sábado, 18 de maio de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - Pentecostes (19.05.2024)

RESPIRO VITAL

Os hebreus tinham uma ideia muito bela e real do mistério da vida. Assim descreve a criação do homem, um velho relato, muitos séculos anteriores a Cristo: «O Senhor Deus moldou o homem, do barro da terra. Então soprou nas suas narinas, o sopro da vida. E assim o homem se tornou um ser vivente».

É o que diz a experiência. O ser humano é barro. Em qualquer momento pode desmoronar, desfazer-se. Como caminhar com pés de barro? Como olhar a vida com olhos de barro? Como amar com coração de barro? No entanto, este barro vive! No seu interior há um sopro que o faz viver. É o Sopro de Deus. Seu Espírito vivificador.

No final do seu evangelho, João descreveu uma cena grandiosa. É o momento culminante do Jesus ressuscitado. Segundo o seu relato, o nascimento da Igreja é uma «nova criação». Ao enviar os seus discípulos, Jesus «sopra o seu alento sobre eles e diz-lhes: Recebei o Espírito Santo».

Sem o Espírito de Jesus, a Igreja é barro sem vida: uma comunidade incapaz de introduzir esperança, conforto e vida no mundo. Pode pronunciar palavras sublimes sem comunicar o Sopro de Deus aos corações. Pode falar com confiança e firmeza sem afiançar a fé das pessoas. Onde irá conseguir Esperança se não for do Sopro de Jesus? Como irá defender-se da morte sem o Espírito do Ressuscitado?

Sem o Espírito criador de Jesus podemos acabar por viver numa Igreja que se fecha a toda a renovação: não se permite sonhar com grandes novidades; o mais seguro é uma religião estática e controlada, que mude o mínimo possível; o que recebemos de outros tempos é também o melhor para o nosso; as nossas gerações devem celebrar a sua fé vacilante com a linguagem e os rituais de muitos séculos atrás. Os caminhos já estão marcados e definidos. Não há nem que perguntar-se porquê.

Como não gritar bem alto: «Vem, Espírito Santo! Vem à tua Igreja. Vem libertar-nos do medo, da mediocridade e da falta de fé na tua força criadora?» Não devemos olhar para os outros. Temos de abrir, cada um, o seu próprio coração.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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