354 | Ano B | Solenidade de Pentecostes | João 20,19-23
19/05/2024
Estamos habituados a situar o
acontecimento de pentecostes cristão cinquenta dias após a ressurreição de
Jesus. Segundo o evangelho de João, este evento que mudou radicalmente a
atitude dos discípulos teria acontecido na noite que se seguiu à ressurreição.
A liturgia cristã une estas duas perspectivas, entendendo a páscoa como um
acontecimento processual que inicia na ressurreição de Jesus e culmina no envio
do Espírito Santo.
O trecho do evangelho de hoje está
situado exatamente no início desse movimento progressivo. Quando tudo parecia
definitivamente sepultado, acabado e imutável (“fechado”), Jesus irrompe em
meio aos discípulos aterrados de medo e instaura a paz. É este encontro e esta
palavra, e não apenas o sepulcro vazio, que provoca a mudança que todos/as
conhecemos. Jesus não está fora, acima ou indiferente a eles, mas no meio
deles.
A harmonia plena e o bem-estar total
que Jesus deseja e transparece na saudação não é uma palavra vazia, nem uma
ordem penosa: é um dinamismo que toma conta dos discípulos mediante o sopro de
Jesus. Trata-se do mesmo sopro do Criador, quando moldou o ser humano do pó da
terra. Sem esse sopro, o ser humano e o discípulo não passa de pó indefinido e
de barro informe.
Entretanto, para não eixar dúvidas e
não induzir à confusão, soprando, Jesus fala, explicita o significado do seu
gesto. Trata-se do dom do Espírito Santo, do dom da fortaleza e fidelidade
missionária: “Como o pai me enviou, também vos envio”. Jesus não institui um
ministério ou sacramento, nem constituiu um colegiado, mas convoca e envia em
missão. Com a força do Espírito, a paz experimentada no cenáculo não pode reter
ninguém.
A quem e a fazer o quê são enviados os
discípulos? Como Jesus, são enviados aos pecadores/as, às ovelhas perdidas, às
vítimas das relações violentas e agressivas, para abrir-lhes as portas da
graça, para acolhê-los como irmãos e filhos/as amados/as do Pai. É isso que
significa “tirar (ou carregar) o pecado do mundo”. O Espírito não nos torna
simples confessores, mas pessoas novas e solidárias, capazes de clamar por
socorre e de estender as mãos com amor.
Meditação:
· Situe-se no cenáculo fechado, entre os discípulos medrosos e
envergonhados pela deserção diante da prisão de Jesus
· Acolha e deixe ressoar as palavras de Jesus, deixe que o Sopro de
Deus insufle vida em sua vida, missão em sua acomodação, unidade na diversidade
· Acolha confiante e agradecido/a o mandato missionário de Jesus:
Assim como o Pai me enviou, eu envio você!
· Perceba com eles a presença inesperada, misteriosa e pacificadora de
Jesus crucificado e ressuscitado
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