita no passado, mas consigo mesmo e com uma Aliança nova. E, surpreendentemente, ele silencia em relação ao cordeiro. O cordeiro pascal é o próprio Jesus!

Há ainda três outros aspectos interessantes. O primeiro, é que a comunidade dos/as discípulos/as parece ser muito discreta, como se procurasse se esconder para evitar riscos. O segundo, é a senha que Jesus dá para que os/as discípulos/as encontrem um lugar seguro para celebrar a páscoa: um homem carregando uma bilha de água. Quem habitualmente carregava água eram as mulheres, o que pode estar apontando para uma comunidade na qual a presença de mulheres era determinante.

terceiro aspecto é fundamental para a compreensão da Eucaristia cristã: a ceia pascal de Jesus com seus discípulos não termina em festa, mas em jejum! Jesus diz que não beberá mais vinho até que chegue o “vinho novo” do reino de Deus. Há um vínculo indissociável entre Eucaristia e futuro, entre História e a Utopia. A Eucaristia é profecia e antecipação simbólica do futuro, do Reino de Deus, de um novo mundo possível, comparável ao vinho bom e abundante da festa dos pequenos.

 

Meditação:

·      Situe-se no interior da cena, com Jesus e seus discípulos, e perceba o clima difícil que envolve a todos

·      Com que disposição você participa da Eucaristia, que repropõe a ceia de Jesus e nos convida a repetir sua doação em memória dele?

·      Seria possível participar da mesa da eucaristia e, ao mesmo tempo, mostrar-se indiferente ás necessidades dos irmãos e irmãs?

·      Como se expressa hoje o risco de participar da Eucaristia sem viver a proposta de Jesus, e até trair a confiança que ele deposita em nós?

·      Como passar da comunhão sacramental com Jesus à comunhão com as pessoas, com as demais Igrejas, com os pobres e com todas as criaturas?

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