No caminho de Jesus, os primeiros lugares são dos servidores mais
humildes | 364 | 29.05.24 | Mc 10,32-45
Todas as cenas e palavras do capítulo
10 de Marcos são intensas e densas. Depois cena do homem rico que desiste de
seguir Jesus, do ensino sobre o obstáculo da riqueza e da catequese sobre os
frutos do despojamento, a reação dos discípulos é confusa e ambivalente:
admiração, medo, ambição, competição e indignação. Então Jesus retoma seu
ensino. No centro da cena de hoje está o modelo de liderança ensinado por Jesus
e a luta pelo poder que envolve a maioria dos discípulos.
Enquanto Jesus fala abertamente das
consequências da sua fidelidade ao Reino de Deus e ao Deus do Reino – traição,
julgamento, tortura, execução, exclusão, morte e ressurreição – os discípulos
se envolvem em disputas nada fraternas e vergonhosas pelos lugares de honra e
pela herança da liderança de Jesus. Parece que Tiago e João imaginam que Jesus está
prestes a dar uma espécie de “golpe messiânico”, e que a previsível e aparente
derrota da cruz será substituída por uma estrondosa vitória. Por isso,
ambicionam privilégios.
É outra a lógica do Reino de Deus,
vivida e ensinada por Jesus. Ele não transfere sua liderança a uma espécie de “dinastia”
ou “delegação”. O poder ambicionado e disputado por Tiago e João – e por todos
os outros discípulos, que ficam indignados por eles terem saído à frente deles!
– é exatamente aquele que impõe a Jesus a traição, o julgamento, a tortura e a
execução. A liderança e a honra de Jesus estão no serviço, em ser o último.
Jesus representa a liderança exatamente contrária ao poder exercido pelos
administradores coloniais impostos por Roma.
A
atitude dos dois irmãos denuncia que, na verdade, eles não haviam abandonado “tudo
por Jesus”. Eles continuavam acorrentados aos ideais de poder nos moldes
colonialistas. Eles não se envergonham de dizer que estão preparados para
enfrentar as oposições como Jesus, mas a resposta de Jesus a eles é cheia de
ironia. Eles estão cegos pela ambição e surdos à proposta alternativa de Jesus.
Não sabem ou não têm noção do que estão ambicionando e pedindo. Depois de tudo,
os discípulos continuam se inspirando nos “grandes” e nos “chefes” que oprimem
e tiranizam, e não conseguem entender que Jesus encarna uma liderança
alternativa e não violenta.
Meditação:
· Recomponha a cena, relendo as sucessivas cenas,
gesto por gesto, palavra por palavra, percebendo os sentimentos contraditórios
· Observe bem a reação dos discípulos (o que dizem
e o que fazem), especialmente dos dois filhos de Zebedeu (Tiago e João)
· Será que também nós não “fazemos menos” da
traição, condenação, tortura e execução de Jesus, como se fossem disfarces da
sua vitória?
· Será que estamos tirando as consequências da
afirmação de que Jesus não veio para ser servido mas para servir?
· Como as pessoas da Igreja exercem a liderança e
os ministérios: inspirados no “Filho do Homem” ou nos “chefes” e nos “grandes”?
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