A comunhão no Corpo de Cristo nos vincula à esperança de novos céus e
nova terra | 366 | 30.05.24 | Mc 14,12-26
Uma
escuta atenta do evangelho segundo Marcos pode nos ajudar a entender que Jesus
e seus discípulos não celebraram
a páscoa conforme as prescrições do judaísmo da época. No texto de hoje,
ao invés de descrever os pormenores da ceia pascal, Marcos descreve o clima de
tristeza e apreensão frente às traições que se insinuavam entre os discípulos
mais próximos de Jesus.
Jesus
cumpre o tradicional gesto doméstico e amistoso de tomar o alimento e a bebida,
de proferir a oração de bênção e de agradecimento e servi-los aos comensais,
mas introduz aspectos que
divergem das prescrições rituais do judaísmo: não serve o cordeiro; não
relaciona o pão e o vinho com o evento do êxodo. Jesus vincula o gesto de
repartir o pão e o vinho com sua história pessoal, com a caminhada já cumprida
e com os passos que estava para dar.
Repartindo
o pão, Jesus declara “isto é o meu corpo”,
e, passando o cálice de vinho, anuncia “este é o meu sangue da nova Aliança”. Fica muito claro que ele não
vincula a ceia pascal que está a celebrar com Moisés ou com a Aliança feita no
passado, mas consigo mesmo e com
uma Aliança nova. E, surpreendentemente, ele silencia em relação ao
cordeiro. O cordeiro pascal é o próprio Jesus!
Há
ainda três outros aspectos
interessantes. O primeiro, é
que a comunidade dos/as discípulos/as parece ser muito discreta, como se
procurasse se esconder para evitar riscos. O segundo, é a senha que Jesus dá para que os/as
discípulos/as encontrem um lugar seguro para celebrar a páscoa: um homem
carregando uma bilha de água. Quem habitualmente carregava água eram as
mulheres, o que pode estar apontando para uma comunidade na qual a presença de
mulheres era determinante.
O terceiro aspecto
é fundamental para a compreensão da Eucaristia cristã: a ceia pascal de Jesus
com seus discípulos não termina em
festa, mas em jejum! Jesus diz que não beberá mais vinho até que chegue
o “vinho novo” do reino de Deus.
Há um vínculo indissociável entre
Eucaristia e futuro, entre História e a Utopia. A Eucaristia é profecia e antecipação simbólica do futuro, do
Reino de Deus, de um novo mundo possível, comparável ao vinho bom e abundante
da festa dos pequenos.
Meditação:
· Situe-se no interior da cena, com Jesus e seus
discípulos, e perceba o clima difícil que envolve a todos
· Com que disposição você participa da
Eucaristia, que repropõe a ceia de Jesus e nos convida a repetir sua doação em
memória dele?
· Seria possível participar da mesa da
eucaristia e, ao mesmo tempo, mostrar-se indiferente ás necessidades dos irmãos
e irmãs?
· Como se expressa hoje o risco de participar da
Eucaristia sem viver a proposta de Jesus, e até trair a confiança que ele
deposita em nós?
· Como passar da comunhão sacramental com Jesus
à comunhão com as pessoas, com as demais Igrejas, com os pobres e com todas as
criaturas?
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