quarta-feira, 29 de maio de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - Corpus Christi (30.05.2024)

A EXPERIÊNCIA DECISIVA

Como é natural, a celebração da missa foi mudando ao longo dos séculos. Em cada época, os cristãos destacaram alguns aspectos e negligenciaram outros. A missa serviu de marco para celebrar coroações de reis e papas, prestar homenagens ou comemorar vitórias de guerra. Os músicos converteram-na em concerto. Os povos integraram-na nas suas devoções e costumes religiosos...

Depois de vinte séculos, pode ser necessário recordar alguns traços essenciais da Última Ceia do Senhor, tal como era recordada e vivida pelas primeiras gerações cristãs. No pano de fundo daquela ceia há uma convicção firme: os seus seguidores não ficarão órfãos. A morte de Jesus não quebrará a comunhão com ele. Ninguém deve sentir o vazio da sua ausência. Os seus discípulos não ficam sozinhos, à mercê das vicissitudes da história. No centro de toda a comunidade cristã que celebra a Eucaristia está Cristo vivo e operante. Aqui está o segredo de sua força.

Dele se alimenta a fé dos seus seguidores. Não basta assistir a esta ceia. Os discípulos são convidados a «comer». Para alimentar a nossa adesão a Jesus Cristo necessitamos de reunir-nos para escutar as suas palavras e introduzi-las no nosso coração; necessitamos de aproximar-nos a comungar com Ele, identificando-nos com o seu estilo de vida. Nenhuma outra experiência nos pode oferecer alimento mais sólido.

Não devemos esquecer que «comungar» com Jesus é comungar com alguém que viveu e morreu «entregando-se» totalmente aos outros. É isso que Jesus insiste na Ceia. O seu corpo é um «corpo dado» e o seu sangue é um «sangue derramado» para a salvação de todos. É uma contradição aproximar-nos da «comunhão» com Jesus resistindo à preocupação com algo que não seja o nosso próprio interesse.

Não há nada mais central e decisivo para os seguidores de Jesus do que a celebração desta Ceia do Senhor. Por isso devemos cuida-la tanto. Bem celebrada, a Eucaristia molda-nos, une-nos a Jesus, alimenta-nos com a sua vida, familiariza-nos com o Evangelho, convida-nos a viver numa atitude de serviço fraterno e sustenta-nos na esperança do reencontro definitivo com Ele.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez


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