quinta-feira, 2 de maio de 2024

A luz do Evangelho em nossa vida (338)

338 | Ano B | festa de São Filipe e São Tiago | João 14,6-14

03/05/2024

Esta passagem faz parte da comovida catequese que Jesus desenvolve logo depois da ceia e do lava-pés, e ilumina a festa litúrgica dos apóstolos São Filipe e São Tiago. Filipe pede que Jesus lhes mostre o Pai. “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”! É um pedido quase desesperado diante do desconcerto de um Messias que se inclina diante do Homem para lavar seus pés e dar sua vida.

Jesus já havia deixado claro que é nele que temos acesso ao Pai, pois ele é o caminho, a verdade e a vida. Por isso, responde quase que lamentando a dificuldade de Filipe e dos demais discípulos em ver nele o rosto do Pai: “Se me conheceis, conhecereis também o meu Pai. Há tanto tempo estou convosco e não me conheces? Quem me vê, vê o Pai. Crede, ao menos, por causa destas obras...”

O problema de Filipe é o problema da Igreja, o nosso problema. Custa-nos aceitar que o Deus que revestimos de onipotência e colocamos no altíssimo nos é dado a conhecer nas ações concretas de Jesus de Nazaré. Não é que queiramos ver mais; queremos ver outras coisas, menos concretas, mais abstratas e passíveis de manipulação; coisas mais doutrinais e menos interpeladoras, como é lavar é os pés dos/as irmã/os, alimentar os famintos, resgatar a cidadania de quem está à margem e dar a vida sem reservas.

O problema continua, e se torna ainda mais sério, quando e na medida em que queremos dar a impressão de que conhecemos Jesus, e fazemos o possível para impor a imagem que fazemos dele a quem crê diversamente. A tentação da qual não nos livramos é a de fazer Jesus vestir o figurino que de antemão preparamos para ele, de obrigá-lo a fazer aquilo que decidimos em nossas faculdades de teologia e gabinetes doutrinais.

Imagino Jesus dirigindo-se hoje a nós, e dizendo em tom de advertência: “Há tanto tempo estou com vocês e vocês não me conhecem!” Crer nele é fazer aquilo que ele faz, prosseguir sua ação libertadora, entrar no caminho da compaixão, armar a tenda dos nossos sonhos e projetos no chão da humanidade ferida e sedenta de vida. O resto é culto às vaidades que passam, serviço aos poderes que oprimem, fuga das responsabilidades que podem nos fazer humanamente maduros/as.

 Meditação:

·    Recomponha na memória os gestos as palavras desse diálogo de Jesus com os seus discípulos

·    Será que também nós partilhamos da cegueira de Filipe, e não conseguimos reconhecer Deus naquilo que Jesus faz e pede?

·    O que o processo de crescimento e renovação do apóstolo Filipe e do discípulo tardio Tiago nos ensinam hoje?

Como podemos nós, em nosso tempo, recriar esta ação de Jesus, inclusive com maior alcance e eficácia? 

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